Surdos têm dificuldade no atendimento em serviços de saúde

Mesmo com acesso garantido por lei, pessoas surdas têm limitações em adquirir informações sobre a saúde, seja em instituições públicas e privadas


01 de outubro de 2019 - , , , ,


*Marcela Brito

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2,1 milhões de brasileiros são surdos ou escutam muito pouco. Apesar do artigo 25 do decreto de lei n° 5.626 garantir o acesso à saúde, esse serviço ainda não é disponível de maneira adequada para a toda a população surda. A falta de profissionais preparados para receber usuários que usam a Língua Brasileira de Sinais, a Libras, dificulta a inclusão de surdos no sistema de saúde pública, o que coloca em risco o diagnóstico e tratamento de paciente.

Para acessar esses serviços, é comum que pessoas surdas levem familiares e amigos para auxiliar o atendimento. João Pedro*, de 22 anos, foi diagnosticado aos dois anos de idade com surdez e cegueira progressiva, consequências do distúrbio genético conhecido como Síndrome de Crouzon. Ele conta que sempre vai acompanhado pela mãe, fluente em Libras, para o atendimento.

“Nunca conversei diretamente com médico em Libras sozinho. Sempre que tenho consultas vou com alguém, como a minha mãe ou algum intérprete da Feneis, a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos”, relata João. 

Fonoaudióloga adverte que a dificuldade em se comunicar com o profissional de saúde pode prejudicar o diagnóstico e tratamento ofertado ao surdo. Foto: Carol Morena

Entretanto, a professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFMG, Izabel Cristina Campolina Miranda, adverte que nem sempre o acompanhante compreende com plenitude a língua de sinais e que a dificuldade na comunicação pode interferir no acesso à informação pelo indivíduo com surdez e no atendimento em saúde oferecido ao surdo. “Essa situação expõe o surdo a riscos como o de não ter seu relato transmitido de forma fidedigna, podendo gerar diagnósticos e orientações inadequadas para o paciente”, completa Izabel.

Em relação à presença de um intérprete no atendimento médico, a professora aponta que é a possibilidade mais viável para o acesso dos indivíduos com surdez aos hospitais, mas o ideal seria que os profissionais da área da saúde aprendessem a língua de sinais ainda na universidade.

Práticas de Inclusão

Há 17 anos, a Libras é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão, amparada pela lei 10.436 de 24 de abril de 2002. A professora Izabel destaca que a inclusão da língua deve ocorrer desde o ensino básico ao superior. “O ensino de Libras na Educação Infantil seria um grande passo para valorização da língua e maior inclusão das pessoas com surdez”, comenta.

Na graduação da Faculdade de Medicina da UFMG, a Libras é uma matéria obrigatória para estudantes do curso de fonoaudiologia. No próximo ano, a disciplina será ofertada, pela primeira vez, para turmas do curso de medicina. A formação será optativa e ofertada uma vez por ano. “Iniciativas como essa da Faculdade são capazes de mudar a visão dos futuros profissionais da saúde em relação à surdez e língua de sinais”, conclui Izabel.

Visibilidade

Na antiguidade, os surdos eram considerados “sujeitos que não possuíam alma e que não tinham capacidade de pensar, por isso eram muito desvalorizados”. Hoje é sabido que os surdos possuem as mesmas capacidades que pessoas ouvintes.

Algumas práticas têm auxiliado maior compreensão em relação à surdez e a Libras. A inclusão de personagens surdos usuários como Milena, na telenovela Malhação-Toda Forma de Amar, por exemplo, e em revistas em quadrinhos como na Turma da Mônica, de Maurício de Souza, são formas de gerar visibilidade à comunidade surda nos meios de comunicação.

Feneis

A Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, a Feneis, é uma instituição filantrópica que atende a comunidade surda em diversas partes do país. Com sede em Minas Gerais, a instituição oferece serviços gratuitos à comunidade surda, desde o apoio psicológico à serviços de intérprete. Também são oferecidos cursos de Libras para a comunidade em geral.

Os serviços de intérprete são agendados pelo email tils2@mg.feneis.org.br ou pelo whatsapp nos telefones 98634-0466 e 98778-2646. 
Para mais informações acesse o site (www.feneis.org.br), Facebook  e Instagram.

*Nome fictício


*Marcela Brito – estagiária de Jornalismo
Edição: Karla Scarmigliat