Pesquisador é o primeiro a concluir pós-doutorado do programa de Oftalmologia


27 de março de 2017


Rafael Vidal Mérula e Sebastião Cronemberger. Foto: Arquivo Pessoal

O oftalmologista Rafael Vidal Mérula foi o primeiro a concluir o pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Cirurgia e à Oftalmologia da Faculdade de Medicina da UFMG. Ele desenvolveu a pesquisa “Análise Tardia da Espessura da Camada de Fibras Nervosas Retinianas após o Fechamento Angular Primário Agudo Unilateral”, com orientação do professor do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia, Sebastião Cronemberger.

O pesquisador explica que o objetivo do trabalho foi observar as repercussões anatômicas tardias causadas por uma crise de glaucoma agudo, suas correlações com as alterações funcionais do olho e a análise de fatores que podem contribuir para os danos na visão. “A crise de glaucoma agudo ou fechamento angular primário agudo, acarreta danos graves e muitas vezes irreversíveis à visão de muitos pacientes”, afirma.

Segundo Rafael, a pesquisa foi desenvolvida em três anos e é um dos primeiros estudos no Brasil a investigar a relação entre esses fatores. “A motivação surgiu do fato de que pouco foi estudado sobre as lesões nas fibras nervosas retinianas ocasionadas por essa crise, lesões estas que podem levar a perdas definitivas do campo de visão”, destaca.

Metodologia

O estudo selecionou pacientes atendidos no Serviço de Glaucoma do Hospital São Geraldo/HC (UFMG) que tiveram uma crise de glaucoma agudo em apenas um dos olhos há mais de um ano. O olho afetado foi submetido a uma série de exames oftalmológicos, incluindo campo visual computadorizado e a tomografia de coerência óptica de domínio espectral. Para o controle dos dados foi utilizada a análise dos exames do olho contralateral não afetado.

“Após a análise dos dados podemos verificar uma perda acentuada de fibras nervosas retinianas dos olhos afetados pela crise”, explica. “Essa perda apresentava correlação com alterações no exame funcional de campo visual. Também notamos que a perda das fibras era maior quanto maior o intervalo de tempo entre o início dos sintomas e o início do tratamento”, explica.

Na pesquisa, Rafael relata que a perda das fibras, causadas pelo glaucoma agudo, potencialmente pode levar a cegueira. Os pacientes mais comumente acometidos pela crise são mulheres com elevada hipermetropia. A descendência oriental também é um fator de risco. “Estas características mencionadas estão associadas à presença de uma câmara anterior rasa (espaço reduzido entre a córnea e a íris), que é detectável em um exame oftalmológico de rotina, e pode acarretar no fechamento do ângulo de drenagem do humor aquoso originando o quadro abrupto de glaucoma agudo”, relata.

A lesão do nervo óptico pode ocorrer após um aumento repentino na pressão intra-ocular associada a um episódio de fechamento angular primário agudo. As crises de glaucoma agudo são acompanhadas geralmente de fortes dores oculares, dores de cabeça, turvação visual e até mesmo náuseas e vômitos. Segundo ele, não há dados disponíveis sobre os fatores que poderiam influenciar na gravidade dos danos funcionais e estruturais, em pacientes que tiveram a crise há muitos anos.

O especialista espera que o trabalho sirva de estímulo para outros colegas continuarem a desenvolver pesquisas na área. “Sinto-me honrado em ser o primeiro a concluir o pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Cirurgia e à Oftalmologia e agradeço as pessoas que me apoiaram e ajudaram a tornar este projeto possível”, conclui.

Redação: Débora Nunes | Edição: Mariana Pires