Psicometria computacional e inteligência artificial abrem novas perspectivas para a saúde e a educação

Capítulo de livro gratuito liderado por pesquisador do INCT em Neurotecnologia Responsável apresenta abordagem mais precisa para interpretar características psicológicas e valoriza importância da Pesquisa e Inovação Responsáveis como caminho para tecnologias mais éticas e socialmente orientadas.


23 de setembro de 2024 - , , ,


 A psicometria computacional permite analisar sentimentos e comportamentos como se fossem dados computacionais, com validade e fidedignidade. Logo, pode ser usada também para testar habilidades análogas às humanas em modelos de inteligência artificial, e muito mais. Imagem: Freepik.

A avaliação psicológica e educacional é um processo que busca descrever, além das áreas já expressas, também características sociais, cognitivas e biológicas que podem condicionar o funcionamento mental das pessoas. Por meio da psicometria, um campo da psicologia, são usadas técnicas matemáticas e estatísticas para avaliar dados comportamentais e mentais e relacionar respostas ou padrões de respostas com amostras de comportamento.

Com o avanço da tecnologia surge a psicometria computacional, que vai mais além. Usando técnicas e algoritmos de inteligência artificial, essa abordagem consegue aprimorar a precisão e a acessibilidade dessas análises do funcionamento psicológico. Conhecer melhor esse desempenho permite desenvolver processos mais assertivos para a interpretação de informações de saúde mental, como depressão e ansiedade. Conjugadas com exames e observação clínica, essas informações podem ajudar a aprimorar o processo de diagnóstico e de tomada de decisão de psiquiatras, neurologistas e pediatras.

Com o intuito de reunir o que há de mais atual no campo dos transtornos do desenvolvimento, a editora Cesmac acaba de lançar um livro, gratuito, que traz um capítulo especialmente voltado para o registro do atual estágio da psicometria computacional, mostrando seus últimos avanços, sua confiabilidade e precisão.

“Trata-se de um conjunto de métodos que permitem testar, de modo prático, concepções teóricas mais complexas. E, isso, torna possível produzir informações com propriedades psicométricas adequadas para oferecer suporte ao processo de tomada de decisões do profissional que pretende usar a informação de forma objetiva”, afirma Alexandre Luiz de Oliveira Serpa, doutor em psicologia e pesquisador do INCT Neurotecnologia Responsável, rede de pesquisa nacional sediada no Centro de Tecnologia em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da UFMG.

Serpa, que também é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, onde se dedica principalmente ao estudo da psicometria computacional, escreveu o capítulo em colaboração com Jessica Mayumi Maruyama e Matheus de Melo Rodrigues.

Além de abordagens psicológicas ou médicas

Na área da saúde, esclarece o professor, ao analisar dados fisiológicos e comportamentais a psicometria computacional pode aprimorar ferramentas de diagnóstico e personalizar tratamentos. Na educação, o uso desse conjunto de técnicas possibilita criar sistemas de aprendizagem adaptativa, que ajustam conteúdo e ritmo de ensino às necessidades individuais dos alunos. Desse modo, pode contribuir para além de soluções de abordagens médicas e psicológicas, também para outras áreas, como fonoaudiologia, pedagogia, e outras profissões.

O cientista ressalta ainda a importância de enfrentar os desafios éticos e técnicos associados a essa tecnologia. “A privacidade dos dados, a prevenção de vieses nos algoritmos e a acessibilidade universal são questões fundamentais”, avalia. Para ele, o conceito de Pesquisa e Inovação Responsáveis (PIR) é de extrema relevância para guiar a aplicação ética de novas tecnologias. “Inclusão, antecipação de riscos e responsabilidade social, dentre os demais princípios propostos pelo PIR, pode beneficiar a sociedade e fazer avançar as práticas científicas de forma mais transparente e mais colaborativa”, afirma Alexandre Serpa.

Ao associar inovação e responsabilidade o resultado de uma tecnologia tende a ser mais inclusivo e mais socialmente orientado, e seus impactos nas várias dimensões da vida tendem a ser previsíveis. O INCT NeuroTec-R adota o PIR e tem como princípios: governança, ética, igualdade de gênero, acesso aberto e engajamento público, tendo ainda como diretrizes: antecipação, reflexividade, inclusão e responsividade.


Redação: Marcus Vinicius dos Santos – Jornalista CTMM Medicina / UFMG