Seminário debate problemas emergentes e desafios na pesquisa em saúde do trabalhador


25 de novembro de 2015


Aconteceu na última terça-feira, 24 de novembro, o seminário “Problemas Emergentes: novos desafios para a pesquisa em saúde dos trabalhadores”, realizado na sala Amílcar Vianna da Faculdade de Medicina da UFMG. Durante o evento, que faz parte da disciplina “Concepção e Estrutura de Estudos Ocupacionais”, foram discutidas as doenças e problemas psicossociais associados às condições de trabalho.

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A professora Ada Ávila Assunção levantou as questões sobre a saúde do trabalhador no contexto brasileiro. Foto: Carol Morena

A professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade e coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Condições de Trabalho e Saúde (Nest), Ada Ávila Assunção, apresentou um panorama das questões e problemáticas da saúde do trabalhador no contexto brasileiro. Segundo ela, hoje existem três dimensões dos riscos emergentes: novas formas de trabalho, novos grupos de trabalho e novos riscos. “Essas são as três dimensões que podemos chamar de problemas emergentes e elas estão determinadas em três âmbitos de nível macro: as mudanças demográficas em diversos países, as mudanças das firmas e na organização do trabalho”, explicou.

Para Ada, as pesquisas no campo da saúde do trabalhador ainda estão ligadas a conceitos clássicos da área e os pesquisadores precisam apreender as mudanças que estão acontecendo no mundo da produção. “Essas mudanças são tecnológicas, econômicas, demográficas e sociais. Elas explicam a desindustrialização, um processo que estamos vivendo mundialmente, e isso tem que ser considerada quando fazemos pesquisas na área de saúde do trabalhador”, afirmou.

De acordo com a professora, o surgimento de uma série de problemas emergentes está ligado à intensificação dos sistemas de trabalho, que também produz efeitos em diferentes escalas da sociedade. “Mudanças na estrutura das empresas levam a mudanças sociais, sendo que as duas ocorrem simultaneamente. O problema não é a causa, ele é a conseqüência de uma forma de produção e os trabalhadores acabam sofrendo os efeitos da precariedade do emprego”, pontuou.

Ada ainda destacou que os objetivos para superar os desafios de abordar os riscos emergentes precisam incluir fóruns de discussão. Também é necessário superar a concepção fordista ainda dominante no campo da saúde do trabalhador. “Precisamos desenvolver conteúdos adequados às novas problemáticas que vêm surgindo, além de integrar nas pesquisas resultados obtidos no campo da saúde pública”, completou.

Classes sociais e a precariedade no trabalho

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O professor Carles Muntaner falou das experiências na área de saúde do trabalhador em um contexto global. Foto: Carol Morena

Logo em seguida, o professor Carles Muntaner, da Universidade de Toronto, no Canadá, falou das experiências na área de saúde do trabalhador em um contexto global. Ele apresentou estudos que, junto a outros pesquisadores latino-americanos, vem desenvolvendo sobre a relação entre a ocupação, condições de trabalho e a saúde dos trabalhadores.

Segundo o palestrante, a relação entre o trabalho e a saúde não é uma novidade.  A organização do trabalho e as condições de emprego afetam diferentes níveis da sociedade. “Existe uma grande variedade de trabalhos, em cada um deles existe uma relação específica entre o trabalhador, as condições de trabalho e as consequências para a sua saúde.”, afirmou.

O professor ainda lembra que as classes sociais também estão diretamente ligadas às pesquisas na área de saúde do trabalhador, explicando que é preciso pensar a noção de trabalho, ambiente e como relações de emprego afetam diferentes os grupos da população. “A hierarquia dentro de uma empresa, depende da sociedade que estamos inseridos. A forma como a pessoa trabalha influencia nos problemas que ela terá no futuro. Então, cargos como gerente, supervisor e trabalhador terão consequências diferentes para a saúde”, completou.

Após as palestras dos dois especialistas, o seminário foi aberto para público expor suas opiniões e fazer perguntas.