Sequelas neurológicas: prevenção e tratamentos mais específicos ainda estão em estudo

O programa de rádio e podcast Saúde com Ciência apresenta os principais achados da pesquisa, como as principais sequelas, e comenta as dificuldades para tratamentos nos serviços de saúde.


13 de junho de 2022 - , , , , , , ,


Perder a noção de espaço, ter falhas na memória e dificuldade de concentração. Esses são alguns dos sintomas da covid-19 que podem surgir ou permanecer por dias, meses e até anos mesmo após a fase aguda da doença. E isso até em quem teve a forma mais branda da infecção.

Os resultados prévios de estudo realizado pela Faculdade de Medicina da UFMG mostram que cerca de 25% dos participantes que tiveram a forma leve da covid, apresentaram déficits cognitivos, principalmente em relação à capacidade de orientação no espaço e de desenhar. Agora, os pesquisadores querem descobrir se a vacina reduz essas sequelas e como preveni-las e trata-las de maneira mais efetiva.

“O indivíduo está com covid-19, o que pode fazer para evitar que tenha covid longa e associada às alterações cognitivas? E uma vez desenvolvida as sequelas, o que a gente pode fazer? Existe algum tipo de terapia, de estimulação cerebral ou medicamento que vai auxiliar na recuperação dessas pessoas? ”, questiona o professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade, professor Marco Romano-Silva.

Ele é coordenador da pesquisa “Manifestações e sequelas neuropsiquiátricas da covid-19: aspectos clínicos e moleculares da Faculdade de Medicina da UFMG”, que se encontra na segunda etapa. O estudo, que já observou sequelas neurológicas em pessoas jovens que tiveram a forma leve da doença, com a média de 38 anos, também pode contribuir para chegar em tratamentos e intervenções em cada etapa da infecção, desde a prevenção até nos casos em que ocorram sequelas.

Para isso, o estudo busca respostas para entender como a infecção pelo coronavírus gera alterações cognitivas, o que possibilitará intervenções futuras.

“Precisamos entender, por exemplo, se o vírus entrou no sistema nervoso central ou se alterações periféricas, sem o vírus entrar no sistema nervoso, já são o suficiente para provocar alterações cognitivas”, observa o professor Marco Romano-Silva.

Ele explica que o cérebro é uma caixinha muito isolada do resto do organismo, com várias proteções trazidas pela barreira de massa encefálica. Por isso, ainda não se sabe se o vírus provoca inflamação dentro ou se gera uma inflação tão forte do lado de fora que reflete no cérebro de alguma maneira.

Sobre o estudo

Uma das hipóteses com indícios na literatura é de que as vacinas contra a covid funcionam como fator de proteção na recuperação da fase longa. Por isso, essa nova etapa do estudo busca verificar se as pessoas vacinadas também apresentam sequelas neurológicas.

Na primeira etapa, quando a pesquisa iniciou, haviam poucas pessoas imunizadas, o que não permitiu analisar os impactos das vacinas. Além da vacina, a pesquisa também vai verificar se a variante ômicron causa menos sequelas que as outras.

Para isso, estão sendo recrutados pessoas vacinadas, com idade entre 18 e 60 anos, que tiveram covid há seis meses, no máximo, com manifestação leve ou moderada. (Saiba mais sobre como participar).

A quem recorrer?

Quando os sintomas neurológicos da covid longa são observados, o recomendado é buscar auxílio profissional. Mas a quem recorrer?

“Tem dois pontos aqui. Como é uma coisa muito nova, mesmo que procure profissionais, pode ser que não associe com covid. Por isso, a intervenção é feita no sintoma, naquilo que traz dano pessoal importante”, explica o professor.

Segundo ele, psiquiatras e psicólogos são capacitados para intervir de alguma maneira. Mas o especialista analisa a necessidade de um ambulatório para receber e tratar pessoas com a covid longa.

“Acredito que a demanda já está acontecendo. Os serviços de saúde para saúde mental estão sempre saturados, são poucos os lugares que fazem o atendimento, principalmente em relação à covid. No SUS [Sistema Único de Saúde], a gente tem que seguir o sistema local, de procurar as unidades básicas de saúde”, orienta.

Saúde com Ciência

O programa de rádio e podcast Saúde com Ciência apresenta os principais achados dessa pesquisa, como as principais sequelas e como será essa nova etapa. O programa também comenta quais são as dificuldades para tratamentos nos serviços de saúde.

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.