Insônia: quando a falta de sono interfere no cotidiano
23 de janeiro de 2017
Transtorno é identificado quando paciente não consegue dormir bem por pelo menos três noites em uma semana, por um período de aproximadamente três meses
*Carol Morena
A dificuldade para dormir, apesar das condições adequadas para um sono de boa qualidade, é o que caracteriza a insônia, transtorno que pode acarretar impactos negativos para atividades cotidianas. É o que explica o professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Rogério Beato.
“Atualmente muitas pessoas dormem pouco por uma imposição de tempo mesmo. Quando a gente fala de insônia significa que a pessoa tem o tempo disponível para dormir, mas ela se deita e não consegue, mesmo em condições favoráveis”, conta ele. Além disso, Beato explica que, para ser definido como transtorno de insônia, o problema deve repercutir durante o dia. “O paciente pode apresentar mal-estar, irritabilidade, cansaço, fadiga, dificuldade de concentração, o que o torna mais propenso a acidentes, erros no trabalho. Ou seja, há um comprometimento da rotina”, especifica.
De acordo com o professor, existem tipos diferentes de insônia. Na chamada insônia inicial, a pessoa apresenta dificuldade para começar a dormir, podendo passar até mais de uma hora deitada esperando pelo sono. Há também a insônia de manutenção, na qual o indivíduo acorda durante a noite e não consegue adormecer novamente. Por sua vez, quando o paciente passa a despertar mais cedo que o costume ao longo da vida, é a chamada insônia terminal.
Fatores emocionais estão relacionados à insônia
O professor esclarece que não é possível falar em causas diferentes para os subtipos do transtorno, no entanto existem condições que podem explicar sua ocorrência. O que se pode considerar é que certas pessoas tem uma predisposição a desenvolver o transtorno, então, ao longo da vida, alguns fatores podem desencadear esse quadro, sendo que determinados acontecimentos também podem ajudar a manter o paciente nesta condição.
Ainda de acordo com Beato, em geral, as mulheres tem maior disposição à insônia e a idade avançada também pode ser um fator condicionante. Além disso, há fatores externos que podem desencadear o transtorno. “Questões familiares, como a perda de um ente querido, término de relações, problemas financeiros, perda de emprego, entre outros, são fatores que vão causar uma preocupação que pode ocasionar a insônia”, explica. “Ainda existem fatores que são da própria pessoa, como a ansiedade, depressão, fatores clínicos como dores, entre outros, que podem desencadear o transtorno”, completa.
Beato acrescenta que, em alguns casos, o quadro se resolve quando estas situações são superadas. No entanto, alguns pacientes podem desenvolver a chamada insônia crônica devido a outros fatores que perpetuam a condição. “A higiene do sono ruim, o condicionamento negativo, quando a pessoa se força a dormir em um horário, mesmo sem sono, o consumo excessivo de substâncias estimulantes para se manter acordado, tudo isso são fatores que podem atrapalhar o sono”, afirma.
Práticas simples podem melhorar a higiene do sono
O professor explica que, muitas vezes, mudanças de hábitos referentes ao sono simples podem ajudar a combater a insônia, como reduzir os estímulos durante a noite. Para ele, pessoas que estão passando por problemas, ou que ficam ansiosas na hora de dormir pensando nas tarefas do dia seguinte podem, por exemplo, se manter mais calmas fazendo uma lista de ideias e afazeres antes de irem para a cama.
Outra questão apontada por Beato é o uso excessivo de tecnologias. “Já se sabe, atualmente, que até o azul da tela de dispositivos como tablets e notebooks pode inibir a produção de melatonina, que é o hormônio que auxilia no sono”, conta. “Ali, você tem um excesso de estímulos, principalmente visuais. A pessoa está ligada em várias atividades e quer parar e dormir automaticamente, só que ela não vai conseguir por estar muito estimulada”, continua. Dessa forma, é importante que a pessoa se desconecte dos aparelhos, um pouco antes de ir para a cama, e iniciar um ritual para ajudar no sono.
A televisão, ou aparelhos de som, podem auxiliar ou atrapalhar, dependendo da programação escolhida. “Escutar uma música muito vibrante, feita pra dançar, que vai gerar um estímulo para a pessoa antes de dormir, não é muito aconselhável. No entanto, músicas que estão envolvidas com o relaxamento e redução da atividade mental são muito bem-vindas”, explica.
O mesmo vale para a televisão, de acordo com Beato. “Se vai ser benéfico, ou não, também vai depender do que a pessoa assiste. Um filme de terror, em que ela vai levar sustos e ficar muito estimulada, não vai favorecer o sono”, especifica. “Mas se ela opta por um que vai favorecer o relaxamento e fazer ela se desligar das preocupações do dia a dia, isso pode ajudar a adormecer”, comenta. O professor acrescenta, porém, que o ideal é que estes aparelhos estejam situados em outros ambientes, para que não interfiram no condicionamento do sono dentro do quarto.
A prática de exercícios e a dieta também têm influencia direta nas condições do sono. Ingerir alimentos ricos em carboidratos, próximo ao horário de se deitar, pode aumentar o ritmo de funcionamento do organismo, ocasionando a dificuldade para dormir. Em contrapartida, existem alimentos que auxiliam na produção de melatonina que ajuda na regulação do sono. “Alimentos derivados do leite, carnes de aves e leguminosas são as principais fontes dessas substâncias. O ideal é que eles sejam consumidos até uma hora antes de dormir”, conta.
Para pessoas que apresentam uma tendência a ter transtornos do sono, também não é recomendável a prática de exercícios extenuantes durante a noite. “Nesses casos, a gente tem que individualizar a recomendação, mas em geral, a indicação é que a atividade física seja feita com pelo menos quatro horas de diferença do horário de ir para a cama. Além disso, o exercício deve ser aeróbico, entre 40 e 50 minutos, cerca de três vezes na semana”, recomenda.
Para os casos mais extremos, o médico pode recomendar o uso de medicamentos, associados às práticas favoráveis. “A questão é que essa medicação tem de ser bem indicada, avaliada e acompanhada. Existe uma realidade de abuso no consumo de medicamentos para o sono, os quais, muitas vezes, podem levar a dependência”, informa Beato. “Em longo prazo, este uso pode ter impactos na cognição, na concentração e até ajudar a manter a insônia. Por isso é fundamental procurar um acompanhamento profissional”, finaliza.
*Redação: Carol Morena – estagiária de jornalismo
Edição: Deborah Castro