Por que mais de 90% dos pacientes de hemofilia são homens?

Em podcast, professora explica diferentes tipos da doença e os tratamentos disponíveis.


13 de setembro de 2024 - , ,


De acordo com o Ministério da Saúde, em 2021, o Brasil tinha mais de 13 mil pacientes de hemofilia. Estima-se que mais de 90% dos hemofílicos sejam homens. De acordo com a professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG e convidada do Saúde com Ciência, Suely Meireles Rezende, isso se dá porque a doença afeta o cromossomo X de forma recessiva.

A hemofilia é uma doença hereditária ligada ao cromossomo X. Portanto, ela é transmitida pelas mães a pacientes homens de forma hereditária. Por homens possuírem apenas um cromossomo X, é o suficiente para o desenvolvimento da doença. Já em mulheres, a doença somente ocorre quando ambos pai e mãe são portadores do cromossomo X comprometido, o que é particularmente raro, mas possível. Na maioria dos casos, as mulheres têm apenas um de seus cromossomos X comprometidos, e são chamadas portadoras de hemofilia, enquanto uma pessoa que sofre com a doença é chamada de hemofílica(o).

Tipos da doença

Segundo a professora Suely Resende, a hemofilia pode ser dividida em duas classificações: congênita (ou hereditária); e adquirida. A forma congênita é a mais comum: ocorre na gestação, através da passagem do cromossomo X comprometido ao bebê. Já a hemofilia adquirida pode acontecer ao decorrer da vida, em função de um distúrbio autoimune na produção de anticorpos.

Além disso, a hemofilia possui dois tipos: A e B. Essa divisão se dá em função do fator de coagulação afetado. Segundo a professora Suely, a hemofilia é uma doença hemorrágica que aparece em pessoas com dificuldade de coagulação sanguínea, transformando até mesmo sangramentos corriqueiros em hemorragias importantes. A hemofilia tipo A é causada pela deficiência do fator VIII de coagulação, enquanto a do tipo B, pela ausência do fator IX.

Opções de tratamento

Apesar de não ter cura, a hemofilia é uma doença tratável. Esse tratamento se dá através da reposição dos fatores de coagulação (VIII para a hemofilia A e IX para a hemofilia B). Esses fatores podem ser produzidos através do plasma obtido pela doação de sangue, ou até mesmo sintetizados em laboratório.

Os fatores são aplicados por uma injeção intravenosa, segundo a professora, em torno de duas ou três vezes por semana, a depender da gravidade do caso. Ela aponta que os casos mais leves podem nem mesmo requerer aplicações predeterminadas, e, nesses casos, o paciente realiza o procedimento apenas quando tem uma hemorragia.

A professora Suely finaliza reforçando que os exames, o acompanhamento e os medicamentos necessários peara o tratamento da hemofilia estão todos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).

“Hoje, o paciente consegue viver uma vida muito próxima do normal. Óbvio que ainda exige uma infusão venosa, duas a três vezes na semana. Mas é muito diferente do que eu via quando era residente em hematologia, quando comecei minha carreira, na década de 90. Eu penso que a gente, nos últimos 20 anos, principalmente no Brasil, evoluiu muito no tratamento da hemofilia. Graças a isso, os pacientes têm uma qualidade de vida hoje que é muito diferente. Infelizmente, os pacientes mais velhos ainda carregam com eles essa sequela de um tratamento que não existia na época deles”.

Professora Suely Meireles Resende

Ouça o podcast na íntegra:

Saúde com Ciência

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O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelas principais plataformas de podcasts.