Maior parte das vítimas de trauma chega ao hospital em transporte particular
Maioria do transporte é feito por leigos e chega mais rápido ao hospital, mas nem sempre de forma adequada
21 de setembro de 2015
Maioria do transporte é feito por leigos e chega mais rápido ao hospital, mas nem sempre de forma adequada
Um projeto de pesquisa constatou que a maior parte dos pacientes de trauma atendidos no Pronto Socorro do Hospital Risoleta Tolentino Neves, da UFMG, não chegam ao local de ambulância, transporte especializado. A pesquisa deu origem ao artigo “Epidemiologia dos pacientes tratados no Hospital Risoleta Tolentino Neves de acordo com o tipo de atendimento pré-hospitalar”, publicado em 2015 na Revista Médica de Minas Gerais. A autoria é do médico Luiz Alberto Bomjardim Pôrto; o médico Alexandre Mesquita Lentz Monteiro e a economista Simone Ferreira dos Santos. O artigo foi escrito sob orientação do professor e coordenador do Centro de Tecnologia em Saúde (Cetes) da Faculdade de Medicina, Cláudio de Souza.
O objetivo do estudo foi colher informações sobre a epidemiologia dos pacientes atendidos para servir de subsídio para implantação de um serviço de teleurgência no hospital. Os pacientes de trauma foram divididos em três grupos de acordo com o atendimento pré-hospitalar. No primeiro grupo (G1) estavam os pacientes transportados por ambulância. No segundo (G2), os pacientes transportados pela polícia e no terceiro (G3) estavam os pacientes que chegaram ao hospital por leigos ou por conta própria.
O resultado contribui para o planejamento das ações de integração do atendimento pré-hospitalar e da assistência médica. Para Luiz Alberto, o Hospital Risoleta Neves é uma referência em traumatologia e, por isso, oferecia oportunidade para a coleta dos dados. “É um hospital-escola financiado pelo SUS, gerido pela UFMG e referência para assistência ao trauma de 1,5 milhão de pessoas na região metropolitana de Belo Horizonte. É de grande importância científica para o aprendizado acadêmico e profissional devido à riqueza e variedade dos casos atendidos”, destaca.
Métodos e Dados
A metodologia utilizada para o estudo foi descritiva, individual, observacional e retrospectiva. Os dados foram coletados no prontuário eletrônico referentes ao período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2010. Isto foi feito através do sistema MV2000i que gerencia as informações geradas, organiza e integra todo o processo, abrangendo os custos institucionais e resultados.
Naquele ano, um total de 102.098 pacientes procurou o Pronto-Socorro do Hospital. Pacientes do grupo G1 corresponderam a 7.191 pessoas (7,04% do total) e do grupo G2 foram 1.603 pessoas (1,57% do total). A maior parte dos pacientes atendidos era do grupo G3, totalizando 93.304 pessoas (91,38% do total). Casos de trauma representaram 72,22% do grupo G1, 60,06% do grupo G2 e 22,7% do grupo G3.
O pesquisador comenta que a ida dos pacientes ao hospital por leigos ou por conta própria é um fenômeno presente também em países desenvolvidos, como na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos. “Quando pesquisei estes dados descobri que, em outros países, situações parecidas já foram encontradas e estudadas”, afirma. “São casos em que geralmente a ambulância demoraria a ter acesso, o que demanda que o socorro seja feito por leigos em veículos particulares ou pela polícia. Em relação à região metropolitana, também é necessário destacar que muitas regiões não são cobertas pelo sistema do SAMU”, completa.
Outro fator importante que justifica os números aferidos é a urgência do caso, fazendo com que a pessoa mais próxima providencie o transporte da vítima. Luiz Alberto explica que o transporte pré-hospitalar realizado pela polícia é um serviço informal, útil quando o transporte especializado é demorado, inexistente ou quando é difícil acessar por situação de alto índice de criminalidade. “Normalmente, esses pacientes estão em situações críticas e são vitimas de tiro ou esfaqueados. Alguns policiais recebem treinamento básico, mas apesar de sua prontidão, o transporte em uma viatura de polícia esta longe de ser o ideal”, esclarece.
Importância do transporte especializado
De acordo com o pesquisador, o socorro rápido feito por leigos pode beneficiar as vítimas de traumas leves, mas há casos que exigem resgate especializado. “Situações como as de trauma automobilístico ou de lesão na coluna exigem um transporte qualificado. Mover o paciente pode causar danos irreparáveis”, ressalta.
Segundo Luiz Alberto Bonjardim Pôrto, os dados analisados podem ser utilizados para promover intervenções no sistema médico de emergência da região metropolitana de Belo Horizonte. “A implantação do sistema de teleurgência pode aumentar a integração entre o atendimento de emergência pré-hospitalar e o atendimento de emergência hospitalar”, relata. “É importante, por exemplo, facilitar o contato entre as ambulâncias e hospitais, para que saibam que o paciente está chegando e aguardem com a equipe preparada para lidar com aquela lesão”. Ele afirma que a integração em um sistema regionalizado é uma ferramenta importante para reduzir a morbidade e mortalidade do trauma que gera danos irreparáveis, inclusive incapacidade física e perdas econômicas. “Um gestor público que investe nessa integração salva muitas vidas e pode economizar muitos recursos nas atenções primária, secundária e terciária, pois as vítimas de trauma costumam necessitar de tratamento hospitalar e extra-hospitalar multiprofissional, complexo e caro”, conclui.