O que é medicina de família e comunidade?

Especialidade é o foco dos programas Mais Médicos e Médicos pelo Brasil, que buscam suprir as necessidades de municípios e comunidades isoladas dos grandes centros urbanos pelo país.


03 de julho de 2023 - , , ,


O programa Mais Médicos, do Ministério da Saúde, foi implantado no Brasil em 2013. Desde então mais de 700 municípios localizados em áreas remotas do país passaram a ter, pela primeira vez em sua história, médicos residindo no local para prestar atendimentos básicos de saúde. O grande foco do programa, assim como o do Médicos pelo Brasil, é suprir a carência de médicos da atenção primária em periferias e localidades isoladas em todo o território nacional.

Mas o que faz um médico de família e comunidade, e qual sua importância para a atenção primária da saúde pública? De acordo com o professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, supervisor do Mais Médicos e convidado do Saúde com Ciência dessa semana, Ricardo Alexandre de Souza, o médico de família e comunidade é o médico mais próximo da população. “Ele tem que ser aquele cara que sabe que a dona Maricota é casada com o seu Joaquim, que ela tem de filhos o Márcio, o Roberto, o Carlos e o Francisco. Ele tem que saber um pouco do entorno, daquela comunidade”, explica o professor.

Eu costumo brincar que é o médico MacGyver. Ele vai para aquele lugar e vai resolver de noventa por cento dos problemas para cima. Um plano que eu trabalho aqui em Belo Horizonte hoje, a gente tem uma taxa de resolução de noventa e oito por cento. Porque a gente prima em resolver as coisas no local, com a melhor qualidade possível, baseado no saber médico compartilhado com os nossos pacientes. Isso é a atenção primária: problemas complexos, soluções complexas, criatividade e baixa tecnologia.

Professor Ricardo Alexandre de Souza

Programas de provimento e atenção primária

Segundo o professor Ricardo de Souza, a saúde da família é, portanto, o foco principal dos programas de provimento como o Mais Médicos e o Médicos pelo Brasil. Isso porque esses especialistas, que atuam na atenção primária, conhecem o histórico de vida e de saúde de famílias e regiões, sendo capazes de atender mais de noventa por cento das queixas de saúde que chegam até eles. “O conceito do Mais Médicos vai ser nesse sentido: de preencher os locais de difícil adesão de médicos ou que não tinham médico algum. Seriam médicos para trabalhar nas unidades básicas de saúde e centros de saúde pelo Brasil, como em unidades fluviais e territórios indígenas”, detalha Ricardo de Souza.

Ele explica ainda que, muitas vezes, as prefeituras de municípios como esses encontram dificuldades de contratar médicos, ou até mesmo de absorver insumos. “Quando a gente pensa em rincão, eu estou pensando que para eu fazer uma visita para um médico lá no Amazonas, eu demoro uma semana. Imagina para eu mandar algum insumo, ou deslocar um paciente que precisa de uma cirurgia com urgência”, detalha ele.

O professor finaliza afirmando que, embora os programas de provimento como o Mais Médicos e o Médicos pelo Brasil sejam excelentes iniciativas para o preenchimento das lacunas de saúde nos rincões e nas periferias do país, são necessários outros esforços para garantir a cobertura que a população do Brasil necessita. “O que eu quero do futuro: eu quero continuar tampando buracos, ou eu quero uma estrada mais pavimentada para melhorar a minha logística no cuidado e na prevenção? Porque é isso que acontece: se eu faço só provimento, e esse provimento tem três anos de duração, daqui a três anos acabou”, ele explica.

Saúde com Ciência

No programa de rádio Saúde com Ciência desta semana, vamos conversar sobre os programas de provimento médico, como o Mais Médicos e o Médicos pelo Brasil. Falaremos também sobre a consolidação da estratégia multidisciplinar de saúde da família e o papel da medicina da família e comunidade no cuidado integral da população.

O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelas principais plataformas de podcasts.