Preocupação e medo podem levar à ansiedade


26 de novembro de 2014


“A ansiedade é resultante de uma resposta fisiológica do organismo, ao se deparar com uma situação de perigo real ou imaginária”, explica o professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Fernando Silva Neves. Segundo ele, o objetivo é a autopreservação, e todo o organismo (sistema nervoso, cardiorrespiratório e locomotor) é ajustado para afastar o perigo.

As situações de perigo na atualidade são incontáveis: a pessoa pode ter medo de sofrer acidentes, assaltos e de não ser correspondido nas expectativas individuais e coletivas. O nível de preocupação pode se tornar desproporcional e incontrolável, o que gera quadro chamado de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). O quadro é caracterizado quando a agitação, cansaço fácil, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular, e distúrbios do sono são vivenciados de forma exacerbada, por um período superior a seis meses.

De acordo com o professor, o transtorno se inicia em torno dos 35 anos nas mulheres, e 45 anos nos homens, mas as causas para o seu desenvolvimento podem surgir ainda na infância. “Diferentemente do que ocorre em outros transtornos psiquiátricos, a participação de fatores genéticos é modesta, respondendo apenas por 15% a 20% da causalidade. Os agravos ambientais, principalmente os que ocorrem antes dos 10 anos de idade, tem um grande potencial para desorganizar o funcionamento do eixo hipotálamo-pituitario-adrenal (HPA), o principal sistema a ser ativado em situações de perigo”, diz Fernando Neves.

ansiedade

Foto: reprodução/internet

Entre os agravos ambientais na infância, destaca-se o abuso físico, psicológico e o desamparo. Na fase adulta, os motivos incluem eventos traumáticos como desastres naturais, assalto, acidentes e estresse crônico. “Em ambos ocorre uma exacerbação do funcionamento do eixo HPA, que estará acionado mesmo fora de situações de perigo”, explica.

O que é?
O transtorno pode passar despercebido por muitos pacientes, que acreditam ser normal a ansiedade sentida e a atribui a dificuldades específicas da vida. “Assim, surgem argumentos como “tenho razão de ser ansioso porque tenho muitas responsabilidades”, ou “sou pai e mãe dos meus filhos”, ou “tenho de ser ansioso porque todos ao meu redor não se preocupam com nada”, exemplifica Fernando Neves. Para ele, a questão não é o problema em si, mas a forma na qual são vivenciados.

E tudo vira uma bola de neve. O estado contínuo de ansiedade afeta negativamente a capacidade cognitiva do individuo, tornando-o mais susceptível a experimentar outros eventos traumáticos. “Por exemplo, ao dirigir uma pessoa excessivamente ansiosa não consegue focar a atenção no que é relevante a cada momento, tenta capturar todo o processo simultaneamente, entra em fadiga e acaba sofrendo um acidente”, diz o especialista.

Rótulo
A família também pode se enganar quanto à gravidade do quadro de ansiedade observado no paciente. “Devido ao caráter crônico e insidioso dessa condição, o paciente pode ser rotulado de “ansioso”, como se essa fosse uma característica de personalidade e não uma doença a ser tratada”, conta.

Com a demora no diagnóstico, os prejuízos ocasionados pelo transtorno podem acometer outras pessoas. De acordo com o especialista, familiares de pessoas ansiosas, especialmente os filhos, podem ser mais negligentes, em resposta a ansiedade dos pais. “O tipo de pensamento pode ser o de “não preciso me preocupar porque minha mãe preocupa por mim” ou impotentes no enfrentamento das adversidades da vida por causa de ser constantemente alertado dos “perigos” desde a infância pelos pais ansiosos”, alerta.

Evolução
A depressão é uma doença que tem possibilidade de ser desenvolvida com o transtorno de ansiedade generalizada. O professor Fernando Neves informa que um estudo acompanhou cerca mil pacientes entre o nascimento e os 32 anos de idade. Os resultados mostraram que 70% dos que tinham histórico de ansiedade evoluíram com depressão, e 50% com depressão, evoluíram com ansiedade.

Os pacientes com TAG podem apresentar ainda alterações no sistema imunológico, fatores de risco para diversas doenças como diabetes, infarto do miocárdio, obesidade, infecções e alguns tipos de câncer.

Tratamento
O transtorno pode e deve ser tratado. Segundo o especialista, para melhores resultados ao tratamento é preciso combinar os farmacológicos e psicológicos. A resposta será ainda melhor se as patologias associadas ao transtorno, como a depressão, também forem identificadas e tratadas.