Problemas urinários são comuns em crianças portadoras de Déficit de Atenção


06 de outubro de 2015


Notícia publicada na edição nº 47 do Saúde Informa

Reconhecimento da relação entre distúrbios pode contribuir com tratamento

Sintomas do Trato Urinário Inferior (TUI), caracterizado por alterações na fase de armazenamento e eliminação da urina, são prevalentes em crianças e adolescentes portadoras de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Esta relação tem sido demonstrada pela literatura internacional. Para analisar esta correspondência em nível local, a fisioterapeuta Fabiane Ramos de Araújo realizou uma pesquisa com pacientes do ambulatório de Déficit de Atenção e Hiperatividade do Hospital das Clínicas da UFMG.

O estudo fez parte da dissertação de mestrado, defendida no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da UFMG. “Era pouco comum que fisioterapeutas trabalhassem com crianças em estudos nesta área”, conta a pesquisadora.

“Para o estudo foram realizadas 90 entrevistas com crianças e adolescentes, entre 5 e 17 anos, com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e os respectivos pais ou responsáveis. Este grupo era composto por 71 meninos e 19 meninas. A pesquisa foi realizada no período de junho de 2012 a novembro de 2013.

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Infográfico: Laís Petrina

Estudo comparativo

O estudo transversal utilizou dois questionários. O primeiro tratava, principalmente, dos sintomas urinários ou gastrointestinais, como perda fecal e urinária, e fatores ambientais do cotidiano da criança. O outro estudo era composto por 26 questões e investigava a desatenção, a hiperatividade e outros, como o Transtorno Desafiador de Oposição, quando a criança desafia regras impostas.

A fisioterapeuta declara que não há estudos que confirmem a causa, mas a relação entre a associação de sintomas de TDAH e sintomas do TUI foi encontrada. O estudo constatou que crianças com Transtorno Desafiador de Oposição apresentam taxas mais elevadas de perda involuntária de urina durante o dia, com ou sem enurese (qualquer perda de urina durante o sono) do que as com Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Um total de 27,8% das crianças e adolescentes com TDAH apresentavam sintomas de TUI. Destes, 41,1% tinham urgência; 33,3% incontinência urinária diurna isolada ou associada com enurese; 8,9% incontinência fecal; 7,8% manobras de contenção; 5,6% micções infrequentes; 3,3% infecção do trato urinário e 82,2% constipação.

Os meninos apresentaram maior índice de TDAH, sendo 3,7 vezes maior que em meninas. Não houve diferença nas características dos sintomas em relação às meninas. No entanto, elas apresentavam maiores taxas de sintomas do TUI (4,1 vezes) do que os meninos. Outra observação aponta que 82,2% das crianças avaliadas apresentavam sintomas de constipação intestinal.

Outra grande questão

De acordo com a pesquisadora, os resultados da pesquisa podem afetar a atuação profissional e abrir novos campos para pesquisas na área, facilitando o diagnóstico. “Muitas vezes, as crianças com TDAH aderem menos ao tratamento ou tem maior dificuldade em completá-lo”, informa.

Para Fabiane, integrar os tratamentos é fundamental. “Como fisioterapeuta, nunca havia questionado se uma criança com sintomas do trato urinário inferior era portadora de TDAH ou de TDO”, relata. Ela lembra que os dois transtornos associados aumentam muito a chance de que uma criança desenvolva incontinência urinária. “Não adianta tratar um sintoma e não encaminhar a criança para tratar os outros. Conhecer esta relação facilita o diagnóstico e permite a associação do tratamento fisioterápico ao psiquiátrico e psicológico. Esta ação conjunta aumenta muito a qualidade de vida da criança e da família”, conclui a pesquisadora


Título
: Prevalência de sintomas do trato urinário inferior em crianças e adolescentes com diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade

Nível: Mestrado

Autora: Fabiane Ramos de Araújo

Orientadora: Eleonora Moreira Lima

Coorientadora: Mônica Maria de Almeida Vasconcelos

Programa: Saúde da Criança e do Adolescente Defesa: 29 de maio de 2015