Pacientes com cardiopatia reumática participam de atividade de educação em saúde

Evento é o primeiro a reunir pacientes e financiadores de programa de rastreamento da doença.


30 de agosto de 2022 - , , ,


Evento é o primeiro a reunir pacientes e financiadores de programa de rastreamento da doença.
Educação em saúde e programação científica se misturaram em evento Listen to my heart. Foto: Faculdade de Medicina da UFMG.

Pacientes com cardiopatia reumática puderam aprender mais sobre sua condição de saúde durante o evento “Listen to my heart”, realizado nesta terça-feira, dia 30 de agosto, na Faculdade de Medicina da UFMG. A ação promoveu o encontro de pessoas acometidas com o quadro e financiadores de pesquisas na área.

O grupo percorreu diversas estações montadas no Complexo do Laboratório de Simulação (Labsim) da Faculdade. Eles puderam ouvir os sopros característicos dessa cardiopatia, ver a bactéria Streptococcus pyogenes (causadora da febre reumática) no microscópio, tocar corações reais acometidos pela doença que fazem parte do acervo da Faculdade e acompanhar um ecocardiograma. As atividades foram guiadas por alunos da Faculdade, sob coordenação da professora do Departamento de Clínica Médica, Maria do Carmo Pereira Nunes.

A cardiopatia reumática é a consequência cardíaca da febre reumática aguda. No Brasil, são 10 milhões de casos de infecção pela bactéria causadora da doença por ano, sendo que 300 mil evoluem para febre reumática e 15 mil para cardiopatia reumática. Estima-se, também, que cerca de 50% das cirurgias cardíacas complexas no país sejam para tratamento das consequências da cardiopatia reumática.

O evento visa destacar a gravidade da cardiopatia reumática no país, frequentemente associada à pobreza e às más condições de vida. “Essa cardiopatia causa morte e sequelas crônicas, muitas vezes incapacitantes, em crianças e adultos jovens, gerando elevado custo social e econômico”, informa a professora da Faculdade de Medicina, Maria do Carmo Pereira Nunes.

Os acometimentos podem ocorrer ainda na infância. É o caso de R. G. P., que hoje tem 56 anos. “Os sintomas começaram quando eu tinha 3 anos, com inchaços nas articulações e episódios de epilepsia. Na época, me deram estimativa de vida de 21 anos. O principal tratamento que fiz foram as injeções recorrentes de benzetacil. Ao longo da vida joguei bola aos finais de semana e trabalhei como porteiro noturno e churrasqueiro, até que mais recentemente tive uma piora”, conta. 

Em 2011 os exames de R. G. P. indicaram a necessidade de dupla troca valvar. Atualmente ele se prepara para estar apto ao transplante cardíaco. “Essa oportunidade de aprender mais sobre a doença é muito legal”, celebra.

Outra participante do evento, S. E. também apresentou sintomas ainda na infância, com 11 anos. “Eu tinha dor nas articulações dos pés e joelhos. Muitos falavam que era manha minha, mas já era a doença. Aos 19 tive uma crise mais grave e fui diagnosticada”, relata. “Sou mãe de dois filhos e os médicos disseram que poderia ter tido outros dois”, se diverte. 

Apesar disso, as dores e o cansaço ainda a acompanham. “Não posso fazer nenhum exercício físico, nem varrer a casa estou conseguindo mais”, diz. Atualmente ela faz tratamento no Hospital das Clínicas da UFMG (HC) e aguarda cirurgia de troca de valva. 

Além das estações de educação em saúde, os pacientes acompanharam a apresentação de relatos de casos e participaram de mesas sobre gravidez e prática de esportes entre pessoas acometidas pela cardiopatia reumática.

Estiveram presentes representantes do Children’s National Hospital (Washington, EUA) e da Edwards Lifesciences Foundation da África do Sul, EUA e Brasil, que financiam pesquisas na área. Entre elas, o Programa de Rastreamento da Valvopatia Reumática (PROVAR), desenvolvido no HC desde 2014, em colaboração entre a UFMG e o Children’s National Health System, de Washington (EUA).