Toxoplasmose congênita na Argentina
16 de novembro de 2009
Estudo desenvolvido em Minas Gerais pelo Nupad com quase 150 mil crianças apresenta a triagem neonatal como importante ferramenta de diagnóstico da doença
A pesquisadora associada do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG, Nupad, Ericka Viana Machado Carellos, apresentará pôster com os resultados do trabalho “Triagem neonatal para toxoplasmose congênita no Estado de Minas Gerais, Brasil – Aspectos Pré-natais” no sexto Congresso da Sociedade Mundial de Doenças Pediátricas Infecciosas, que será realizado entre os dias 18 e 23 de novembro em Buenos Aires, na Argentina.
Baseado em um grande estudo realizado entre novembro de 2006 e maio de 2007 pela Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG), em parceria com o Nupad, o trabalho teve por objetivo conhecer a prevalência da toxoplasmose congênita, as características das crianças infectadas e aspectos do pré-natal de suas mães.
A partir do Programa Estadual de Triagem Neonatal de Minas Gerais (PETN-MG), mais de 146 mil recém-nascidos foram triados através do teste do pezinho para toxoplasmose congênita em um período de sete meses.
Resultados
A pesquisa encontrou, além de grande prevalência da infecção no Estado (0,13%), diferenças regionais – com maior prevalência nas regiões Norte e Nordeste do Estado, onde se apresentam os menores índices de desenvolvimento humano (IDH) – e inadequações nos testes diagnósticos da doença durante o pré-natal.
“Há uma prevalência mais alta, com casos mais graves e maior índice de complicações em relação à literatura internacional. Além disso, observamos algumas inadequações na triagem pré-natal”, explicou a pesquisadora.
Ainda segundo Ericka Carellos, apenas pouco mais da metade das gestantes que apresentaram suspeita da doença na triagem neonatal haviam feito exames para toxoplasmose no pré-natal; e, dos 190 casos diagnosticados no teste do pezinho, apenas sete tiveram identificação da doença durante a gestação.
“Essas crianças não seriam identificadas se não fosse a triagem neonatal”, considera a especialista.
Assim, motivada pelos resultados, a pesquisadora defende a adoção de estratégias de controle da doença no Estado – o que vem sendo discutido pela coordenadora técnica do estudo e pesquisadora do Nupad, professora Gláucia Manzan Queiroz Andrade, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, e pela Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais.
“Considerando nossa prevalência e a estrutura da triagem pré-natal em Minas Gerais – com diferenças na assistência à saúde e inadequações, como o exame realizado tardiamente, não realizado ou feito com grandes intervalos entre os testes -, faz-se necessário uma intervenção apoiada pelo Estado. E, neste estudo, a triagem neonatal mostrou-se uma ferramenta útil para diagnóstico da toxoplasmose congênita até a estruturação de uma estratégia duradoura”, conclui.
Elevado número de recém-nascidos com lesão ocular
Este foi um dos resultados que mais chamou a atenção da pesquisadora. Principal complicação da doença, uma maior incidência dessas lesões (que podem provocar baixa visão significativa ou mesmo a cegueira) foi encontrada nas regiões Norte e Nordeste do Estado, cujo IDH é mais baixo e as condições de saneamento básico são piores. Esses dados mostram a importância do diagnóstico precoce – que, segundo os autores, não vem sendo feito adequadamente no pré-natal – e do tratamento iniciado o mais cedo possível, para que a lesão ocular ainda esteja ativa e possa ser atenuada.
Redação: Setor de Divulgação e Comunicação do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG – Nupad