Sandra Goulart: ‘Retomada deve garantir qualidade de ensino e inclusão social

Reitora explica que processo de retorno de atividades será gradual, com planejamento coletivo e respeito às orientações sanitárias


22 de maio de 2020 - , , , , , , , ,


Sandra Goulart Almeida em entrevista remota. Reprodução

Com escuta à comunidade universitária para definição de estratégias e ações a serem adotadas em curto, médio e longo prazo – a depender da dinâmica da pandemia e em consonância com as orientações das autoridades sanitárias –, o planejamento para retomada das atividades acadêmicas interrompidas pela Covid-19 vai-se desenhando na UFMG com uma dupla preocupação: garantia da qualidade de ensino e inclusão social. 

Todas as ações, discutidas com os órgãos colegiados e as instâncias máximas de decisão da Universidade, têm o signo da prudência e da responsabilidade, afirma a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, que, na tarde dessa quinta, 21, conversou remotamente com veículos de imprensa, entre eles a TV UFMG (assista ao vídeo abaixo).

“Há princípios dos quais a UFMG não prescinde. A UFMG é conhecida pela qualidade do seu ensino e pela preocupação com a inclusão. Por isso, a decisão para a retomada, quer seja por atividades remotas, quer seja por atividades semipresenciais, quando as autoridades sanitárias disserem que é possível, precisa ser tomada com muita responsabilidade, sem prejuízo para os estudantes que têm alguma restrição de acesso a ambientes remotos e ferramentas digitais”

Sandra Goulart, reitora da UFMG

O cenário de progressão da doença ainda é incerto, mas especialistas e o poder público concordam que a recomendação para o distanciamento social vai se prolongar ao menos por todo o ano, ainda que entre idas e vindas, como exemplificam as aberturas seguidas de novas medidas de restrição em países como a China e a França, que nesta semana voltou a ordenar o fechamento de 70 escolas, menos de 15 dias depois da reabertura.

“É um planejamento difícil porque nunca foi feito antes. A última vez que a humanidade enfrentou essa situação foi há 100 anos. Não há parâmetro a seguir”, comenta a dirigente. Dessa forma, a UFMG precisa encontrar meios de permitir a retomada de atividades acadêmicas, considerando um cenário que não vai retornar de imediato para a normalidade conhecida até a emergência da pandemia.

Ao analisar a complexidade da decisão de retomar as atividades acadêmicas, particularmente as aulas presenciais, Sandra Goulart Almeida cita o exemplo dos países que estão meses à frente do Brasil na evolução da pandemia. No Hemisfério Norte, universidades como Cambridge e Universidade do Estado da Califórnia já anunciaram que voltaram com suas atividades presenciais apenas em 2021. Escolas primárias na Coreia do Sul reduziram o número de alunos por turma, para viabilizar a distância mínima de dois metros entre cada estudante. Na França, placas de acrílico separam as crianças em suas carteiras e, no recreio, elas têm espaço demarcado no pátio da escola. Jogos coletivos são proibidos.

“Em todos os países, as instituições de ensino são as últimas a voltarem a suas atividades, porque a sala de aula é altamente favorável à transmissão do vírus. Não temos como pensar em retomada presencial tal como iniciamos em 2 de março. A essa “normalidade” como a conhecíamos, possivelmente não poderemos voltar antes da vacina, e a melhor previsão de vacina para o Brasil, que pode surgir aqui mesmo dentro da UFMG, que tem uma das mais avançadas propostas no país, é para meados de 2021. Não podemos esperar até lá. Temos que nos preparar para um ‘novo normal'”

Sandra Goulart, reitora da UFMG

A retomada das atividades presenciais vai exigir das instituições de ensino no país revisão das suas condições infraestruturais, e, na UFMG é possível que isso não se dê da mesma forma em todas as unidades acadêmicas.

“A Universidade é muito diversa. A realidade de uma unidade como a Faculdade de Odontologia é muito diferente da da Fafich [Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas] ou do ICEx [Instituto de Ciências Exatas]. Estamos ouvindo os colegiados de graduação, os programas de pós-graduação, os centros de extensão, os núcleos de pesquisa, que são órgãos colegiados que reúnem estudantes, servidores técnico-administrativos e docentes. Estamos ouvindo primeiro a comunidade para depois levar essas questões ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) e ao Conselho Universitário, que são as instâncias de decisão”, informou a reitora.

Semestre letivo

CT Vacinas é uma das instalações da UFMG que fazem testes para detecção da covid-19. Foto: Marcílio Lana / UFMG

O advento da quarentena não parou a UFMG, que continuou atuando especialmente no atendimento de demandas da sociedade e em resposta aos desafios impostos pela covid-19. As várias atividades acadêmicas, como defesas de dissertações e teses, iniciativas de extensão e de pesquisa, que puderam ser mantidas de forma remota ou que precisaram permanecer de maneira presencial, considerando a sua natureza, tornam inaceitável a ideia de cancelar o semestre letivo. 

“A UFMG não está parada, e prova disso são as dezenas de pesquisas e atividades de extensão que têm como objeto a própria pandemia e que estão sendo fundamentais para balizar a tomada de decisão pelo poder público. Nesta semana, estamos em plena Semana de Saúde Mental, que foi completamente reformulada para ser oferecida por meios virtuais. Cancelar o semestre seria determinar que essas atividades, as orientações de pesquisa e extensão, as defesas de dissertação e tese, por exemplo, fossem invalidadas, porque elas precisam estar associadas a um semestre”

Sandra Goulart, reitora da UFMG

O próprio pagamento de bolsas, que, para muitos estudantes, é a principal fonte de renda, está associado à existência do semestre. “O semestre não está suspenso nem será cancelado. As atividades presenciais é que foram suspensas. Estamos planejando a retomada, e o que vai ocorrer é que ele vai se estender. O primeiro semestre letivo de 2020 vai adentrar o segundo semestre do calendário civil. E é provável que o segundo semestre letivo de 2020 adentre o ano civil de 2021″, comentou.

“O que precisamos ter é prudência e responsabilidade diante de uma situação que nunca vivemos antes, que é dinâmica e complexa, e para a qual não temos uma resposta simples. O que sabemos é que, como instituição, precisamos planejar de forma coletiva uma retomada, que deve ser pensada em termos de curto, médio e longo prazos”

Concluiu a reitora Sandra Goulart Almeida

Assista à entrevista produzida pela TV UFMG:


(Centro de Comnunicação da UFMG)