‘Outra estação’ aborda sono, sonhos e pesadelos na pandemia
No episódio 50, programa da Rádio UFMG Educativa focaliza estudos que buscam respostas para as noites mal dormidas
20 de julho de 2020 - ansiedade, isolamento social, pandemia, quarentena, saúde mental, sono, UFMG
“Eu sempre dormi muito bem, meu sono sempre foi muito tranquilo. Depois da pandemia, tudo mudou, radicalmente. Agora, eu me deito e não consigo mais dormir imediatamente. Vou dormir depois de meia-noite, acordo de madrugada, três, quatro horas da manhã”. O relato é do psicólogo Renê Augusto Lopes, 30.
Como ele, metade dos brasileiros teve alterações em seus padrões de sono desde o início da pandemia da covid-19. É o que mostram resultados preliminares de pesquisa que une a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e as universidades de Valência, na Espanha, e de McMaster, no Canadá.
Mais de 22 mil pessoas foram entrevistadas nos meses de abril e maio, no Brasil e na Espanha, por meio de questionário on-line. Entre os espanhóis, mesmo em meio a um cenário de lockdown no período da pesquisa, o índice de pessoas que relataram mudanças no sono foi menor: 38%.
De que maneira a ameaça de uma nova doença e as medidas de distanciamento social afetam o sono? E o que pode estar por trás dos relatos de pessoas que passaram a ter mais pesadelos? Em busca de respostas sobre o sono e os sonhos na pandemia, o episódio 50 do programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa, apresenta relatos de pessoas que passaram a dormir mal durante o período, conversas com especialistas na área e com cientistas que estão estudando o sono e os sonhos.
Uma das causas das mudanças de comportamento na hora de dormir são as alterações na rotina. “É importante, para a sincronização do nosso ritmo, para ter sono, que nos exponhamos à luz solar”, afirma o professor da Faculdade de Medicina da UFMG Rogério Beato, especialista em neurologia cognitiva e medicina do sono. “Naquele horário em que acordávamos e saíamos, mesmo sem o sol estar tão forte, já tínhamos um contato com um ambiente muito claro, que é diferente do da luz que ilumina os lares”, analisa.
Beato também menciona a importância de dormir bem para o bom funcionamento do sistema imunológico. Essa relação é tema de artigo publicado por pesquisadores da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG. O grupo alerta para a maior vulnerabilidade dos trabalhadores que trabalham no turno da noite à infecção pelo novo coronavírus.
“Nós começamos a identificar que, desde o início da pandemia, diversos trabalhadores noturnos, principalmente da linha de frente, médicos, enfermeiros, inclusive populações chinesas, japonesas, de diversos países, começaram a apresentar, durante o período de internação, um padrão imunológico muito diferente”, revela uma das autoras do artigo, a nutricionista e neurocientista Flávia Rodrigues.
Crise de pânico
“Eu acordo com crise de pânico, por causa dos pesadelos”, conta a biomédica Aline Ubuhle, 27, também entrevistada no programa.
Uma grande pesquisa nacional está em curso para descobrir aquilo com que os brasileiros estão sonhando durante a pandemia. O estudo envolve a Universidade de São Paulo (USP) e as universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS), do Rio de Janeiro (UFRJ), do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Ceará (UFC), com a participação da UFMG, por meio do projeto Sonhos confinados.
A psicanalista Isa Gontijo Moreira, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFMG, explica a importância da análise dos sonhos para observar, entre outros aspectos, como está a saúde mental das pessoas. “É um período para o qual nós não tínhamos nenhuma preparação subjetiva, nenhum repertório psíquico, lidamos com coisas que se presentificaram de forma muito abrupta. Mudanças na nossa vida, na nossa organização, tanto individual quanto social, que, não raramente, interferem na qualidade do sono das pessoas e aparecem nos sonhos também”, afirma.
Saiba mais
Resultados preliminares da pesquisa Hábitos saudáveis e estilo de vida durante a pandemia de covid-19, desenvolvida pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), pela Fundação Oswaldo Cruz e pelas universidades de Valência, na Espanha, e de McMaster, no Canadá.
Artigo publicado por pesquisadores da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG (EEFFTO), sobre a possível vulnerabilidade imunológica dos profissionais privados de sono noturno em relação à covid-19.
Pesquisa Sonhos confinados, que está investigando os sonhos dos brasileiros durante a pandemia. O estudo reúne pesquisadores da UFMG, da USP e das universidades federais do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Norte e do Ceará.
Produção
O episódio 50 do Outra estação é apresentado por Beatriz Kalil. A produção é de Alessandra Ribeiro, Arthur Bugre e Beatriz Kalil. A edição é de Paula Alkmim, coordenadora de jornalismo, e os trabalhos técnicos, de Breno Rodrigues.
O Outra estação aborda, semanalmente, um tema de interesse social. Na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM), vai ao ar às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h30. O conteúdo também está disponível nos aplicativos de podcast, como o Spotify.