Maior parte dos casos de coronavírus está concentrada no interior

Número pode ser ainda maior devido à subnotificação


06 de julho de 2020 - , , ,


A cada cinco casos confirmados de coronavírus no Brasil, três são de cidades do interior e dois são das capitais. De acordo com o Ministério da Saúde, houve uma mudança na localização dos casos: no começo da pandemia, a maior parte dos casos foi identificada nas capitais e, desde então, houve um crescimento nas notificações do interior, que, desde a segunda quinzena de junho, passaram a concentrar a maior parte dos casos. Já em relação aos óbitos, o interior contabiliza pouco mais da metade dos registros.

De acordo com o professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social e coordenador da disciplina Internato em Saúde Coletiva, mais conhecida como “Internato Rural”, Geraldo da Cunha Cury, o processo de interiorização da pandemia já era esperado. “É claro que a interiorização está acontecendo e ela ocorre porque as pessoas – não principalmente, mas também no interior – não fazem isolamento social, os municípios [do interior] não indicam o isolamento social como Belo Horizonte fez e não usam máscara”, avalia.

“Se for sair de casa, ponha sua máscara. Dessa forma, você evita de ser contaminado e de contaminar o outro. O uso da máscara é uma medida que vai ter que ser incorporada e que tem sido menos usada no interior e, daí, a doença vai se propagando.”

Apesar de o número de casos no interior já ser grande, ele pode ser ainda maior. O professor Geraldo Cury aponta que a maior parte dos casos de coronavírus não é detectada. “A maioria dos casos são muito pouco sintomáticos ou assintomáticos, a pessoa não sente nada ou sente pouca coisa e não procura o sistema de saúde. A segunda questão é que os casos de síndromes gripais não são examinados do ponto de vista de buscar o diagnóstico do coronavírus, apenas os casos graves é que são testados. Então, quando eu falo que têm muitos casos, têm muito mais, porque eu não examino – e nem faria sentido isso – todo mundo para ver quem está ou não com o coronavírus”, destaca.

Estrutura de saúde

Segundo o site do Ministério da Saúde, atualizado no dia 23 de junho, a pasta disponibilizou 18.564 leitos de UTI adulto para o Sistema Único de Saúde (SUS) e 6.410 respiradores. Mas a maioria está localizada em grandes centros urbanos. Em cidades pequenas, muitas vezes, não há leito de enfermaria e muito menos de medicina intensiva.

“A maior parte das cidades pequenas não tem leito de UTI, não tem hospital e tem uma dificuldade muito grande de encaminhar pacientes para hospital ou para UTI. Felizmente, tivemos a abertura de muitos leitos nesse período, mas ainda é insuficiente”, afirma o professor. “Têm cidades de Minas Gerais que são distantes de onde tem um leito para atendê-las. Em alguns casos, é preciso viajar três ou quatro horas de ambulância para chegar num hospital. Não é uma dificuldade que surgiu agora, com a pandemia, é uma dificuldade por falta de organização e financiamento do sistema público de saúde”, ressalta.

“Quanto menor o município, mais as pessoas deveriam estar usando máscaras e evitando aglomerações, porque menores são os recursos. E o que você vê em Minas Gerais, de uma forma geral, são festas, são pessoas sem máscaras na cidade do interior e mesmo em Belo Horizonte, Contagem, Betim…”

Mas, sem a existência do sistema público de saúde, a situação seria pior. “O Brasil tem uma atenção básica constituída por equipes de saúde da família em todos os municípios. Então, isso está relativamente organizado. Mas tem um sub financiamento na saúde pública. Sem recursos, o sistema não funciona direito e aí esses problemas ficam agravados. Com a covid-19, se o Brasil não tivesse o SUS, o número de mortes seria muito maior. O Brasil conseguiu prestar um atendimento razoável porque existe o SUS”, pondera.

Para driblar as distâncias, alguns fatores devem ser observados para agilizar o processo de hospitalização. O professor explica que é necessário saber se existe gravidade para a internação e cita alguns fatores: “Na covid-19, existe um mecanismo para detectar de forma mais precoce, porque às vezes a pessoa não está sentindo nada, está só gripada, e a oxigenação do sangue está abaixando muito, e, por isso, já deve ir para o hospital. Porque já foi observado que nessa doença isso acontece com relativa frequência”, afirma. Também a febre e a perda de olfato e paladar são fatores que devem ser observados.

Interiorização

As especificidades dos casos de coronavírus no interior do país são tema do Saúde com Ciência. Séria aborda os cuidados especiais, a atuação das secretarias municipais de saúde, a situação nas zonas rurais e o acesso à rede de saúde. Confira:

:: O que representa a interiorização
:: Acesso ao sistema de saúde nas cidades do interior
:: Situação na zona rural
:: Produção de alimentos e contaminação
:: Invisibilização da pandemia

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