86% de teleoperadores apresentam algum sintoma vocal

Temperatura e ventilação inadequadas estão relacionadas com maior número de sintomas.


10 de agosto de 2018


Carol Prado*

 Estudo avaliou autopercepção da voz e sintomas vocais em 80 teleoperadores em Belo Horizonte. Temperatura e ventilação inadequadas estão relacionadas com maior número de sintomas.

Foto: Raíssa César

O trabalho da fonoaudióloga Nathália Franco Cunha Caldeira, defendido como mestrado no Programa de Pós-graduação em Ciência Fonoaudiológicas da UFMG, avaliou autopercepção da voz, sintomas vocais e condições ambientais de trabalho em teleoperadores, ou seja, profissionais de telemarketing. A pesquisa demonstrou que
86% dos teleoperadores apresentaram algum sintoma vocal, mesmo estando satisfeitos com a própria voz.

Dos participantes, 56% deles têm entre três e cinco sintomas. A maioria apresenta voz cansada e rouca ao final do dia. “Comparado a outros estudos, acreditamos que é um valor bem alto”, conta a pesquisadora. “Os aspectos mais frequentes relatados foram garganta seca, voz monótona e dor de garganta”, enumera.

Segundo Nathália, é preciso pensar na promoção da saúde desses trabalhadores. “Estamos pensando em questões do ambiente, para que esse não favoreça um adoecimento dos teleoperadores. O ideal é pensar em prevenção, para que não seja necessária uma reabilitação futuramente”, sugere a fonoaudióloga.

Nathália: ar condicionado e baixa umidade causam ressecamento do trato vocal e da mucosa. Foto: Carol Morena

Ambiente e sintomas vocais
A maioria dos teleoperadores afirmou que o ambiente de trabalho como um todo não é satisfatório. 80% reconheceu que é preciso elevar a voz para falar ao telefone. “Isso mostra que existe um ruído competitivo. O trabalho acontece em estações abertas, então tem ruído de colega, de ar condicionado, de outros telefones.Daí a necessidade de elevar a voz para que o cliente compreenda”, conta a fonoaudióloga. A maioria dos teleoperadores relatou como aspectos insatisfatórios em relação ao ambiente de trabalho a temperatura, o ruído e a poluição do ar.

De acordo com Nathália, a temperatura e a ventilação inadequadas estão relacionadas com alto número de sintomas vocais. “O ar-condicionado forte e desregulado pode causar ressecamento do trato vocal que leva a interferência no desempenho. A baixa umidade do ar também traz esse ressecamento de mucosa”, pontua.

A pesquisadora explica que esses fatores aumentam o número de sintomas vocais. O aumento desses sintomas pode levar a um cansaço vocal, consequentemente esforço vocal e possível desenvolvimento de lesões de pregas vocais, como nódulos.

Metodologia
Orientado pela professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFMG, Letícia Caldas Teixeira, o estudo contou com uma amostra de 80 teleoperadores de uma empresa Belo Horizontina, que respondeu a um questionário com quatro partes: a primeira relacionada a situação socioeconômica, a segunda sobre autopercepção da voz, a terceira sobre ambiente de trabalho e a quarta e última parte sobre sintomas vocais. Os dados foram coletados de setembro a dezembro de 2016.

“Utilizamos um questionário de referência, desenvolvido por Mara Behlau e colaboradores. Esse questionário trata de quatorze sintomas vocais. O tepeoperador tinha que sinalizar se ele apresenta ou não cada um desses sintomas” explicou Nathália. Entre os sintomas estão rouquidão, cansaço ao falar, instabilidade na voz, pigarro, entre outros.

O perfil dos teleoperadores é de mulheres entre 19 e 29 anos, formadas no ensino médio, mas que não estudam mais, e que recebem aproximadamente 46 ligações por dia de trabalho.

Autopercepção da voz, sintomas vocais e condições ambientais de trabalho de teleoperadores
Autor: Nathália Franco Cunha Caldeira
Nível: Mestrado
Programa: Ciências Fonoaudiológicas
Orientador: Letícia Caldas Teixeira
Data da defesa: 27 de abril de 2018

*Redação: Carol Prado – estudante de jornalismo
Edição: Marina Pires