Opinião: Abril Indígena


20 de abril de 2021 - ,


“O mês de abril nos convida a uma maior reflexão em relação aos povos indígenas, que habitualmente são representados na sociedade de forma genérica e como parte do passado do País. Entretanto, a reprodução dessas ideias esconde toda a diversidade, riqueza, humanidade e história dos povos originários. No Brasil, vivem 984.905 pessoas autodeclaradas indígenas e é o país da América Latina com o maior número de povos, com diferentes características, línguas e culturas, tendo registrado 305 etnias, seguido pela Colômbia, com 102 e Peru, com 85 (CEPAL e FILAC, 2020).

Entre as 305 etnias que se tem registro no país, são identificadas 274 línguas distintas (IBGE, 2010). Observa-se, assim, que o português não é o único idioma falado no Brasil. Dessa forma, apesar dos povos originários apresentarem um passado marcado pela tentativa da supressão de sua existência por meio do genocídio e etnocídio, eles permanecem no presente, e mesmo atravessados por uma série de fatores como a vulnerabilidade socioambiental e territorial, seguem em resistência à preservação de sua diversidade cultural.

Nessa relação, um dos maiores enfrentamentos dos povos indígenas é o de, com toda a sua diversidade, existir em uma  sociedade com  ideal padronizante e limitadora das formas de existir no mundo, e que não compreende que os processos históricos vivenciados ao longo dos séculos afetaram de forma distinta os diferentes povos, modificando diversos aspectos sociais e culturais dessa população que segue ressignificando e resistindo pela manutenção de sua existência.

Sendo a universidade pública um espaço de transformação social, essa instituição tem papel fundamental na desconstrução de mecanismos que reforçam a associação de imagens estereotipadas e discriminatórias relacionadas aos povos indígenas, a partir de estratégias eficazes que garantam a construção de uma educação antirracista, contemplando a diversidade dos povos originário do Brasil.

A pandemia da covid-19 para as populações indígenas representa um grande desafio. Impôs mudanças culturais e causou alterações no modo de relacionar cotidiano das aldeias, forçando mudanças de hábitos preservados há séculos. Resultando em um agravamento da vulnerabilidade dos povos indígenas. Diante da omissão do Estado brasileiro e das políticas públicas ineficazes, os povos indígenas se mobilizaram e se organizaram para protegerem os seus territórios do avanço do novo coronavírus. Dessa forma, o Abril Indígena é marcado pela resistência dos povos indígenas à pandemia.”

Por Julliane Santos Correia e Rodrigo da Silva Corrêa
Estudantes da Faculdade de Medicina da UFMG e membros representantes dos estudantes indígenas na Comissão Permanente de Enfrentamento ao Racismo (CPER) da Faculdade de Medicina da UFMG.

Esta página é reservada a manifestações da comunidade universitária. Para ser publicado, o texto, com até 5000 caracteres, deverá versar sobre assunto de interesse da comunidade da Faculdade de Medicina, com enfoque amplo. Também deverá conter o nome completo do autor e seu vínculo com a universidade. O texto original poderá ser editado de acordo com as normas jornalísticas adotadas pela Centro de Comunicação Social. Sua publicação, porém, não exprime necessariamente a opinião da Faculdade de Medicina.