Abuso de medicamentos: hábito que pode se tornar vício
Confira, neste Saúde com Ciência, explicações e opiniões de professores da Faculdade sobre o abuso dos principais tipos de medicamentos
10 de julho de 2015
Confira, neste Saúde com Ciência, explicações e opiniões de professores da Faculdade sobre o abuso dos principais tipos de medicamentos
A presença de medicamentos na rotina do ser humano é quase tão antiga quanto a sua própria existência. Ainda na pré-história, o homem já recorria à combinação de ervas para curar feridas e outras enfermidades. Esse conhecimento se desenvolveu com o avanço científico e tecnológico, de modo que hoje temos acesso a remédios cada vez mais eficazes para aliviar, tratar e curar doenças. Mas o uso de medicamentos, se feito de maneira indiscriminada, pode passar de solução para problema – de um hábito necessário para vício.
Segundo a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE), o consumo abusivo de medicamentos vendidos com prescrição médica tem aumentado em todo o mundo e já representa uma ameaça real para a saúde pública. Dentre esses medicamentos, estão os ansiolíticos, remédios tranquilizantes que atuam no sistema nervoso central. “Os ansiolíticos agem em vias bioquímicas dos neurônios, fazendo com que a sensação de ansiedade – que engloba mal estar, palpitação, sudorese, sensação de que algo ruim pode acontecer –, seja diminuída”, explica a psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina da UFMG, Tatiana Mourão.
Esses calmantes, os chamados benzodiazepínicos, que têm o Rivotril como um dos remédios mais consumidos no país, podem ser necessários para pacientes com transtornos de origem mental, como a Síndrome de Ansiedade Aguda. Mas eles não devem ser utilizados de forma contínua. “Os medicamentos ansiolíticos têm uma facilidade muito grande para induzir tolerância e dependência. Então seu uso deve ser feito somente em momentos agudos, em uma crise”, alerta a psiquiatra.
Além de tolerância e dependência, existem outros agravantes para o uso prolongado desses medicamentos. “O que caracteriza os benzodiazepínicos é a alteração na cognição. Cognição, de modo geral, representa as funções ligadas à nossa inteligência. E a memória também pode ser afetada”, observa.
O abuso de remédios não está restrito aos que exigem prescrição médica: alguns analgésicos, antialérgicos e antigripais também estão sendo consumidos indiscriminadamente, trazendo outros prejuízos. Um diagnóstico correto de determinado problema pode, portanto, ajudar a evitar esse abuso.
Entender a origem do problema
Para o neurologista Antônio Lúcio Teixeira, também professor da Faculdade, quando se fala em abuso de fármacos, é importante observar, em primeiro lugar, o medicamento que está sendo utilizado. “No caso específico dos analgésicos e antiinflamatórios, a questão tem a ver com a vivência crônica de dor. No caso dos benzodiazepínicos, o problema é de outra ordem, e assim por diante”, resume.
De acordo com Teixeira, é preciso entender, então, o que está por trás desse uso excessivo. Com frequência, existe uma condição clínica mal diagnosticada ou mal tratada como fator desencadeante, sendo necessária uma avaliação médica cuidadosa. “No caso do abuso de analgésicos, o que está levando o indivíduo a essa dor recorrente ou crônica; no caso dos benzodiazepínicos, o que está levando a ter insônia ou estresse excessivo. Entender que o abuso é, geralmente, um sintoma de que algo não vai bem. Logo, na medida do possível, deve-se buscar a origem do problema”.
Medidas para combater o abuso
Tatiana Mourão ainda destaca que dificuldades econômicas e situações de solidão, frustração e estresse, podem levar as pessoas a consumirem drogas lícitas ou ilícitas, que trazem um alívio imediato e passageiro. Por isso, a necessidade de medidas que proporcionem qualidade de vida aos cidadãos.
“Talvez, com mais qualidade de vida, vamos precisar de menos medicamentos e substâncias para aliviar o sofrimento. Entre essas possibilidades, a inserção dos idosos em atividades que promovam bem-estar e dos desempregados no mercado de trabalho, além da criação de espaços públicos de esporte e lazer”, exemplifica.
Para saber mais sobre as características dos principais tipos de remédio e assuntos ligados aos perigos desse abuso, como interação medicamentosa e superdosagem, não perca o próximo Saúde com Ciência, de 13 a 17 de julho.
Leia também: Prescrever ou não prescrever?
Sobre o programa de rádio
O Saúde com Ciência é produzido pela Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. De segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h, ouça o programa na rádio UFMG Educativa, 104,5 FM.
Ele também é veiculado em outras 121 emissoras de rádio, que estão inseridas nas macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.