Quando o câncer se torna doença crônica: conheça o câncer de mama metastático

Doença é caracterizada pelo aparecimento do câncer em local diferente de onde se iniciou.


31 de outubro de 2018


Progressos no tratamento do câncer de mama metastático permitem mais qualidade de vida e menos restrições às pacientes. 

“Quando você recebe o diagnóstico você leva um baque: uma doença grave, com um tratamento agressivo. E, então, a gente processa, se prepara e vai para luta”. É assim que Gracie Rodrigues Serafim, de 58 anos, resume sua jornada desde que descobriu um câncer de mama avançado, no fim de 2016.

Foto: Carol Morena

A capixaba de Vila Velha, Espírito Santo, já havia vencido um tumor na mama seis anos mais cedo. À época, ela recebeu tratamento medicamentoso e cirúrgico, além de cinco anos de terapia complementar. Mesmo assim, Gracie, como muitas outras mulheres, precisou enfrentar com coragem um novo diagnóstico da doença. Dessa vez, os exames indicavam metástase, que é quando o câncer aparece em um local diferente de onde foi identificado pela primeira vez.

De acordo com o oncologista André Murad, professor do Departamento de Clínica Médica e coordenador da disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG, o câncer de mama metastático é considerado uma forma crônica da doença. Isso porque, nesses casos, existem células tumorais circulantes, que devem ser tratadas, via de regra, para sempre.

Mesmo com tratamento permanente, as pacientes que convivem com o câncer de mama avançado têm tido acesso a progressos científicos que permitem mais qualidade de vida e menos restrições. “Vivemos uma mudança de paradigma, com o desenvolvimento das chamadas drogas “alvo-moleculares” ou “alvo-específicas”. Chegamos à fase da Oncologia customizada. As drogas são cada vez mais específicas para cada tipo de tumor. Isso quer dizer menos efeitos adversos do que na quimioterapia tradicional”, informa o oncologista.

As mudanças para melhor já aconteceram na vida de Gracie. Depois de se submeter apenas ao tratamento quimioterápico convencional, ela teve acesso a uma medicação mais recente, derivada da esponja marinha: a Eribulina, que ainda não faz parte da lista de drogas disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Tive medo de como ia ser a minha reação ao tratamento, mas os efeitos colaterais estão mais tranquilos em comparação com minhas experiências anteriores. Me sinto melhor e mais disposta”, confidencia.

Com menos efeitos colaterais, sobra mais energia e bem-estar. “Tenho tido a oportunidade de levar uma vida normal, dentro dos meus limites. Cuido da saúde, comendo bem, fazendo exercícios e, sobretudo, estando perto de quem me faz bem. Quando sinto vontade, me protejo do sol e vou à praia. Quero continuar vivendo bem, feliz, sorrindo”, afirma.

Mesmo as pacientes que realizam o tratamento na rede pública já podem ter acesso a alguns desses novos medicamentos, com menos efeitos colaterais que os tradicionais. É o caso do Trastuzumabe, que está disponível para as usuárias do SUS e é indicado para tumores do tipo HER2 positivo, que acomete até 30% das pacientes.

Como surgem as metástases

Apesar de poder se desenvolver em qualquer paciente, Murad comenta que o surgimento de metástases está relacionado à extensão inicial do tumor primário e de suas características biológicas, patológicas e, principalmente, genéticas. “Várias alterações genético-moleculares e genômicas hoje são identificadas como responsáveis pelo comportamento mais agressivo do tumor, como a presença de hiperexpressão do gene ERBB2, a assinatura molecular do tipo triplo-negativo e basaloide. Esses marcadores aumentam as chances das metástases”, aponta.

O professor esclarece que o mapeamento dessas características genéticas dos tumores é possível graças aos progressos da biologia molecular. Com essas informações, é possível indicar as melhores opções terapêuticas ainda nos cânceres primários, de forma individual, reduzindo os riscos das metástases.

“Para evitar que o câncer volte ou se espalhe para outros órgãos, é realizado o chamado tratamento adjuvante, feito depois da cirurgia para retirada do tumor. Essas intervenções complementares são feitas à base de radioterapia, hormonoterapia, quimioterapia e terapia alvo-molecular”, enumera Murad.

Ele ressalta que, mais recentemente, a imunoterapia começou a ser testada no tratamento do câncer de mama do tipo triplo negativo, com resultados iniciais bastante promissores.

Para Gracie e outras pacientes diagnosticadas com cânceres avançados, essas são notícias importantes e promissoras. “É importante que a gente converse com o médico para conhecer as medicações que tomamos e saber quais são os avanços e tratamentos que estão sendo descobertos. Essas novidades são importantes na nossa qualidade de vida”, conta.

Além disso, o professor assinala que a rápida expansão do entendimento da genética e da genômica vai, cada vez mais, proporcionar medidas preventivas e diagnósticos mais precisos. “O custo dos exames genéticos também tem caído, o que significa a possibilidade de um tratamento mais eficaz tanto no câncer primário quanto na fase metastática da doença”, completa Murad.