Alexander Birbrair

Nas situações difíceis da vida, às vezes você para pra pensar e valorizar o que é realmente importante

Alexander Birbrair não quis ser jornalista, porque antes de ingressar na graduação teve o exemplo de um amigo mais velho que sofria em um jornal que o forçava a escrever o que não concordava. Não quis ser advogado, porque receava ter que defender quem está errado, também pelo dinheiro. Foi assim, por eliminação, que ele chegou à medicina e se inscreveu em universidades de cidades litorâneas, já que na época tinha o surfe como hobby.

Aprovado na primeira fase em medicina na Universidade Federal do Ceará, onde chegou aos sete anos de idade depois de nascer na União Soviética e morar em Israel, Birbrair escolheu outro curso em que foi aprovado, recém-inaugurado à época: biomedicina. O novo destino do ainda estudante era Ilhéus-BA, porque um dos requisitos obrigatórios para se inscrever em medicina na Universidade Estadual de Santa Cruz era o conhecimento da língua inglesa e ele sequer sabia o verbo to be.

“Quando eu fui pesquisar sobre o curso de biomedicina, vi que era exatamente o que eu queria. Eu conseguiria ser pesquisador na área médica e trabalhar com todas as doenças. Hoje em dia, a gente até tem biópsia de paciente e trabalho com o ser humano também, mas eu não precisaria lidar com a pessoa em si”, lembra o professor. Não que ele seja antissocial, sua preocupação com a medicina consistia em não saber como reagiria se fosse um cirurgião na tênue linha entre a vida e a morte.

Se a escolha pela biomedicina não foi isenta de críticas pelas pessoas mais próximas, com exceção dos pais professores, parece ter sido acertada ao se conhecer o currículo de Alexander Birbrair. No auge dos seus 31 anos, ele é PhD e professor do Departamento de Patologia Geral do Instituto de Ciências Biológica (ICB/UFMG), pesquisador colaborador da Faculdade de Medicina da UFMG e membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Outras distinções são, para ele, essenciais à sua apresentação: pai de Tamar Ahava Birbrair, de dois anos, e casado com a artista e contadora Veranika Ushakova.

De volta ao Brasil depois de aprender inglês e morar por dez anos nos Estados Unidos, colegas de departamento o questionaram sobre ter deixado o norte, onde tinha um currículo respeitável e toda a estrutura necessária. Mas Birbrair sempre teve claro o que queria, lição que tenta transmitir aos alunos brasileiros que ele define como “maravilhosos”. Lá, o tempo para a família era escasso: ele quase não via a mulher e a filha e não pôde estar perto da mãe quando ela foi diagnosticada e venceu um câncer de mama.

As vitórias eram menos valorizadas: os dias seguintes às publicações na Science e Nature, duas das principais revistas científicas, foram praticamente como qualquer outro. Alex Birbrair, que declara se sentir mais brasileiro do que muitos, prefere comemorar seus feitos no calor de casa. “Você é um jogador de futebol brasileiro muito bom, mas não é convocado e vai jogar pela Espanha ou outra seleção. Não é a mesma coisa fazer um gol por uma seleção que não é a sua – era mais ou menos esse sentimento”, compara.

Texto, produção e apresentação: Lucas Rodrigues
Fotos: Carol Morena

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