Avanços na ciência e tecnologia aumentam chances de cura

Na última década, avanços da ciência e tecnologia possibilitaram novos métodos para tratar a doença e aumentar as chances de cura


29 de outubro de 2019 - , ,


*Giovana Maldini

Por ser uma doença culturalmente estigmatizada, muitas vezes o câncer é encarado como sentença de morte. Mas do ponto de vista científico, essa já não é mais uma verdade para mulheres com câncer de mama. Desde exames que avaliam a hereditariedade do câncer até tratamentos alternativos, como a imunoterapia, a evolução da ciência e tecnologia vem auxiliando na qualidade de vida e maiores chances de cura. Para encerrar o mês de conscientização sobre o câncer de mama, o Outubro Rosa, o Saúde com Ciência apresenta a série “Amigas do peito: luta contra o câncer de mama”, com os principais avanços nos tratamentos, tipos da doença, formas de diagnóstico e cuidados pós-tratamento.

Métodos como a quimioterapia e a radioterapia foram aprimorados ao longo da última década e complementados com tratamentos alternativos. Para o oncologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, André Murad, de certa forma, tudo melhorou. “A radioterapia, hoje, é feita em três dimensões, com muita segurança”, ressalta. De acordo com ele, no passado, esse procedimento acabava atingindo o pulmão e, até mesmo, o coração. “Hoje em dia, ela consegue ser feita com bastante acurácia, direcionando apenas para o tecido que precisa ser tratado”, esclarece. 

Além do aprimoramento de métodos convencionais, formas alternativas de tratamentos aumentam as chances de cura de pacientes com tipos mais graves da doença, como o câncer triplo-negativo. Alguns tipos de tumores triplo-negativo são considerados os mais agressivos entre os subtipos da doença. Nesses casos, a imunoterapia vem se mostrando eficaz.

Imunoterapia

O tratamento é feito a partir da ingestão de medicamentos específicos e incentiva o organismo do próprio paciente a destruir as células tumorais. A imunoterapia também pode ser realizada junto à quimioterapia. Mas isso vai depender da avaliação do médico, para que ele recomende o método que trará melhores resultados.

O professor André Murad explica que para o tratamento com imunoterapia são utilizados imunoterápicos como o anti TDI. “Existe uma proteína chamada TDI que funciona como um freio no sistema imunológico. Quando o tumor se instala, estimula essa proteína, criando uma ‘máscara’ para que o organismo não reconheça a célula tumoral”, esclarece. Com o uso do imunoterápico, a TDI é anulada. Assim, o sistema imunológico consegue reconhecer a célula tumoral e passa a atacá-la com maior eficiência.

Para a indicação da imunoterapia, é necessário identificar o tipo de câncer por meio de exames específicos. Atualmente, o tratamento não está disponível na rede pública de saúde. Cada medicamento custa cerca de 25 a 30 mil reais por mês. Para ter acesso gratuito à imunoterapia, os pacientes precisam recorrer à justiça. Mas, o professor André Murad acredita que com a constante atualização da lista de medicamentos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), em breve, o tratamento será incorporado à rede pública de saúde.

Hormonioterapia 

Outra alternativa aos tratamentos convencionais de câncer de mama é a hormonioterapia. Esse tratamento tem o objetivo de impedir a proliferação das células tumorais das mamas por meio de medicamentos que atuam em hormônios, principalmente o estrogênio.

A indicação para esse tratamento dependerá do caso de cada paciente. “É preciso analisar se o tumor tem o receptor para hormônio ou não. Se tiver, a hormonioterapia pode ser incluída no tratamento”, frisa o mastologista e professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Clécio Lucena.

O professor explica que, ao invés de se iniciar o tratamento com a quimioterapia, a hormonioterapia pode ser usada para tentar diminuir o tumor. Com isso, em seguida, é possível fazer o planejamento da cirurgia. Mas a ordem dessas etapas varia de acordo com o quadro de cada paciente.

O tratamento, disponível no SUS, pode causar efeitos colaterais, assim como os outros métodos. Porém, esses efeitos são menos acentuados. “O grau de tolerância é um pouco maior do que na quimioterapia, mas ainda tem seus efeitos colaterais específicos, dependendo do tipo de hormonioterapia que aquela paciente vai estar submetida”, esclarece Clécio Lucena.  

Sequenciamento genético

O avanço da ciência proporcionou, também, que as pessoas com casos de câncer na família avaliem seus genes por meio do sequenciamento genético. Assim, é possível analisar se há ou não propensão ao desenvolvimento do câncer de mama, do ponto de vista hereditário.

No entanto, mesmo que o sequenciamento genético seja considerado um método preventivo, ele também pode ser utilizado nos casos em que o paciente já apresenta os sintomas da doença. “Atualmente, são usados painéis genéticos para analisar se o tumor é mais ou menos agressivo. Sendo menos agressivo, não é feita a quimioterapia complementar. Eventualmente, só a hormonioterapia. Assim, há um direcionamento para um tratamento menos agressivo ”, exemplifica o professor André Murad.

O método ainda não está disponível na rede pública, mas a boa notícia é que já existem discussões no legislativo para disponibilizá-lo gratuitamente à população. O custo para se ter acesso ao sequenciamento varia de 1,3 mil a 1,4 mil reais. Segundo o professor André Murad, o preço atual caiu muito em relação aos anos anteriores, tornando o exame um pouco mais acessível.

Sobre o Programa de Rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.

*Giovana Maldini – estagiária de Jornalismo
Edição: Karla Scarmigliat