Paulo Caramelli

Não sei se estou sendo mestre dos meus alunos como os meus foram para mim. Quem sabe no futuro eu tenha retorno semelhante, mas eu acho isso muito importante

Um sol, um trem, as montanhas. A capa alaranjada do disco Geraes, desenhada pelo próprio Milton Nascimento, guarda na contracapa uma foto de parte da plateia de um show amontoada em um pequeno morro, entre árvores da Universidade de São Paulo (USP). Naquele dia de sol, estão eternizados no canto da página a mãe, parentes e amigos da família Caramelli, residente em São Paulo, fascinada pela música do Clube da Esquina e outras mineiridades.

Era julho de 1974 quando o professor titular da Faculdade de Medicina e coordenador do serviço de neurologia do Hospital das Clínicas da UFMG, Paulo Caramelli, nascido e criado na capital paulista, conheceu Minas Gerais. A viagem em família o levou, dentre outras cidades históricas, à Diamantina e seu Beco do Mota, tema de uma música de Milton com Fernando Brant, que o médico admirava. Quis o destino que ele se casasse com uma mineira, também médica, e fosse morar em Belo Horizonte.

Esse mesmo destino, para o professor implacável apesar de ser possível ajudar a construí-lo, interrompeu uma infância até então feliz quando ele tinha 11 anos, um ano depois dessa viagem. O acidente automobilístico que vitimou o pai e o irmão mais velho deixou o caçula Paulo, terceiro de três irmãos, na companhia da mãe, que ele define como extraordinária por privilegiar uma formação moral e cultural, e do irmão que se tornou referência não somente pessoal, assim como foi o pai. Os que partiram deixaram como presentes também os amigos.

“A gente sempre brincou que eu e meus irmãos éramos fruto da união de duas pessoas que se conheceram em função de dois prêmios dados a um artista plástico”, recorda Paulo Caramelli. No fim dos anos 1940, logo após a segunda grande guerra, seu pai, italiano, então estudante de Medicina em Florença, conheceu um artista plástico carioca na mesma cabine de um trem que rumava para a Bienal de Veneza. O pintor, que morou três meses em Paris e outros três em Florença nessa época, estava lá graças a um prêmio recebido pela Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

Alguns anos antes, ao receber esse mesmo prêmio para viajar pelo Brasil, ele conheceu a mãe de Caramelli no interior do Rio Grande do Sul, onde ela nascera. Foi esse artista plástico que convidou seu pai a vir ao país e apresentou-os no Rio, imaginando que tinham coisas em comum. “Desde cedo, meu pai teve esse interesse por arte, pintura, música, literatura… E minha mãe, que era advogada, também. E isso permeou a nossa casa, a nossa vida, desde sempre”, lembra, com uma ponta de saudade e outra de orgulho, o professor Paulo Caramelli.

Texto, produção e apresentação: Lucas Rodrigues
Fotos: Carol Morena

Página Inicial

Voltar