Transtorno bipolar em idoso requer cuidado com vínculos afetivos e sociais

O Ministério da Saúde comemora, em 1º de outubro, o Dia Nacional do Idoso.


29 de setembro de 2017


*Ives Teixeira Souza

 

 

Fortalecimento de vínculos sociais é aliado para saúde do idoso. Foto: Reprodução – Pixabay

Um conjunto de atributos que incluem a felicidade, a auto-estima e a sensação de ser útil e querido, além de funções cognitivas suficientes para manter um nível razoável de independência e autonomia. Assim, o professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG e geriatra, Flávio Chaimowicz, define ser o ideal de saúde mental de seus pacientes.

Porém, com o envelhecimento surgem novas dificuldades para manter a saúde mental das pessoas idosas. Caracterizado por episódios de humor elevado, expansivo ou irritado, o transtorno bipolar pode ter início tardiamente, ou entre a segunda e a terceira década de vida, quando é mais comum. Em idosos, o transtorno bipolar pode atingir de10% a 25% dos pacientes com transtorno de humor.

Consequências
Para o psicogeriatra professor do Departamento de Saúde Mental da UFMG e coordenador do Programa de Extensão em Psiquiatria e Psicologia de Idosos da Universidade (Proepsi), Bernardo Viana, uma das principais dificuldades encontradas para o diagnóstico é a pouca compreensão do paciente e de seus familiares sobre o transtorno. Apesar de ser a família que leva os pacientes ao tratamento pela primeira vez, seja em episódios depressivos, seja em episódios de humor expansivo ou irritável, em geral, com ausência de crítica, os familiares se mostram confusos e ambivalentes ao tentar definir o que é “causado” pelo transtorno bipolar e o que é da personalidade do paciente.

Como as principais consequências, o idoso tem uma tendência de apresentar um humor mais irritável, como explica o psicogeriatra Rodolfo Ladeira, preceptor do Proepsi. Além disso, o idoso com transtorno bipolar pode apresentar problemas de memória ou de raciocínio que merecem atenção profissional adequada para distinguir de outros transtornos que acometem essa faixa etária, como as síndromes demenciais, por exemplo. “Acredita-se que os indivíduos idosos com transtorno bipolar tenham risco aumentado para demência em relação a idosos sem esse transtorno”, afirma Ladeira.

O médico explica que os episódios de alteração de humor associados ao transtorno diferem de uma simples alteração por serem períodos diferentes do que é apresentado usualmente pelo indivíduo, e que se encontram continuamente alterados, por dias, semanas ou meses. Entre as causas do transtorno a influência genética parece ser mais importante no transtorno bipolar em indivíduos mais jovens. “Na terceira idade, a doença cerebrovascular ou outras doenças neurodegenerativas parecem exercer um papel importante no desenvolvimento do transtorno. Pouco se sabe sobre a prevenção do transtorno bipolar em indivíduos saudáveis. Entretanto, uma vez instalado o transtorno, é possível prevenir a recorrência dos episódios”, prossegue.

Tratamento
O professor Bernardo Viana destaca a importância para o tratamento da melhora das relações e da comunicação entre os familiares. “A participação em grupos de psicoeducação e, em alguns casos, psicoterapia com foco na família, é fundamental”. Para ele, pacientes e familiares que participam são capazes de identificar sinais de alerta de recorrências mais precocemente, além de serem capazes de identificar sinais de alerta de recorrências mais precocemente. Eles podem auxiliar também na estabilização dos ritmos de sono e no envolvimento com atividades do cotidiano, inclusive com a medicação.

Apesar de ser comum a resistência da prática em grupo, o professor garante que a atividade colabora para a participação ativa do paciente nas decisões do tratamento. “O tratamento ideal deve incluir tratamento medicamentoso, psicoterapia e em alguns casos, pode ser necessário tratamentos como a eletroconvulsoterapia ou a internação hospitalar, especialmente quando em risco para si ou terceiros”, relata. Em 2006, por exemplo, o transtorno já era responsável por 5% das internações de idosos por causas psiquiátricas no Brasil.

Outra dificuldade encontrada no tratamento é motivar o paciente para o uso dos medicamentos em longo prazo. Os efeitos colaterais e o alto custo financeiro também são fatores que contribuem para a baixa adesão. “É importante ressaltar que a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais já disponibiliza, pelo SUS, diversos medicamentos de alto custo para pacientes com transtorno bipolar”, esclarece.

Além do uso correto dos medicamentos, com o objetivo de prevenir a recorrência, Rodolfo Ladeira aconselha um estilo de vida saudável.  “É recomendada uma rotina de sono adequado e um estilo de vida saudável a todos os indivíduos com esse transtorno”, orienta o psicogeriatra.

Para uma melhor saúde mental, o geriatra Flávio Chaimowicz também afirma sobre a necessidade de cuidar da saúde física e dos vínculos sociais, que incluem família e amigos. “É importante cuidar deste patrimônio desde cedo. Na medida em que envelhecemos as perdas são inevitáveis; perdemos saúde, amigos, e muitas vezes a valorização dos outros. Diante das perdas, se isso foi bem constituído, podemos nos adaptar às novas situações, como viuvez, aposentadoria e problemas de saúde, e seguir em frente”, aconselha o especialista.

Mais informações sobre o transtorno bipolar no site da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) e da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB)

 

*Redação: Ives Teixeira Souza – estagiário de jornalismo
Edição: Mariana Pires