Psiquiatra fala sobre loucura e cinema na Medicina


24 de maio de 2011


Elie Cheniaux analisou casos de transtornos mentais exibidos em tela grande

Distimia foi o diagnóstico dado pelo psiquiatra e professor Elie Cheniaux a Alvy Singer, um humorista judeu, divorciado, que, bastante pessimista, chega a dizer à namorada que “a vida é dividida entre o horrível e o miserável”. Mas Alvy não passa de um personagem do filme de ficção “Annie Hall” (Noivo neurótico, noiva nervosa), obra de Woody Allen, cineasta mestre em criar figuras densas e, para os leigos, um tanto quanto problemáticas.

Enie Cheniaux fala sobre loucura e cinema na Medicina.

John Nash, de “Uma Mente Brilhante” e Travis Bickle,  “Táxi Driver”, também são personagens cinematográficos analisados por Elie Cheniaux e pelo psicólogo Jesus Landeira-Fernandez, autores do livro “Cinema e loucura: conhecendo os transtornos mentais através dos filmes”. Sobre esse tema, Cheniaux proferiu, nesta terça-feira, 24 de maio, uma palestra na Faculdade de Medicina da UFMG.

“O cinema, com algumas exceções, costuma apresentar uma visão distorcida dos transtornos mentais. Mas ele tem o compromisso de ser interessante, artístico e, claro, comercial”, alerta Cheniaux. Segundo o psiquiatra, é comum que os filmes mostrem os chamados “loucos” como pessoas “perigosas”, “revolucionárias” ou simplesmente “incompreendidas”.

Em “Uma Mente Brilhante”, por exemplo, o personagem de Russel Crowe, embora inspirado em um caso real, apresenta sintomas de esquizofrenia verídicos e outros que, provavelmente, só existiram na mente criativa do roteirista Akiva Goldsman. “Nash tem alucinações visuais, o que é muito raro em casos de esquizofrenia. Mas o cinema é visual mesmo. O diálogo, para mim, por exemplo, é periférico”, reflete.

Com análise minuciosa, os autores conseguiram reconhecer em 184 filmes casos de dezenas de transtornos mentais catalogados pela medicina. “Esquizofrenia, por exemplo, é bem retratado. Já déficit de atenção e hiperatividade, só encontrei em um filme, que não gostei”, diz, referindo-se ao longa-mentragem “Impulsividade”.

Cinéfilo assumido, Elie Cheniaux  recomenda o cinema para o lazer e para despertar o interesse e curiosidade sobre transtornos mentais. Para saber com mais precisão sobre o assunto, porém, “é melhor recorrer aos livros”, decreta o psiquiatra, também autor do livro “Manual de Psicopatologia”, usado por estudantes do curso de Medicina da UFMG.