Visão subnormal acomete mais de seis milhões de brasileiros


22 de maio de 2018


*Carol Prado

Adaptações na Faculdade de Medicina são feitas para atender deficientes visuais

Foto: Carol Morena.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem mais de 6,5 milhões de pessoas com alguma deficiência visual no país.  Desse número, seis milhões são acometidos de doenças que levam a visão subnormal, ou seja, uma visão baixa mesmo após correção.

De acordo com o professor do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenador do núcleo de baixa visão do Hospital São Geraldo do Hospital das Clínicas da UFMG, Galton Carvalho Vasconcelos, a visão subnormal é a deficiência visual após correção com óculos, lente ou tratamento cirúrgico. “Ainda assim, a pessoa continua enxergando mal e isso gera dificuldade de exercer atividades no dia a dia. Quanto pior essa visão, mais difícil para esse paciente ter uma vida normal”, afirma.

Segundo Galton, as doenças mais comuns que levam a visão subnormal são, em adultos, a catarata senil, glaucoma, retinopatia diabética e degeneração macular relacionada à idade. Em crianças, toxoplasmose, catarata congênita e glaucoma congênito. “Doenças que causam visão subnormal são muito comuns. Algumas, as infecciosas, não estão presentes em países desenvolvidos, como a toxoplasmose. Doenças neurológicas e causas genéticas não previsíveis também são causas frequentes” explica o professor.

O oftalmologista explica que, dependendo do nível de complicação da visão e quando ela surgiu, na infância ou na vida adulta, afeta a vida de formas diferentes. “Imagine que alguém cresceu, viveu, e de repente perde a visão. Isso é um luto para essa pessoa, então ela tem que se organizar, do zero. Tudo que ela sabia fazer enxergando, ela vai ter que aprender a fazer sem enxergar” comenta. “A criança é diferente, ela não desenvolveu a visão. Ela não perde o que ela não tinha, mas ela deixa de ganhar. O maior impacto nesses casos é em nível geral, de aprendizado. A criança vai se desenvolver mais tardiamente” esclarece.

Importância da inclusão para pessoas com visão baixa

Segundo o professor Galton, existem várias maneiras de adaptar o ambiente ao deficiente visual. Atualmente, smartphones e tablets têm recursos que ampliam imagens e textos, que aumentam o contraste e que utilizam sons. “Tudo isso facilita”, comenta.

O professor frisa que o Brasil ainda não é um país inclusivo e que cada caso é um caso. “As adaptações vão depender de cada etapa e de cada atividade dessa pessoa”, aponta Galton. “Quando se fala de incluir é um sentido mais amplo da palavra: inclusão social, psicossocial e familiar. É preciso incluir a pessoa como alguém normal que tem um probleminha de visão”, conclui.

Adaptações físicas no Campus Saúde

Os prédios da Escola de Enfermagem, do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina da UFMG estão passando por adaptações para atualizar seus alvarás junto à Prefeitura de Belo Horizonte. Para isso, e seguindo a norma NBR 16537 de 26 de junho de 2016, foram instalados piso podotátil, além de nova disposição de espaços, como o estacionamento em frente à biblioteca, que será transformado em área de convivência.

Segundo a arquiteta da Faculdade de Medicina da UFMG, Eneida Ricardo, é necessário aumentar as áreas permeáveis das três unidades e adapta-las a deficientes físicos e visuais. “Às vezes, as pessoas pensam que o piso podotátil é apenas para cegos, e não é verdade. É para qualquer pessoa que tenha dificuldade de enxergar” explica. “Uma das especificações da norma é a necessidade de contraste entre o piso tátil e o piso em si. Dentre as cores disponíveis; amarelo, vermelho, azul, cinza e preto; o azul foi escolhido por razão estética mesmo” conta.

Eneida explica, ainda, que o amarelo não daria contraste suficiente com o piso da Faculdade de Medicina. O preto pelo mesmo motivo, pois há partes do piso na entrada da Faculdade que já é dessa mesma cor.

Para o professor Galton, toda a Faculdade precisa ser pensada para a existência de um deficiente visual. “Então, ela vai facilitar a entrada e saída com recursos visuais ou táteis, o elevador vai ser adaptado para ter som, avisando o número dos andares” conta. “Se uma pessoa não enxerga, ela tem que ter acesso por outras vias. Ou por aumentar a imagem ou por ouvir. São muitas formas de adaptar, dependendo de cada atividade, mas é possível” garante o oftalmologista.

*Redação: Carol Prado– estagiária de jornalismo
Edição: Larissa Rodrigues