Ideia de que homem não chora pode prejudicar o cuidado com a saúde

Especialista avalia que controle de sentimentos dos meninos pode influenciar qualidade de vida no futuro


30 de novembro de 2018


Especialista avalia que controle de sentimentos dos meninos pode influenciar qualidade de vida no futuro

*Marcos Paulo Rodrigues

Desde a primeira infância, a criação entre meninos e meninas se diferencia, o que faz com que o homem muitas vezes seja reprimido de expressar seus sentimentos. Essa cultura dificulta o diagnóstico de doenças durante toda a vida. Um exemplo disso é a depressão e a dificuldade que os homens têm de reconhecer esse problema por conta própria e até receber o diagnóstico, já que a doença é associada ao choro e à tristeza. O resultado é um número quase quatro vezes maior de tentativas de suicídios da população masculina, se comparado com a feminina, segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV).

Foto: Pixabay / CC0 Creative Commons

Paulo Ceccarelli é psicólogo, psicanalista, professor e orientador de pesquisas do Mestrado de Promoção de Saúde e Prevenção  da Violência, da Faculdade de Medicina da UFMG. Segundo ele, o homem passa por uma violência constante que indica como deve ser sua postura. “A gente cresce ouvindo que menino não pode chorar, menino não pode fazer aquilo, isso não é coisa de menino. Faz parte do nosso imaginário que o homem seja essa pessoa que não adoece, sempre forte, que dá conta de tudo, que não pode falar não. Então, o homem sofre essa violência constantemente”, explica.

Relacionado a essa ideia de fortaleza do homem, outra questão que pode trazer problemas é a falta de procura de acompanhamento médico. Não é à toa que 30% dos homens não têm o hábito de ir ao médico, segundo levantamento do Ministério da Saúde. De acordo com o psicólogo Paulo Ceccarelli, o trato com a procura de médicos é diferente entre homens e mulheres, por exemplo, nas rotinas de trabalho. “A mulher quando deixa de ir ao trabalho não é questionada, enquanto o homem que diz que não vai trabalhar, pois vai ao urologista, por exemplo, costuma ser questionado, o que pode ser considerado um tipo de violência, uma violência simbólica e não física, de fato”, e completa: “A saúde do homem passa por violências nesse sentido, não é violento, porque estão te violentando e você não pode fazer alguma coisa. A cultura determina padrões de comportamento, chamados de estereótipos de gênero, que é de uma violência enorme, e faz parte dessa violência o não cuidado”.

Como mudar esse cenário?

A diminuição dessa violência e de todos os possíveis resultados que ela pode trazer passa pela abertura a diálogos em toda a sociedade e a proposição de ações educativas.

Segundo Ceccarelli, é como se existissem regras que determinassem que a mulher tem que ser dona de casa e que o menino não pode chorar. “Onde está escrito isso? Como modificar tudo isso? Levando essa discussão para as escolas, por exemplo. A gente tem que fazer uma distinção daquilo que é uma ação natural, por exemplo, só a mulher pode ter filho, a gente não vai discutir isso. Agora, o resto são construções sociais que mudam com discussão, direitos humanos. Assim que esses valores mudam, através da discussão”, conclui.

Sobre o programa de rádio

O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 187 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

*Marcos Paulo Rodrigues – estagiário de Jornalismo

Edição: Maria Dulce Miranda