Neurologista da UFMG explica o estado de coma


30 de janeiro de 2012


Basta pesquisar na web o termo coma, que muitos casos de despertar vão surgir na sua tela. Na novela das seis “Viver a Vida”, da Rede Globo, a personagem principal da trama, Ana, vivida pela atriz Fernanda Vasconcelos retoma os sentidos depois sofrer um acidente de carro e passar seis anos desacordada.

Mesmo com a divulgação de notícias em que pacientes acordam após um longo período de inatividade, o professor do Departamento de Clínica Médica da UFMG, neurologista Antônio Lúcio Teixeira Júnior, afirma que casos assim são extremamente raros e pouco prováveis: “São episódios que fazem parte das histórias populares e não representam a realidade destes quadros. Quando o coma é muito longo ocorre morte cerebral, tornando as chances de recuperação quase nulas.”

De acordo com Teixeira Junior, o coma é definido por um “rebaixamento profundo do estado de consciência”, traduzindo-se na incapacidade do indivíduo acometido em interagir com o ambiente ou reagir sensorialmente a qualquer estímulo.

Apesar de relatos em que os pacientes curados afirmam ter escutado e sentido a presença das pessoas ao seu redor, Teixeira Júnior descarta a utilização de sentidos nesse tipo de situação: “Não há possibilidade de o paciente ouvir, raciocinar ou se lembrar de algo que tenha acontecido durante o estado comatoso, uma vez que as funções cognitivas estão totalmente comprometidas.”

Consciência

Com base na Escala de Glasgow (método usado para avaliar o nível de consciência criado por neurologistas da Universidade de Glasgow, Escócia, em 1974) que vai de 3 a 15 e se baseia num esquema de estímulo e resposta, tem-se que de 15 a 12 o indivíduo está normal e consciente. De 11 a 7 o estado é de coma intermediário e de 6 até 3 o coma é profundo. Neste último nível existem grandes probabilidades (em torno de 85%) de morte cerebral ou então de persistência do estado vegetativo.

O estado vegetativo persistente ou síndrome acognitiva é um quadro que pode acontecer posteriormente ao coma, quando há uma pequena recuperação (volta parcial ao estado de alerta), mas sem interação com o ambiente. No estado vegetativo, o cérebro mantém suas funções automáticas, proporcionando reflexos de sucção ou movimentos das córneas, porém sem nenhuma atividade voluntária por parte do paciente.

Causas

Segundo Teixeira Júnior, uma das causas mais comuns do coma são os traumatismos cranianos provocados por acidentes. Nesses casos, há uma lesão na região da SARA (Sistema Reticular Ativador Ascendente), que é responsável por receber e distribuir os sinais nervosos para outras partes do cérebro. Em outras palavras, esta é área responsável por nos manter em estado de alerta.

Situações de coma originadas de traumatismo e acidente vascular cerebral (AVC) são chamadas de comas estruturais, pois há alteração física no tecido do cérebro (edemas ou perda de massa encefálica).

O coma não estrutural surge em decorrência de falhas metabólicas, ocorrendo em pacientes com diabetes, por exemplo. Intoxicações e asfixias também são causas deste tipo de coma. Nestes casos, o consumo de energia cerebral é afetado seja pelas altas taxas de uma substância no sangue, ou então, pela baixa quantidade das mesmas. (Exemplo: glicose em caso de diabetes e coma alcoólico; e oxigênio em caso de asfixia)

Existem também os estados de coma induzido. Provocado por medicação, ele tem finalidades terapêuticas, sendo utilizado na maioria das cirurgias de grande complexidade. Outras possibilidades da sua utilização estão no tratamento da hipertensão intracraniana – promovendo uma diminuição do fluxo sanguíneo, volume e pressão cerebrais – e também em casos de epilepsia que não respondem a outros tratamentos.