UFMG sedia congresso brasileiro para discutir a reconquista das altas coberturas vacinais


06 de maio de 2025 - , , , ,


Mesa de abertura do congresso realizado em 2023 Foto: ENFERMAGEM / FOTO FOCA LISBOA

Nos dias 7 e 8 de maio, cerca de 650 pessoas de 20 distintos estados brasileiros estarão reunidas no “II Congresso brasileiro defesa da vacinação: a reconquista das altas coberturas vacinais”, que acontecerá no Auditório Nobre do Centro de Atividades Didáticas 1 (CAD 1), no campus Pampulha da UFMG. O evento contará com a participação de representantes do Ministério da Saúde (Departamento do Programa Nacional de Imunizações – DPNI e Secretaria de Atenção Primária à Saúde – SAPS), da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da Secretaria Estadual de Saúde, Fiocruz, dos conselhos municipais de saúde, Conselho de Secretários Municipais de Saúde, pesquisadores, gestores, profissionais, professores e estudantes. A pró-reitora de Pós-graduação, Isabela Pordeus, representando a reitora da UFMG e a diretora da Escola de Enfermagem, Sônia Maria Soares, também participarão da abertura na manhã de quarta-feira, dia 7.

Os objetivos do evento são apresentar o cenário da América Latina, brasileiro e mineiro sobre a cobertura vacinal; discutir sobre a classificação de risco para transmissão de doenças preveníveis por vacinas e propiciar uma reflexão com a comunidade científica sobre estratégias para melhorar a cobertura vacinal.

A palestra de abertura tem como tema central “Cenário de cobertura vacinal nos ciclos de vida (Minas, Brasil e América Latina)” e contará com a participação do subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Eduardo Campos Prosdocimi, do médico e diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações (DPNI) do Ministério da Saúde, Eder Gatti Fernandes, e da enfermeira e consultora nacional em imunização do Escritório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil, Francielli Fontana Sutile Tardetti. Ainda na programação, haverá discussão sobre os temas: “Anvisa: aprovação de vacina para uso da população e fake news”, com Brenda Gomes Valente, Especialista em Regulação e Vigilância Sanitária na Agência Nacional de Saúde (ANVISA), o Superintendente de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Filipe Curzio Laguardi e “O CT-vacinas e a inovação de vacinas”, com o professor Ricardo Tostes Gazzinelli, do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, coordenador do CTVacinas. 

Outro destaque do evento é o lançamento de uma revista com dezenas de relatos de experiências exitosas de diversos municípios de Minas Gerais que contribuem para o alcance da meta de cobertura vacinal. A intenção é de que os relatos das experiências de sucesso registrados na revista sirvam de inspiração às equipes intersetoriais de Imunização, Atenção Primária e Vigilância Epidemiológica, para que possam aprimorar os processos de trabalho em imunização, aumentar as coberturas vacinais e, por conseguinte, reduzir o risco de transmissão de doenças preveníveis por vacinas.

A coordenadora do congresso e de diversas pesquisas sobre vacinação desenvolvidas na Escola de Enfermagem da UFMG, professora Fernanda Penido Matozinhos, ressalta que é um importante evento para discutir sobre os desafios e estratégias na produção e disseminação do conhecimento produzido na temática vacinação. “Para além do monitoramento, são imprescindíveis estratégias, como a discussão em eventos científicos para a melhoria dos indicadores de imunização e avaliação do impacto destas estratégias, comparando os indicadores de imunização antes e após as intervenções”.

Cursos pré-congresso
No dia 6 de maio, serão realizados na Escola de Enfermagem da UFMG (campus Saúde) cursos pré-congresso para profissionais de saúde, com os temas: Análise de Sistemas de Informação em Imunização; Estratégias de Mobilização e Comunicação Social na Imunização; Boas Práticas de Vacinação;  ESAVI – Investigação e avaliação de causalidade; Análise de Sistemas de Informação em Imunização e Estratégias de Mobilização e Comunicação Social na Imunização. As vagas estão esgotadas!

Pesquisa-intervenção
Em 2023, foram divulgados os resultados da pesquisa pioneira “Estratégias para o aumento de coberturas vacinais em crianças menores de dois anos e adolescentes no estado de Minas Gerais, Brasil: uma pesquisa-ação”, coordenada pela professora Fernanda Penido junto a pesquisadores do Observatório de Pesquisa e Estudos em Vacinação da Escola de Enfermagem da UFMG (OPESV – EEUFMG) em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (Superintendência de Vigilância Epidemiológica). Foi constatado aumento de coberturas vacinais em crianças menores de dois anos e diminuição do risco para a transmissão de doenças preveníveis por vacinas no estado de Minas Gerais. O projeto tem como diferencial o monitoramento presencial trimestral, por meio de oficinas com referências técnicas em Imunização da SES-MG dos 853 municípios pertencentes às 28 Gerências/Superintendências Regionais de Saúde (GRS/SRS) do Estado.

O ensaio clínico comunitário, do tipo antes e depois, analisou, nos anos de 2021 e 2022, dez imunobiológicos: Rotavirus, Meningococo C, Pneumocócica, Pentavalente (DTP/Hib/HB), Poliomielite, Tríplice Viral D1, Febre Amarela, Tríplice viral D2, Hepatite A e Varicela. Os resultados apontaram aumento da cobertura vacinal em todos eles. O maior percentual de aumento se deu com a vacina varicela (16,81%) e da vacina tríplice viral D2 (14,57%).

Em 2024, o estudo foi realizado para mais um ciclo de vida, com 922 adolescentes de Minas Gerais, de 9 a 19 anos, e constatou o fenômeno da hesitação vacinal, que ocorre quando há atraso ou recusa da vacinação, apesar da disponibilidade nos serviços de saúde. 45,78% dos adolescentes afirmaram que já resistiram, tiveram medo ou dúvidas se deveriam se vacinar, e 21,33% já recusaram a administração dos imunizantes contra o papilomavírus humano (HPV) e a meningocócica ACWY.
No que diz respeito ao conhecimento dos adolescentes sobre vacinação, 55,21% afirmaram não ter conhecimento; 68,69% já receberam orientações sobre imunização na Unidade Básica de Saúde e 62,09% já receberam orientações na escola. Em relação à doença meningocócica ou sobre a vacina meningococo ACWY, 81,35% afirmam “nunca ter ouvido falar” e 43,64% nunca ouviram falar sobre o papilomavírus humano ou sobre a vacina HPV.

Além desses, teve um estudo inédito, também coordenado pelo OPESV, que analisou o perfil clínico-epidemiológico do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais em MG (CRIE). Os resultados apontaram que foram atendidos no CRIE-MG 65.534 indivíduos, no período de junho de 2005 a abril de 2022. Dentre esses, 11.505 (35,12%) eram crianças entre zero e nove anos de idade, 1.943 (5,93%) adolescentes entre nove e 18 anos, 12.024 (36,71) adultos e 7.284 (22,24%) pessoas idosas com mais de 60 anos.

Em relação à população de crianças, a maioria (53,15%) do sexo masculino, cor de pele autorreferida branca (60,93%) e com mediana de idade de 1 ano e meio. Dentre os adolescentes, 54,81% eram do sexo masculino, de cor da pele autorreferida branca, 449 (53,71%) e mediana de idade em torno de 12 anos. No grupo dos adultos, a maioria, 6.194 (51,51%), era do sexo masculino, como cor de pele autorreferida mais prevalente a branca 445 (48,11%) e mediana de idade entre 42 e 49 anos. As pessoas idosas tiveram mediana de idade de 69 anos, prevalência do sexo feminino 3.997 (54,87%) e cor da pele autorreferida branca em 3.252 (66,69%) dos dados analisados.

No que diz respeito à indicação do imunobiológico especial, observou-se a maior prevalência de “doença pulmonar crônica” nos grupos de criança, adolescente e idoso. Quanto ao diagnóstico clínico, para crianças, adolescentes e adultos, a categoria “outros” foi a de maior prevalência (29,47%; 32,73% e 22,80% respectivamente). Dentre os grupos criança e adolescentes, a categoria “doença do aparelho respiratório” foi a segunda mais prevalente e, no grupo adultos, a categoria “algumas doenças infecciosas e parasitárias” destacou-se. Além disso, no grupo idosos o diagnóstico clínico de maior frequência observada foi “doenças do aparelho respiratório”.

Quanto aos imunobiológicos mais administrados em cada ciclo de vida, a vacina Pneumococo 23 foi mais prevalente em adolescentes, adultos e idosos, alcançando em cada ciclo de vida, respectivamente, 30,74%, 34,92% e 63,58%. Em crianças, o imunobiológico mais prevalente foi Pneumo conjugada 7v, com 18,14%.

A professora Fernanda Penido enfatizou que os resultados do estudo favorecem o atendimento a populações vulneráveis e evidenciam a importância dos CRIE como serviço necessário para atender uma demanda crescente e diversificada de imunobiológicos especiais, principalmente na população com condições específicas.

Ela ressalta, ainda, que esses projetos pesquisa-intervenção, que aproximam a academia dos serviços de saúde, tiveram data para começar, em 2021, mas não têm dia para terminar, uma vez que favorecem o acompanhamento constante às equipes nos seus territórios, para reavaliação dos seus planos de trabalho de imunização e implementação de novas propostas de intervenção, conforme as especificidades e necessidades de cada um dos 853 municípios de Minas Gerais.


Assessoria de Comunicação da Escola de Enfermagem