Impacto do rompimento da barragem da Samarco é tema de simpósio

Encontro contou com a participação de membros de entidades e órgãos públicos, além de professores e estudantes da Unidade.


28 de junho de 2016


IMG_0053

Foto: Débora Nunes

A Faculdade de Medicina da UFMG recebeu na manhã dessa segunda-feira, 27 de junho, o simpósio “Desastre de Trabalho da Samarco na Bacia do Rio Doce: atualizando questões”. O encontro contou com a participação de membros de entidades e órgãos públicos, além de professores e estudantes da Unidade. O evento discutiu questões relacionadas ao rompimento das barragens da mineradora Samarco, em novembro de 2015, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana.

Durante a abertura, o diretor da Faculdade de Medicina, Tarcizo Afonso Nunes, agradeceu a presença dos convidados e participantes e reforçou a importância deste tipo de discussão. “É responsabilidade da instituição levar este tipo de conhecimento à sociedade”, contou.

Segundo o coordenador do Observatório de Saúde do Trabalhador (Osat), Tarcísio Pinheiro, o evento teve o compromisso de discutir e acompanhar os desdobramentos do rompimento da barragem. “Um desastre ambiental das maiores proporções, como já podemos conhecer, e um desastre de trabalho. Ainda há muita coisa a ser feita, muita coisa a ser resolvida”, explicou.

IMG_0044

Tarcizo Nunes, Rodrigo Said, Antero Drummond, Roque Veiga e Tarcísio Pinheiro. Foto: Débora Nunes

Também participaram da abertura do evento o subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Rodrigo Fabiano do Carmo Said; o gerente de Planejamento de Desenvolvimento da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Antero Drummond Junior e o assessor da Coordenação Geral da Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Roque Veiga.

Causas, impactos e desdobramentos

Iniciando a mesa-redonda “Causas, Impactos e Desdobramentos”, o auditor fiscal da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, Mário Parreiras, evidenciou todo o histórico de falhas que a barragem apresentou desde a sua construção, em 2008. Segundo ele, a técnica utilizada pela Samarco para conter rejeitos, a de alteamento a montante, é mais econômica. “A técnica é a mais vulnerável e a que apresenta maior suscetibilidade a processos erosivos internos”, afirmou.

IMG_0062

Mário Parreiras durante palestra. Foto: Débora Nunes

Em seguida, o coordenador do Projeto Manuelzão, Marcus Vinícius Polignano, explicou aos presentes como o desastre afetou a vida no local, destruiu rios e córregos, além de afirmar que o que aconteceu não foi um acidente, mas uma tragédia anunciada: “É um absurdo o que as mineradoras fazem no Brasil. A barragem de rejeitos deveria ser a última opção, mas acaba sendo a primeira, em nome da economia”, destacou.

Fechando a primeira mesa-redonda, a presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais, Beatriz Cerqueira, falou sobre as dificuldades no ressarcimento às vítimas do desastre. Segundo ela, todo o processo está sendo levado pela própria empresa. “O Estado não chegou onde a tragédia chegou. Foi a Samarco que determinou quem foram os atingidos, quem deve ser ressarcido ou não”, completou.

Situação dos atingidos

Na segunda mesa-redonda do simpósio, o representante da Procuradoria do Ministério Público Federal, Edmundo Antônio Dias, falou sobre os acordos feitos entre Samarco e Vale e os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Para ele o documento é limitado e, durante as negociações, não levaram em consideração os atingidos pela lama. “O acordo teve completa ausência da participação efetiva dos atingidos. Além disso, ele apresenta uma limitação de recursos por parte das empresas para a adoção de medidas de representação e compensação. Ele não tutela de forma adequada os direitos dos atingidos”, explicou.

IMG_0089

Edmundo Antônio Dias. Foto: Carol Morena

O representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Thiago Alves, explicou que a discussão sobre o problema deve ser centrada nas pessoas que foram atingidas pelo desastre. Segundo ele, o Movimento tem feito ações nos municípios de Bento Rodrigues e Barra Longa com o objetivo de organizar as famílias e construir uma frente social. “Esse desastre não foi um fato isolado e fora de contexto. Estamos lutando pelos direitos dos atingidos. Precisamos de todo o apoio para que possamos continuar debatendo esse assunto”, afirmou.

Em seguida, os palestrantes participaram de um debate, moderado pela diretora de Saúde do Trabalhador (Disat), da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Marta de Freitas.