Terapias complementares do SUS: musicoterapia

Conheça as terapias complementares adotadas como ações de promoção e prevenção em saúde no SUS


18 de julho de 2017


Esta matéria faz parte de uma série sobre as terapias complementares adotadas como ações de promoção e prevenção em saúde no SUS

Neste ano de 2017, por meio da portaria nº 145/2017,  o Ministério da Saúde aumentou as opções de tratamentos complementares ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PICs) considera 19 terapias integrativas como “ações de promoção e prevenção em saúde”. Entre elas há a musicoterapia, que utiliza a música para estimular o paciente e promover a melhora da sua saúde e da qualidade de vida.

A musicoterapia utiliza de experiências musicais como escutar, cantar, tocar, compor ou improvisar a música como promoção de saúde. Foto: Carol Morena

Com a inserção em experiências musicais, esta unidade terapêutica trabalha as necessidades físicas, emocionais, cognitivas e sociais, ou qualquer outra demanda que o paciente apresente. Ele pode escutar, cantar, tocar, compor ou improvisar a música, por exemplo. Ou seja, é um processo interativo, feito junto com o terapeuta, de acordo com a necessidade do paciente.

É o que explica o musicoterapeuta e professor do Departamento de Instrumento de Música da Escola de Música da UFMG, Renato Sampaio, doutor em neurociência e coordenador de vários projetos de extensão em musicoterapia na UFMG.

“A nova lei estabelece a sessão musicoterapia como uma das práticas integrativas. Mas o musicoterapeuta é um profissional já inserido no SUS há muito tempo, como no Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf)”, pontua Sampaio. De acordo com ele, há um código para serviço de reabilitação para pessoas com autismo, por exemplo, ofertado no nível da Atenção Secundaria, que inclui profissionais como musicoterapeuta, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo. “A diferença é que agora há um procedimento chamado musicoterapia. Assim, abre-se oficialmente o campo de promoção da saúde”, esclarece.

Efeito da musicoterapia no autismo

Segundo Renato Sampaio, há pesquisas e estudos sobre musicoterapia aplicada em inúmeras áreas. “No autismo, pesquisas de diversos níveis mostram a eficácia da musicoterapia, principalmente em questões de interação social e comunicação. A partir da melhora desses, também se percebe a melhora do comportamento, embora, algumas vezes, não seja o foco da musicoterapia”, exemplifica.

O professor conta que os estudos em neurociências das últimas décadas têm mostrado que a música ativa o cérebro de forma mais abrangente do que outros tipos de estímulo, como a fala. “No caso de uma criança com autismo, em geral, há melhor ativação em diversas áreas corticais quando escuta alguém cantar, do que quando escuta alguém falar”, explica. “Isso faz com que consiga compreender melhor a mensagem que é transmitida através do canto”, continua.

Além disso, Sampaio afirma que a música também ativa um sistema de recompensa, em que causa a sensação de prazer. “Então, a pessoa com autismo aprende a ter prazer em fazer música numa ação compartilhada. Não é fazer música para a pessoa com autismo, é fazer com ela”, informa. “Dessa forma, ela sai do isolamento e aprende a se relacionar, interagir e comunicar melhor com as outras pessoas. Além de outros objetivos terapêuticos relevantes para ela”, completos.

Musicoterapia na UFMG

O professor brinca dizendo que “a musicoterapia pode ser usada da fecundação ao óbito”. Sobre a primeira etapa, ele conta que há um projeto, realizado junto ao Departamento de Ginecologia e Obstetrícia (GOB) da Faculdade de Medicina da UFMG, em que trabalham a musicoterapia para redução da ansiedade e melhora da qualidade de vida das mulheres em tratamento de infertilidade.

Esta ação faz parte do projeto de extensão “Musicoterapia na Saúde da Mulher”, pareceria entre o GOB e o Departamento de Instrumentos de Música, com início em 2016, para atender as mulheres na fila de espera para o tratamento de infertilidade. O trabalho é voltado para redução da ansiedade e melhoria da qualidade de vida delas, pois, de acordo com Sampaio, existem evidências que apontam a correlação e o agravamento entre a ansiedade e a infertilidade.

“A proposta é melhorar a consciência do corpo, trabalhar técnicas de relaxamento e a habilidade de reconhecer sentimentos, para conseguir expressar de forma adequada, além de debater alguns temas, através da experiência musical”, comenta.  “Por exemplo, levamos uma canção que fala sobre determinado tema. Cantamos essa canção, conversamos sobre o tema e como as pessoas se sentem a respeito dele. Aí voltamos para cantá-la novamente, fazer uma improvisação ou uma nova composição a respeito desses sentimentos”, explica o musicoterapeuta.

A musicoterapia também pode ser trabalhada com exercícios de andar no tempo da música, perceber como o corpo vibra com determinado som, entre outras técnicas de relaxamento. “Como o trabalho é feito em grupo, os pacientes criam uma relação de apoio entre eles, o que auxilia a diminuir o impacto do problema na vida das pessoas”, acrescenta.

“Também já houve projetos dentro do Hospital das Clínicas da UFMG voltados para o cuidado paliativo, principalmente com pessoas com problemas hepáticos, dor crônica e estimulação de bebês prematuros”, lembra Sampaio.

“Eu trabalho muito a musicoterapia com pessoas com distúrbios do desenvolvimento como o autismo, deficiência intelectual e diversas síndromes genéticas. A abrangência é muito grande. Podemos trabalhar com qualquer pessoa que possa utilizar a música para melhorar sua saúde, incluindo transtornos mentais, transtornos neurológicos, situações de hospitalização, promoção de saúde (enquanto prevenção) e diversas outras condições e necessidades de saúde”, argumenta.

Os interessados em musicoterapia podem procurar o professor Renato Sampaio pelo email renatots@musica.ufmg.br.

4º Congresso Nacional de Saúde

A inclusão da espiritualidade e da religiosidade no ensino, pesquisa e prática clínica e as práticas integrativas e complementares serão tema do eixo transversal do 4º Congresso Nacional da Saúde. O evento será realizado do dia 28 a 30 de agosto de 2017, na Faculdade de Medicina da UFMG, com o tema “Promoção da Saúde: Interfaces, Impasses e Perspectivas”.

Mais informações e inscrições no site www.www.medicina.ufmg.br/congressosaude

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