Pesquisa investiga relação da disfunção do músculo subescapular após artroplastia
Percopi defendeu tese no programa de Ciências Aplicadas à Cirurgia.
13 de dezembro de 2017
Estudo demonstra que possível disfunção identificada no pós-cirúrgico de Artroplastia Total do Ombro (ATO), não influencia na qualidade do tratamento
Jayne Ribeiro*
Pesquisa realizada com 31 pacientes, portadores de doenças degenerativas em tratamento no Hospital Madre Teresa de Belo Horizonte, avaliou a integridade do tendão e da função do músculo subescapular no pós-cirúrgico de Artroplastia Total do Ombro (ATO).

O ortopedista Ronaldo Percopi defendeu sua tese junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Cirurgia. Foto: Carol Morena
O trabalho é do médico ortopedista, assistencialista no Hospital Madre Teresa, Ronaldo Percopi de Andrade, apresentado como tese e defendido junto ao programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Cirurgia e Oftalmologia da Faculdade de Medicina da UFMG.
O especialista explica que a cirurgia de ATO é indicada no tratamento de doenças degenerativas que fazem com que as articulações adoeçam e precisem ser substituídas. “No procedimento, substitui-se a junta doente pela prótese de uma articulação artificial, composta por metal e polietileno, próprios para uso em humanos”, relata. “A proposta da cirurgia é o alivio da dor e a melhora da funcionalidade afetada pelas doenças degenerativas”, continua o ortopedista.
Percopi explica que existe uma preocupação na literatura quanto a uma possível disfunção do músculo subescapular, causado pela artroplastia. “Há a preocupação quanto a disfunção estar relacionada à técnica que utilizamos no procedimento cirúrgico. No entanto, através do meu estudo, pude identificar que a disfunção existe independente da técnica e não interfere na qualidade da funcionalidade do procedimento”, afirma.
Para seu doutorado, Percopi analisou pacientes portadores de artrose, doença degenerativa articular que, segundo ele, pode acontecer em qualquer junta – local de junção entre dois ou mais ossos – do corpo. “As causas da artrose são pouco conhecidas, mas sabemos que causa muita dor e restrição dos movimentos das articulações”, conta. O especialista também relata que a ATO é indicada em outros tipos de patologias. “É a técnica indicada no tratamento de doenças inflamatórias, como a artrite reumatóide, em sequelas de traumas e até em fraturas agudas, nas quais há possibilidade de morte do osso”, explica.
Relação da disfunção do músculo com a cirurgia de artroplastia
O ortopedista afirma que a escolha do tema abordado no estudo está relacionado a uma percepção pessoal. “Eu detectei a disfunção do músculo que é abordado na cirurgia de artroplastia no meu dia a dia. Ao buscar na literatura, percebi que existia uma percepção deste problema”, conta. “Então, decidi investigar qual era a relação real da cirurgia com a disfunção muscular e até que ponto isso poderia interferir na funcionalidade do método”, relata.
Percopi informa que obteve os dados de seu trabalho através de estudo retrospectivo de uma série de casos, com comparação de dois grupos. O primeiro era um grupo de 32 ombros com artrose, os quais haviam sido operados por ele entre janeiro de 2010 e janeiro de 2015. O outro grupo era composto de 32 ombros saudáveis de pacientes da mesma faixa etária, sexo e dominância. “Com isso, eu pude comparar um grupo sadio, sem queixas, com um grupo que havia sido submetido à artroplastia”, afirma o médico.
Segundo o ortopedista, o estudo envolveu aspectos objetivos e subjetivos. Exames clínicos como medição de movimentos e de força, caracterizaram os dados objetivos, enquanto os aspectos subjetivos foram obtidos através de um questionário aplicado no pré e no pós-operatório.
“O questionário era composto por 17 perguntas que abordavam dificuldades relacionadas a movimentos no dia a dia dos pacientes. As respostas apresentavam o nível de dificuldade que tinham para exercer atividades como se vestir, fazer higiene pessoal e realizar práticas de lazer”, explicou.
Disfunção do músculo não influencia nos resultados funcionais
O médico ortopedista relata que seu estudo permitiu identificar que a cirurgia não provoca a ruptura do músculo subescapular mesmo com a disfunção. “Ao detectar a presença da disfunção, imaginava-se que tinha ocorrido uma ruptura do músculo durante a cirurgia. No entanto, verifiquei que esse fato não significa, necessariamente, que o tendão está rompido”, argumenta Ronaldo. Em 93,75% dos casos foi observado à integridade do tendão, de acordo com o médico.
O especialista afirma, ainda, que o problema não está na técnica da cirurgia, mas sim na qualidade muscular do paciente, uma vez que o público alvo do procedimento são pessoas com a faixa etária mais elevada. Ele destaca que, apesar de existir a disfunção em 78,1% dos casos, o resultado funcional da cirurgia é muito positivo. “É um procedimento altamente gratificante. Trabalhamos na ortopedia para a melhora da funcionalidade, que inclui melhora da amplitude de movimentos, da dor e da força e o estudo apontou que houve uma melhora no pós-operatório de todos os 32 ombros operados apesar da disfunção do subescapular estar presente em 78.1% dos casos”, conclui.
Título: A repercussão da Disfunção do Músculo Subescapular no Resultado Funcional da Artroplastia Total do Ombro para Osteoartrose primária
Nível: Doutorado
Autor: Ronaldo Percopi de Andrade
Orientador: Marco Antônio Percope
Coorientadora: Carla Jorge Machado
Programa: Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Cirurgia e Oftalmologia
Defesa: 31 de julho de 2017
*Redação: Jayne Ribeiro– estagiária de jornalismo
Edição: Deborah Castro