Uso de evidências aumenta o impacto de políticas públicas

Simpósio Internacional discute uso de evidências para basear as ações de gestores públicos.


14 de outubro de 2019 - , ,


A Faculdade de Medicina da UFMG iniciou nesta segunda-feira, 14 de outubro, as atividades do Simpósio Internacional de Evidências Qualitativas para Decisões. No primeiro dia de evento, o foco foi apresentar a forma de trabalhar as evidências para que possam ter um real impacto nas políticas públicas. As atividades foram transmitidas ao vivo pela internet.

A vice-diretora da Faculdade, Alamanda Kfoury, esteve na mesa de abertura do evento e destacou a importância de discutir, no espaço acadêmico, políticas e direções para melhorar a saúde da sociedade. “A Faculdade tem a atenção primária como eixo central, assim está sempre integrada com as necessidades de saúde da comunidade”, ressaltou.

Para a representante da Secretaria Municipal de Saúde, Taciana Malheiros Carvalho, é essencial se basear na necessidade vivida e sentida pelo cidadão, para a construção de políticas de saúde. “É crucial conhecer as evidências científicas e a pesquisa qualitativa tem importante papel para que possamos saber o modo de vida dos nossos usuários”, apontou Taciana, durante a mesa de abertura do evento.

O coordenador do Simpósio e professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social, Ulysses Panisset, defendeu a importância do evento no compartilhamento de conhecimentos entre as pessoas de diferentes partes do sistema de saúde. “Desde gestores, até quem atua na linha de frente do SUS, todos temos que nos unir para enfrentar a fase difícil que o país está passando”, afirmou.

No mesmo sentido se posicionou o diretor do Departamento de Relações Internacionais da UFMG, Aziz Tuffi Saliba, que lamentou a atuação de gestores públicos que ignoram evidências no momento atual do país. “Cumpre à Universidade pública servir como uma vela na escuridão”, recomendou Aziz, na abertura do Simpósio.

Fotos: Carol Morena

Também compuseram a mesa de abertura, a representante da Reitoria da UFMG, professora Cristina Alvim; a coordenadora do Simpósio e professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade, Alaneir de Fátima Santos; o presidente da Fundação Educacional Lucas Machado, Wagner Eduardo Ferreira; o diretor da Faculdade de Ciências Médicas, José Celso Cunha; o coordenador do curso de Medicina da PUC Minas Betim, Henrique Leonardo Guerra; o coordenador distrital de saúde indígena de Minas Gerais e Espírito Santo da Secretaria Especial de Saúde Indígena, Ricardo Sérgio Dias; e o representante da coordenação Regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Minas Gerais e Espírito Santo, Pablo Matos Camargo.

O impacto das evidências

Um dos convidados internacionais do Simpósio, John Lavis, acredita que o uso de evidências qualitativas tem o intuito de melhorar a saúde da população. O pesquisador da Universidade McMaster, do Canadá, explicou que essas informações devem embasar diálogos de cidadãos, uma técnica que faz com que as evidências possam ter um impacto maior.

Essa metodologia garante que aqueles que são afetados diretamente, tenham maior participação na construção de políticas públicas. Para garantir que as soluções encontradas sejam aplicáveis, o pesquisador explica que tudo deve ser baseado em um resumo de evidências. “Para informar o diálogo, o resumo deve descrever um problema e suas causas, o contexto político e do sistema de saúde, opções de políticas e as considerações para implementação”, enumerou.

Em sua palestra, John expôs detalhes da complexa metodologia dos diálogos, mas resumiu o objetivo da técnica em encontrar três pontos: um problema convincente, uma política viável e políticas conducentes. “Quando são encontradas estas condições, os tomadores de decisões irão agir, a partir do sumário do diálogo”, garantiu. Como parte das atividades do Simpósio, os participantes simularam um diálogo para tratar da situação dos Agentes Comunitários de Saúde de Belo Horizonte.

Além da apresentação de John Lavis, o primeiro dia de palestras também teve a participação de Simon Lewin, pesquisador do Instituto Norueguês de Saúde Pública. Simon explicou a definição de evidências qualitativas. Relatou ainda um caso em que foram aplicadas à análise da atuação de trabalhadores de saúde, no serviço de saúde reprodutiva e sexual.

Participação indígena

Na abertura do evento, a vice-diretora da Faculdade, Alamanda Kfoury, destacou a importância de criar políticas e direções, em especial para grupos que estão sendo atacados e marginalizados, como é o caso dos indígenas. Por isso, os direitos e a saúde dessa população também serão foco do Simpósio, especialmente no segundo dia de evento.

Para o representante da Funai, Pablo Matos Camargo, as políticas indigenistas têm forte relação com as políticas de saúde. Ele reforçou que promover essa discussão é ainda mais importante no contexto atual, com ameaças ao meio ambiente. “É ali que começa a atenção primária, no cuidado com a casa, com o espaço”, acrescentou.

Para representar a inclusão dos indígenas nessa discussão, a abertura do Simpósio teve representação de diversas etnias. Membros dos povos Pataxó e Pataxó Hã Hã Hãe apresentaram um canto de boas-vindas aos presentes. Os representantes da nação indígena Blackfoot, do Canadá, também apresentaram um canto, que simboliza um pedido de permissão para visitar o território e mencionaram o respeito pelas tradições e pela medicina dos indígenas brasileiros.

Canto de boas vindas de nações indígenas abriu o Simpósio | Foto: Carol Morena.

O primeiro dia do seminário contou ainda com a apresentação da cantora e estudante de Medicina da Faculdade, Adana Kambeba. Ela está no 12º período do curso e também é defensora do embasamento científico para o fortalecimento de políticas públicas.

Confira no site do evento a programação para o segundo dia de Simpósio.

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