Pais presentes: paternidade ativa traz benefícios para pais e filhos

Programa de rádio Saúde com Ciência apresenta série sobre paternidade e importância de desmistificar seus tabus.


03 de agosto de 2020 - , ,


Quem já se deparou com propagandas e filmes em que o pai se resume naquele que brinca com os filhos e tem a função de provedor? E na vida real, quantas famílias ainda reproduzem esse papel paterno? Mas atenção, esse modelo de pai construído socialmente está se modificando e, cada vez mais, se discute o papel ativo do homem nos cuidados dos filhos.

O programa de Rádio Saúde com Ciência aborda a paternidade ativa e seus impactos. Ouça aqui.

“É profundamente saudável e desejável que os pais sejam amigos da criança, mas olhar a paternidade simplesmente como uma relação de amizade é simplificar de forma exagerada. A figura paterna é aquela que vai dar exemplo, que vai formar e educar o cidadão para a vida ”, observa o psiquiatra e professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Paulo Brasil.

Segundo documento sobre paternidade ativa elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), pai ativo é aquele que mantém uma relação que vai além do provimento financeiro. Ser pai, portanto, também inclui se preocupar com as necessidades do filho, construir vínculo emocional e estar atento as tarefas domésticas, bem como compreender a responsabilidade da paternidade.

Pai por adoção

Para o advogado e presidente da Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas (Abrafh), Saulo Amorim, a paternidade exige preparo e dedicação. “É abraçar e se preparar para os desafios do encontro de vida com os filhos e ter sensibilidade para entender que a cada fase da criança novas demandas surgem”, comenta Amorim, que também é coordenador do grupo de apoio à adoção “Cores da Adoção”.

Saulo Amorim escreve sobre paternidade em blog no facebook “Diário de Pai”. Arquivo pessoal/Saulo Amorim

Ele e o ex-companheiro adotaram o pequeno Teodoro, hoje com 3 anos, quando ainda era recém-nascido. Além do envolvimento diário, Saulo reforça a importância do pai na educação dos filhos.  

“Desejo que eu possa ser o meio pelo qual meus filhos entendam seu papel na sociedade, que eu possa dar exemplos de justiça social, do bem ao próximo, de cultivar valores altos e altruístas, principalmente do respeito ao próximo”, anseia Saulo.

Pais por estereótipos

O relatório “A Situação da Paternidade no Brasil: Tempos de agir”, do Instituto Promundo Brasil, mostra que 83% dos pais brasileiros relataram, em 2019, brincar com as crianças, enquanto 46% relataram cozinhar e 55 % a dar banho. Isso significa que parcela representativa da população ainda credita o papel do cuidar à figura feminina.

De acordo com o historiador e consultor Instituto, Luciano Ramos, apesar de avanços nos últimos anos, ainda existe um olhar muito estereotipado sobre ser pai.

“Nessa sociedade machista, o lugar de prover e ser uma figura mais periférica é do homem. Eles são meio que forçados pelo machismo a não ocupar esses lugares (do cuidado e educação) ”, analisa. Para Ramos, ainda há muito a se avançar para que o homem também seja visto como potencial cuidador.

Pai gestante

Os estereótipos de gênero também podem interferir na participação do pai durante a gestação. De acordo com a psicóloga e psicanalista, Gabriella Nazário Cirilo, professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, o pai que participa ativamente da gravidez, além contribuir para o conforto da mulher diante tantas mudanças, colabora para criar um vínculo familiar entre pai, mãe e o filho, antes mesmo do nascimento.

“É muito importante a troca do pai com a mãe dessa criança, com diálogo franco e honesto. Nessa conversa, é importante que ambos consigam dizer o que precisam e o que podem fazer frente a gestação dessa criança”, orienta a profressora.

Gabriella também sugere maneiras de o pai demonstrar apoio e participar ativamente, como acompanhar as consultas pré-natais e se informar sobre como ajudar a mulher a encarar os desafios da gestação.

Aos oito meses de gestação, a artista e pesquisadora Stephanie Boaventura conta que a participação ativa do seu companheiro permite gestarem juntos a mãe e o pai que irão ser. Para ela, a participação dos pais neste momento deveria ser normal entre os casais heterossexuais grávidos.

“Na gestação, ela (mãe) acaba aprendendo e se preparando para o parto, para alimentar, para os cuidado com o recém –nascido, além de se preparar emocionalmente para a parentalidade. Se o pai segue a vida normalmente e deixa para se tornar pai só após o nascimento, acaba tendo um desnível prático e emocional entre os dois”, considera.

Benefícios

A participação do homem na gestação, após o nascimento e em todas as fases da vida do filho tem impactos positivos na saúde materno-infantil, no desenvolvimento das crianças, para o empoderamento das mulheres e saúde e o bem-estar dos próprios homens.

Pais em ação
Para comemorar o Dia dos Pais, celebrado neste domingo, 9 de agosto, o Saúde com Ciência apresenta série que busca desmistificar antigos estereótipos sobre o que é ser pai. Confira a programação:
-> Situação da paternidade no Brasil
-> Paternidade ativa
-> Gestação paterna
-> Reconhecimento paterno
-> Pais por adoção

Sobre o Programa de Rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.