População de Brumadinho apresenta alta prevalência de sintomas psiquiátricos
Dados sobre sintomas depressivos do Projeto Saúde Brumadinho são similares aos encontrados em Mariana após os rompimentos de barragem.
08 de novembro de 2022 - brumadinho, Projeto Saúde Brumadinho, Rompimento de barragem, saúde mental
Estudo com participação da Faculdade de Medicina da UFMG aponta para altas prevalências de sintomas psiquiátricos entre a população de Brumadinho após o rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, ocorrido em 2019. Entre os temas pesquisados estão depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ansiedade, ideias de morte/automutilação e pior qualidade do sono.
Os sintomas depressivos foram a condição mais prevalente (29,3%), seguidos pelos sintomas de TEPT (22,9%) e sintomas ansiosos (18,9%). Os piores cenários foram entre mulheres, idosos, moradores da área mais próxima à mineração e pessoas com escolaridade de nível médio. A coleta foi feita por meio de entrevistas entre os meses de junho e dezembro de 2021. Foram incluídos na amostra 2.740 moradores adultos da cidade.
A professora do Departamento de Saúde Mental (SAM) da Faculdade de Medicina da UFMG, Maila de Castro, explica que esses grupos estão mais vulneráveis ao adoecimento em saúde mental e que precisam de uma atenção especial das autoridades. Além disso, a vulnerabilidade ao adoecimento é mais presente quanto maior a exposição ao desastre. “A vida ameaçada, a destruição de sua casa ou perder alguém querido são situações comuns em desastres e esses momentos são traumáticos para as pessoas”, aponta.
Chamou a atenção dos pesquisadores a semelhança da prevalência dos sintomas depressivos encontrados na escala de rastreio aplicada em Brumadinho com o alto índice de diagnósticos de depressão em Mariana, apontados no relatório da Pesquisa sobre a Saúde Mental das Famílias Atingidas pelo Rompimento da Barragem do Fundão em Mariana (Prismma), que chegou a 28,9%. Essa prevalência é cerca de cinco vezes maior do que a descrita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a população brasileira, em dados de 2015.
A pesquisadora entende que os dados reforçam a magnitude dessas tragédias. “Apesar de termos a percepção de uma resposta mais imediata de órgãos públicos e sociedade civil se compararmos com a tragédia em Mariana, o que vemos nas pesquisas é uma similaridade entres os afetados, revelando que o impacto na saúde mental é muito grande”, enfatiza.
A pesquisa faz parte do Projeto Saúde Brumadinho, coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz em Minas Gerais (Fiocruz Minas) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com participação da UFMG. Também apoiou a iniciativa o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O artigo foi publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia e, além da professora Maila de Castro, também participou da pesquisa o professor do SAM Frederico Garcia. O financiamento é do Ministério da Saúde.
O artigo ressalta que a coleta de dados ocorreu em 2021, durante a pandemia de covid-19. Nesse período, estudos de diferentes países, incluindo o Brasil, mostraram altas taxas de transtornos psiquiátricos devido às medidas de distanciamento social. Assim, a alta prevalência de sintomas psiquiátricos em Brumadinho pode ser resultado, também, do impacto negativo da pandemia e não apenas pelo rompimento da barragem.
Agora, a expectativa da equipe é seguir o acompanhamento longitudinal, para que seja possível acompanhar a saúde do grupo ao longo dos próximos anos e traçar relações de causalidade.
Projeto Saúde Brumadinho
O Projeto Saúde Brumadinho é uma pesquisa coordenada pela Fiocruz Minas e pela UFRJ, com participação da UFMG, que avalia as condições de saúde daqueles que vivem no município de Brumadinho. Essa pesquisa foi solicitada pelo Ministério da Saúde e visa produzir informações importantes sobre as condições de saúde da população residente no município, auxiliando o serviço de saúde a oferecer melhor atendimento aos moradores.
Os primeiros resultados foram publicados em dossiê na edição atual da Revista Brasileira de Epidemiologia, no dia 28 de outubro. São 13 artigos e um editorial que analisam a situação pós-rompimento da barragem. Além do Projeto Saúde Brumadinho, a iniciativa contempla o Projeto Bruminha, realizado com crianças de até quatro anos de idade no momento do rompimento.
A professora Maila de Castro celebra essa parceria entre as instituições. “Houve grande mobilização de órgãos do Estado e da sociedade civil, o que é muito positivo. Esse é mais um exemplo da Universidade cumprindo seu papel de transformação social e de colaboração multidisciplinar, em um grande esforço da ciência brasileira”, finaliza.
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