Jovens apresentam 21% mais comportamentos de risco para DCNT do que idosos, afirma estudo

Pesquisa destaca a relação entre comportamentos de risco e presença de múltiplos fatores associados a doenças crônicas não transmissíveis em jovens adultos de 18 a 34 anos


22 de maio de 2023 - , , ,


Foto: CCS/Faculdade de Medicina da UFMG

Um estudo desenvolvido na Faculdade de Medicina da UFMG analisou as tendências temporais dos comportamentos de risco relacionados às doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil e revelou uma estagnação alarmante entre 2009 e 2019. Os resultados da pesquisa realizada pela doutoranda em Saúde Pública, Thaís Cristina Marquezine Caldeira foram publicados recentemente na renomada revista científica Preventing Chronic Disease, do CDC, e reforçam a preocupação com o cenário.

As DCNT são condições de saúde que possuem uma longa duração e são resultantes de uma combinação de fatores genéticos, fisiológicos, ambientais e comportamentais. As mais comuns incluem doenças cardiovasculares, diabetes, câncer, doenças respiratórias crônicas e obesidade. Grande parte da sua ocorrência está relacionada com fatores comportamentais e o acúmulo de hábitos de risco, como o consumo abusivo de álcool, consumo regular de bebidas açucaradas, tabagismo, má alimentação e falta de atividades físicas no dia a dia, o que é comum entre a população.

Relacionadas com a morte prematura, as doenças crônicas não transmissíveis ainda podem gerar perda da qualidade de vida saudável e efeitos econômicos substanciais em todo o mundo.  AS DCNT são um desafio significativo para a saúde pública e trazem repletas complicações para o dia a dia e sobrecarregam o sistema de saúde.

De modo geral, costumam afetar a população mais velha, isso em decorrência do envelhecimento biológico. Porém, os dados da pesquisa da UFMG indicam um aumento de casos em pessoas mais jovens, se relacionando, principalmente, com maus hábitos de alimentação e cuidados com a saúde. De acordo com o estudo, adultos jovens (de 18 a 34 anos) apresentam 21% mais comportamentos de risco para DCNT do que idosos com 60 anos ou mais.

“Essas doenças geralmente são associadas a idade. O que é mais preocupante, tem sido a presença dessas doenças crônicas no indivíduo mais jovem. É o que chamamos de perda prematura de anos de vida saudáveis”, pontua Thaís.

Para a realização da análise da tendência de comportamentos de risco, foram utilizados dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2009 a 2019, sendo entrevistados 567.336 adultos.

O Vigitel é um inquérito de base populacional realizado anualmente através do telefone fixo com entrevistas de amostra representativa de adultos (com idade ≥18 anos) em todas as 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal para investigar fatores de risco e proteção para DCNT.

Fatores de risco

O estudo analisou cinco fatores comportamentais de risco principais para as DCNT: consumo infrequente de frutas e hortaliças (menor que cinco dias na semana); consumo regular de bebidas açucaradas (maior ou igual cinco dias na semana); tabagismo; consumo abusivo de álcool (maior ou igual quatro doses em uma única ocasião nos últimos 30 dias para mulheres ou cinco doses para homens) e prática de atividade física insuficiente no lazer (menor que 150 minutos por semana). Além disso, foram avaliadas características sociodemográficas, como sexo, faixa etária e escolaridade.

Infográfico: Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG.

De acordo com a pesquisa, os comportamentos de risco que mais contribuíram para a coexistência das DCNT foram tabagismo, consumo de bebidas açucaradas e consumo abusivo de álcool. Os pesquisadores observaram que a coexistência desses comportamentos é maior entre os homens do que entre as mulheres, e está inversamente associada à faixa etária e anos de escolaridade – ou seja, quanto maior a idade e escolaridade, menor a incidência de casos. O artigo estimou que mais de 40% da população tem pelo menos dois desses comportamentos de risco ao mesmo tempo.

“Quando analisamos a população, existe uma média de dois comportamentos de risco por pessoa. O problema é que quando se acumula outros comportamentos de risco, como observado no estudo, aumenta-se o risco de desenvolver DCNT ou piorar o prognóstico das doenças já existentes no indivíduo”, afirma a pesquisadora.

Durante o período do estudo (2009-2019), o estudo observou uma diminuição na coexistência de comportamentos de risco para DCNT, com estabilização a partir de 2015 (entre 4% e 5% ao ano).

Tratamento e prevenção

De acordo com o Ministério da Saúde, quase 60 milhões de brasileiros possuem pelo menos uma doença crônica não transmissível. Problemas como a diabetes, doenças do coração, cânceres, doenças respiratórias crônicas e obesidade, provocam em torno de 72% de óbitos no país.

Diante de dados tão alarmantes, a prevenção e o tratamento adequado são de extrema importância, não só para a população enferma, mas também para a não sobrecarga do sistema de saúde. Os cuidados podem ser tomados com acompanhamento de profissionais, uso de medicamentos, quando necessários, e mudanças nos hábitos de vida.

Foto: Arquivo / Faculdade de Medicina da UFMG

O tratamento depende do tipo da doença crônica. Geralmente, ele é medicamentoso, no qual o paciente é submetido pelo resto da vida. Contudo, a pesquisadora afirma que a melhor forma é a prevenção.

“Uma das formas de prevenção está associada a diminuição dos principais fatores de risco comportamentais. A realização de múltiplos comportamentos de risco representa um desafio para o sistema de saúde quando levamos em consideração que o grupo de quatro DCNT, que é a doença cardiovascular, câncer, diabetes e doenças respiratórias, são relacionados a grande carga de doenças no país e que elas estão associadas a quatro comportamentos de risco modificáveis (consumo alimentar não saudável, inatividade física, consumo excessivo de bebidas alcoólicas e o tabagismo)”, completa Thaís.

Foto: Acervo Pessoal Thaís Marquezine.

A diminuição ou eliminação desses comportamentos do cotidiano pode ser considerada a melhor forma de prevenção e um grande aliado dos tratamentos das DCNT. Essas doenças podem ser prevenidas ou controladas por meio de mudanças de estilo de vida saudáveis, como ter uma alimentação mais saudável, praticar atividade física regular, evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, além da busca por cuidados médicos adequados.

Para a pesquisadora, é fundamental que sejam implementadas políticas públicas abrangentes e programas de educação em saúde para combater essa tendência preocupante de DCNT. A conscientização pública e o acesso aos serviços de prevenção e tratamento adequados também são fundamentais para reverter o quadro e melhorar a saúde da população.