Mulheres vítimas de violência contam com atendimento especializado no Hospital das Clínicas

Assistência do HC é referência nessa área desde 2012; serviço funciona 24 horas, e não é necessário encaminhamento


24 de agosto de 2021 - , , , , ,


Agosto Lilás é a campanha de conscientização sobre violências que atingem as mulheres
Agosto Lilás é a campanha de conscientização sobre violências que atingem as mulheres. Foto: Paulo H. Carvalho | Agência Brasília

Agosto é o mês de enfrentamento da violência contra a mulher. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, o número de registros aumentou durante a pandemia. Ao todo, foram 17 milhões de mulheres agredidas – verbal, sexual ou fisicamente – entre junho de 2020 e maio de 2021. As atividades do Agosto Lilás – como foi batizada a campanha criada para conscientizar a sociedade da importância de pôr fim a esse tipo de violência, divulgar os serviços especializados de atendimento e os mecanismos de denúncia existentes – coincidem com a celebração dos 15 anos da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), referência em todo o mundo e marco de um novo tempo para as mulheres, em que a violência doméstica é desnaturalizada e passa ser considerada crime.

O Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh oferece o Serviço de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual e em Situação de Vulnerabilidade e é referência nesse tipo de assistência desde 2012. Trata-se de um serviço porta-aberta, ou seja, não é necessário encaminhamento. O atendimento é feito diariamente, por 24 horas, no plantão da maternidade da Unidade de Ginecologia e Obstetrícia. Outras formas de violência são tratadas no Ambulatório Para Elas todas as sextas-feiras, das 8h às 12h, no Instituto Jenny de Andrade Faria (nesse caso, o atendimento está suspenso desde o início da pandemia).

A violência sexual pode ser aguda, quando ocorre uma única vez, ou crônica, quando é frequente e, muitas vezes, silenciosa. Segundo explica a coordenadora do núcleo, a professora e ginecologista Sara de Pinho Paiva, em casos de violência aguda, a paciente atendida no pronto-socorro do HC-UFMG recebe atendimento médico imediato. Não é necessário boletim de ocorrência.

 “Quanto mais rápido uma mulher que sofreu violência sexual buscar ajuda médica hospitalar, mais fácil será a condução do seu caso. O ideal é que o atendimento médico seja realizado nas primeiras horas após a violência”

Se a paciente comparece ao serviço até 72 horas após a agressão, ela poderá receber os medicamentos para prevenção de infeções sexualmente transmissíveis (ISTs) e da gravidez fruto de estupro. Além disso, ainda é possível fazer a coleta de vestígios em região vaginal e outros locais que possam conter material genético do agressor.

“Oferecemos atendimento clínico e avaliação de lesões, medicamentos para prevenir sífilis, hepatites, aids e outras ISTs e gestação fruto de violência sexual, mas em ambos os casos isso só é possível quando a paciente comparece ao pronto-atendimento em até cinco dias após a violência sexual. Além disso, também encaminhamos a paciente para acompanhamento ambulatorial por, no mínimo, seis meses”

destaca Sara Paiva

Esse acompanhamento engloba atendimento ginecológico, com avaliação dos exames e monitoramento do risco de adquirir ISTs, planejamento familiar relacionado a contracepção, assistência psiquiátrica, psicoterapia individual, serviço social e participação em encontros on-line para aprendizado e prática de Meditação Mindfulness, com o objetivo de auxiliar na melhora da qualidade de vida e redução nos níveis de estresse, ansiedade e depressão.

Caso a paciente não consiga comparecer ao hospital nas primeiras 72 horas após a violência, é ainda importante que ela busque ajuda médica para avaliar os riscos de ter contraído alguma infecção sexualmente transmissível ou de uma gravidez possivelmente fruto do estupro.

Dados

A idade média das pacientes do serviço de atendimento do HC é de 25 anos. Até junho deste ano, foram realizados 20 atendimentos – 11 das vítimas chegaram grávidas, e 10 já realizaram o aborto legal. Em 2020, foram 53 registros.

Cerca de 15% dos casos estão relacionados à violência dentro do ambiente domiciliar; 24% tiveram violência física associada; 21% já tinham sofrido violência antes, e 60% não realizaram boletim de ocorrência.

A professora Sara Paiva ressalta que todas as mulheres atendidas no Hospital das Clínicas são orientadas sobre a importância de registrar boletim de ocorrência. No entanto, segundo ela, muitas mulheres não fazem a denúncia por vários motivos: medo de serem hostilizadas dentro da Delegacia de Polícia, medo do agressor ficar sabendo da denúncia e voltar a procurar a vítima, falta de informações sobre onde buscar ajuda, medo de ser expostas à sociedade.

“O atendimento no hospital é realizado independentemente de a mulher ter feito ou não a denúncia. Até mesmo casos de mulheres que apresentam gestação fruto de uma violência sexual serão atendidas no HC-UFMG e, caso solicitem a interrupção legal da gestação (aborto legal), não será cobrada a apresentação de um Boletim de Ocorrência. A mulher não é obrigada a fazer a denúncia para que receba toda a atenção”, destaca.

Leia também:


(Centro de Comunicação da UFMG com Assessoria de Comunicação do HC)