Inteligência artificial pode ser ferramenta de auxílio na saúde coletiva, aponta pesquisa

Pesquisa que utiliza o ChatGPT como ferramenta de acesso à informações de saúde é uma das vencedoras de uma bolsa financiada pela Fundação Bill e Melinda Gates


07 de fevereiro de 2024 - , ,


Foto: CCS / Faculdade de Medicina da UFMG

Uma pesquisa realizada pelo doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Cirurgia e Oftalmologia, Henrique Lima e pela professora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, Vivian Resende, foi uma das vencedoras do Grand Challenges, uma iniciativa, que promove a inovação para resolução de problemas urgentes de saúde e desenvolvimento global, financiada pela Bill & Melinda Gates Foundation. O estudo em questão foi intitulado como “Large Language Models in Healthcare: an Assessment of Quality” (Grandes Modelos de Linguagem em Saúde: uma Avaliação da Qualidade). 

A Fundação Bill e Melinda Gates é uma instituição filantrópica criada por Bill Gates, fundador e ex-presidente da Microsoft, e a ex-esposa, Melinda Gates.

Se utilizada de forma justa e responsável, a inteligência artificial tem potencial para auxiliar na resolução de alguns dos maiores problemas do mundo, assim, reduzindo a desigualdade social. É o que propõe a pesquisa de Henrique. A ideia final é treinar uma inteligência artificial de forma que ela seja adaptada aos contextos de saúde de todo o mundo, até mesmo de países mais pobres e com condições mais vulneráveis.  

Pensando na dificuldade de acesso à medicina especializada em muitos casos, principalmente em países subdesenvolvidos, o intuito de Henrique é desenvolver uma ferramenta confiável para a avaliação da qualidade das respostas de grandes modelos de linguagem a perguntas comuns sobre condições de saúde materna.

“É uma oportunidade grande termos acesso a uma instituição com tamanha reputação e que se propõe a auxiliar no fomento de projetos com impacto mundial. Esse prêmio é um reconhecimento importante, que confirma que a nossa ideia é interessante e que estamos no caminho certo”, esclarece Henrique. 

Desta forma, torna-se mais fácil o aperfeiçoamento de inteligências artificiais para uso em assuntos específicos relacionados aos cuidados básicos de saúde. O objetivo é que o projeto seja desenvolvido nos idiomas mais falados no mundo, para a inclusão de todos, ou da maioria, dos países. Tendo como principais línguas o inglês, o português e o urdu. “Para que aumente a inclusão de países subdesenvolvidos nas recentes mudanças na forma com que o mundo interage com as informações”, aponta. 

O projeto é uma ferramenta estratégica para aproveitar o potencial da IA na melhora da qualidade de vida das mulheres, crianças e das comunidades vulneráveis que vivem em países de baixo e médio rendimento, garantindo que todos se beneficiem dos avanços na tecnologia. Além de Henrique e da professora Vivian Resende, o grupo de pesquisa é composto pelos professores Pedro Henrique Trocoli-Couto, Marcelo Mamede, Zilma Reis e Adriana Pagano; os paquistaneses, Zorays Moazzam e a professora Aliya Begum (The Aga Khan University), além do Prof. Timothy M. Pawlik (The Ohio State University) e outros especialistas estadunidenses. 

ChatGPT como recurso informativo em saúde

Pesquisador Henrique Lima – Foto: Arquivo Pessoal

Hoje em dia é comum que as pessoas busquem significados e respostas sobre sintomas e doenças na qual estão vivendo, e nem mesmo o ChatGPT escapou dessas necessidades, até porque se tornou uma plataforma muito popular entre os jovens/adultos. A ideia da pesquisa realizada por Henrique surgiu devido ao aumento da utilização de plataformas digitais para que os pacientes se informem mais e se eduquem em relação à medicina no geral. “Nós pensamos em como isso poderia ou não ter algum impacto na visão do paciente”, completa. 

De forma geral, a população ainda utilizará recursos para procurar sintomas, diagnósticos ou tratamentos online, e por isso, treinar uma IA própria para responder perguntas sobre saúde coletiva pode ser considerada uma opção mais viável. Além de informar, a plataforma ainda poderá de alguma forma, auxiliar o trabalho de equipes de saúde. Plataformas interativas de inteligência artificial, como o ChatGPT, têm o potencial de revolucionar a forma como as pessoas interagem com a Internet. Diferente de outros sites, o ChatGPT pode acessar informações on-line para gerar respostas a consultas complexas através da interface de um chat. 

“Eu acredito que nosso projeto contribui para sanar dúvidas ou aumentar a disponibilidade de informação para que o paciente tenha mais consciência da situação em que se encontra ou do que pode ser feito para ajudar no seu tratamento e autoconhecimento”, afirma Henrique. 

Além disso, para ele, caso haja melhora nas respostas o ChatGPT pode ser utilizado não apenas para o público leigo, como também para o público especializado. Assim, dependendo da evolução, os próprios médicos e especialistas podem consultar a plataforma de forma que os auxiliem na tomada de decisão a respeito de algum procedimento médico e aderência aos protocolos existentes. 

Contudo, ainda existe o risco de utilizar informações online para diagnósticos, principalmente quando falamos do público leigo (pacientes no geral), da mesma forma que uma boa resposta pode ajudar no tratamento de uma doença, uma resposta mal formulada, ou mal compreendida, pode ser prejudicial para o caso. Pensando por esse lado, a pesquisa se baseia em entender qual o nível de qualidade das respostas que estão sendo dadas pela plataforma em relação à saúde e melhorar o acesso à informação.