Projeto inicia censo para conhecer a saúde em Belo Horizonte

Pesquisadores vão aplicar questionário em oito mil residências de Belo Horizonte em estudo populacional específico pioneiro.


20 de novembro de 2014


Logo CENTRAL + Conhecer e CuidarCom o objetivo de avaliar a saúde da população de Belo Horizonte, o projeto “Conhecer e Cuidar”, no dia 24 de novembro, começará o seu estudo epidemiológico, também chamado de quantitativo. Para esta fase, a terceira do projeto, 110 pesquisadores irão aplicar um questionário em oito mil residências das nove regionais de Belo Horizonte. Este é o primeiro grande estudo populacional específico do município.

Com os resultados desta etapa, que terminará em 8 de dezembro, a equipe almeja construir indicadores para modelos de acompanhamento, avaliação da estrutura, desempenho, execução e resultados das redes de atenção a usuários de drogas e seus familiares na rede municipal. “Fugimos um pouco do foco no usuário, buscando todo o sistema de relação, tratamento e atenção. O objetivo específico desta etapa é estabelecer uma linha de base que seria entender o aspecto desta população dentro da sociedade em geral”, explica o professor da UFSJ Ricardo Alexandre, subcoordenador do projeto.

O coordenador do estudo e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Frederico Garcia, acrescenta que o objetivo também é tentar entender o universo dos usuários. “Estamos procurando dentro da população geral quem tem perfil semelhante, quem já teve problemas com drogas ou mesmo quem nunca teve envolvimento”, afirmou. “Desta forma iremos conhecer os que não são dependentes químicos e por que não são, ou aqueles que tiveram envolvimento e o porquê se envolveram ou deixaram a dependência”, completou. Outro aspecto desta pesquisa é o objetivo de avaliar o impacto do uso de drogas na família em termo da prevalência de doença mental, perda de renda e de qualidade de vida.

Pesquisa
Os nove grupos de pesquisadores, divididos no mesmo número de regionais de Belo Horizonte, já sairão para a ação com uma lista das casas que deverão visitar. Isso porque os domicílios participantes foram sorteados anteriormente, de forma aleatória, de acordo com o censo do IBGE e um indicador de saúde. Quando o morador atendê-lo, será feito uma identificação de todos com mais de 15 e menos de 65 anos, os quais serão sorteados para responder ao questionário. Caso o sorteado esteja na casa, a entrevista será feita na hora. Se não puder responder naquele momento, o pesquisador agendará outro horário.

Garcia lembra a importância de a população facilitar o acesso e responder as questões apresentadas. Os pesquisadores são identificados com boné, colete, bolsa e um crachá de identificação, e os processos são automatizados, com o uso do tablet, para evitar erro humano e permitir o acompanhamento em tempo real da informação.

Outras etapas
A primeira etapa do projeto foi o mapeamento, que consistiu na identificação de todas as instituições ligadas de alguma forma com os familiares e usuários de drogas, sejam elas privadas, filantrópicas ou públicas. Ao compreender como estas interagem entre si e estabelecem um fluxo de pacientes, as instituições e equipes foram quantificadas e qualificadas. Para isso, foi necessário fazer um levantamento prévio, busca ativa, aplicação dos questionários e a análise dos dados.

Já a segunda etapa, chamada de qualitativa, foi feita com os usuários, as famílias e profissionais envolvidos com o objetivo de investigar a autopercepção e compreender como se organizam os fluxos da rede formal e informal de cuidado. O professor Ricardo conta que o diferencial é que a coleta foi feita por meio de uma conversa informal para que a pessoa se sentisse livre e explorasse sua fala para contar mais sobre o seu problema com a droga.  Tudo foi gravado com a aprovação do Comitê de Ética. A fala será transcrita e depois analisada. No caso do usuário, foi preservado o anonimato.

Parceria
O projeto Conhecer e Cuidar é uma encomenda do programa municipal Recomeço, que visa construir respostas que proponham soluções interdisciplinares ao enfrentamento do uso de drogas. Para isso, procura atuar por meio de ações estruturantes, de tratamento, prevenção, reinserção social e de redução de danos, em consonância com a atual política sobre drogas.

Dessa forma, o Centro Regional de Referência em Drogas da UFMG (CRR-UFMG) desenvolveu o projeto de acordo com sua missão de melhorar a qualidade da prevenção e da assistência ao usuário de drogas e seus familiares  através da capacitação de recursos humanos, pesquisa e consultoria na construção de políticas sobre drogas.