Seguir orientações da OMS ajuda países a controlar casos de coronavírus

Especialista explica como são construídas as recomendações e avalia a relação do Brasil com a entidade internacional


20 de julho de 2020 - , , , , , ,


Cooperação é a palavra-chave da Organização Mundial da Saúde (OMS). A instituição, criada em 1948, tem como objetivo somar forças para a produção das orientações de saúde, como o distanciamento social e o uso da máscara para evitar o contágio pelo coronavírus. A agência da Organização das Nações Unidas (ONU) é composta por membros de 196 países, contando os Estados Unidos que anunciaram o rompimento com a Organização.

O professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, Ulysses de Barros Panisset, foi funcionário da OMS por mais de três décadas. Uma das funções exercidas pelo professor foi de coordenador de Pesquisa Transformada em Políticas de Saúde. “A OMS, principalmente nos últimos 20 anos, começou a investir muito na forma de melhor aproveitar a ciência. Nós buscamos desenvolver formas de pegar as melhores evidências científicas, os melhores resultados de pesquisas e transformar em algo que possa ser usado em benefício da população”, explica.

“Em vez de ficarem as pesquisas científicas muito bonitas só sendo discutidas pelos cientistas e, talvez, depois guardadas na prateleira, nós buscamos desenvolver formas de transformar as melhores evidências do mundo em orientações”.

O professor ressalta que os cientistas mais relevantes do mundo são convocados pela OMS para discussão e elaboração de medidas que, se forem seguidas pelos países, representam melhora significativa no âmbito da saúde. No caso da pandemia do coronavírus, é possível observar que países que acataram recomendações como uso da mascara e distanciamento social, por exemplo, estão com número de casos controlados e seguem vigilantes mesmo implantando a reabertura de serviços não-essenciais. “Qualquer atividade de saúde pública não tem impacto só no indivíduo, mas na população inteira. Então, é fundamental saber que cada passo é baseado na melhor evidência científica disponível e foi isso que a OMS foi fazendo através dos tempos. Ela consegue produzir recomendações, orientações e opções dentro da realidade e dos recursos de casa país”, ressalta.

Afastamento

Em junho de 2020, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, anunciou que o país ia se juntar a Austrália e membros da União Europeia para propor investigação sobre as decisões da OMS e um processo de reforma na organização. À época, o ministro afirmou que “falta independência, transparência e coerência nos posicionamentos e orientações sobre aspectos essenciais no enfrentamento à pandemia de covid-19”.

O posicionamento veio após o governo norte-americano anunciar rompimento com a instituição. “Qual a vantagem comparativa que a OMS tem? É que são 196 países que estão em constante contato e buscando vínculos de cooperação. O Brasil se distanciou o máximo possível da OMS, se juntou ao Trump, que saiu da OMS e isso vai ser considerado na história do mundo como um retrocesso enorme em tudo que tinha sido acumulado nas últimas décadas, construído a duras penas, com muitos recursos e muito sacrifício de alguns países com poucos recursos, mas jogando na cooperação internacional”, analisa o professor Ulysses.

“Isso tudo vai se perdendo, vai sendo desperdiçado em uma oportunidade que nós tínhamos exatamente de crescermos juntos e chegarmos a objetivos que possam minimizar o impacto da crise”

Desde o começo da pandemia, o governo brasileiro tem criticado as orientações da OMS. Até mesmo a falta de evidências científicas da utilização de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com covid-19 foi questionada. Segundo o professor Ulysses, o comportamento faz com que o Brasil perca “oportunidade enorme de ter o melhor que a ciência tem para oferecer para nos ajudar”.

Gestão da crise

O primeiro caso confirmado de coronavírus no Brasil foi registrado em fevereiro de 2020. Desde então, ações de combate e controle começaram a ser tomadas no país. Mas como tem sido a atuação dos governos brasileiros? Nessa semana, o Saúde com Ciência apresenta série que analisa como estados, municípios e o governo federal têm se comportado perante à pandemia. Confira a programação:

:: Atuação do governo federal
:: O papel dos governos estaduais
:: 5568 municípios no combate ao coronavírus
:: Relações internacionais
:: Qual o papel da OMS?

Sobre o Programa de Rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.