Longas horas no trânsito ameaça a saúde de motoristas

Profissionais se licenciam por problemas de saúde em função das condições de trabalho que são submetidos


23 de setembro de 2016


Profissionais se licenciam por problemas de saúde em função das condições de trabalho que são submetidos

Walisson Menezes*

Para muitas pessoas, trânsito é sinal de estresse. Para quem trabalha como motorista de ônibus coletivo, trocador, taxista ou caminhoneiro, e precisa enfrentar o caótico trânsito brasileiro, a situação é ainda pior. Barulho, calor, congestionamento, falta de educação, violência: estes são apenas alguns dos fatores que tornam o trânsito do país uma ameaça à saúde.

A Semana Nacional de Trânsito, celebrada do dia 18 a 25 de setembro, tem por objetivo conscientizar os motoristas acerca dos perigos do trânsito, em função do grande número de mortes decorrentes de acidentes. Mas vários outros perigos invisíveis acometem os profissionais desta área. Segundo estimativas do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Belo Horizonte (STTR – BH), um a cada três motoristas e trocadores de ônibus coletivos, se licenciam por problemas de saúde ocasionados pelo trânsito, no período de um ano. Um número alarmante, que diz muito sobre as condições de trabalho a que estes profissionais estão submetidos.

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Imagem: reprodução/internet

Segundo a professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, Ada Ávila, horários atípicos e ausência de conforto para as pausas destinadas às refeições explicam a alta prevalência de problemas gastrointestinais nesse grupo de trabalhadores. “A longo prazo, os distúrbios citados podem evoluir de maneira a prejudicar a saúde global. Os motoristas e cobradores se tornariam, então, mais susceptíveis às doenças crônicas como obesidade, hipertensão e diabetes”, comenta. Além disso, a vibração do veículo associada à duração prolongada da mesma postura pode acabar ocasionando problemas musculoesqueléticos. “Dores no pescoço são associadas à tensão psíquica e à necessidade de concentração para dar conta das exigências do trânsito. Sabe-se que a musculatura dos segmentos acima da cintura são mais susceptíveis à contração involuntária em situações de estresse”, explica.

Alguns indícios de que o profissional está sobrecarregado, servem como alerta de que as coisas não vão bem. Segundo a professora Ada Ávila, alterações do sono, uso de substâncias, seja medicamentos ou cigarro e álcool, para aliviar as tensões depois da jornada de trabalho, são os sinais de que o motorista precisa se cuidar. O nervosismo constante, a falta de tempo para a família, são outros indícios muito comuns aos taxistas e caminhoneiros, que muitas vezes, acabam trabalhando por 12 horas seguidas, ou mais.

 

Como se prevenir

Algumas dicas colaboram para que os profissionais do trânsito se previnam ou amenizem os problemas a que estão expostos. Segundo a professora Ada, tomar conhecimento das normas técnicas sobre o melhor tipo de engrenagem e veículos para evitar a vibração que é transmitida ao corpo, é um ótimo começo. Conhecer o seu instrumento de trabalho, no caso dos motoristas, o próprio veículo, é essencial para fazer do seu uso, menos prejudicial à saúde. “Vale a pena conhecer as instruções sobre o tipo de assento a ser implantado nos veículos de maneira a orientar as licitações por ocasião da troca da frota, por exemplo. Discutir com os colegas e com os gestores na empresa sobre os referidos problemas e recomendações clássicas disponíveis na literatura técnica”, indica a professora.

Segundo uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o tempo gasto em deslocamento nas capitais brasileiras, aumentou três vezes, se comparado há vinte anos.  Então, para os motoristas de veículos próprios, que enfrentam todos os dias o trânsito caótico das cidades brasileiras, a dica é sair um pouco mais cedo de casa. Grande parte do mal estar causado pelo trânsito advém dos atrasos. Como o tempo de deslocamento está cada vez maior, sair mais cedo de casa pode evitar que você se atrase e fique preocupado com isso. Outras dicas são: andar com os vidros fechados, isolando o ambiente interno do veículo, e ouvir uma música mais calma, desde que a pessoa não se distraia da condução.

O trânsito é um espaço coletivo, desta forma, a construção de um ambiente mais humano e seguro depende de todos. Respeitar o direito do outro é a melhor forma de garantir que o seu direito será respeitado. Aos que trabalham no trânsito, exigir melhores condições de trabalho também é importante, mas enquanto a mudança não ocorre, ficar atento aos sinais de que o profissional está sobrecarregado, é imprescindível para não deixar o problema se agravar.

*Redação: Walisson Menezes – estagiário de jornalismo
Edição: Larissa Rodrigues