Ambiente e fatores individuais influenciam caminhada de idosos

Renda, idade e participação social estão entre os fatores ambientais e individuais.


02 de abril de 2019


Políticas públicas devem ser pensadas considerando habitação e mobilidade para melhor qualidade de vida da população.

Renda, idade e participação social estão entre os fatores ambientais e individuais.
Participação social na comunidade onde os idosos residem se mostrou importante para a prática de caminha utilitária. Foto: Carol Morena.

Uma pesquisa realizada com 834 idosos de Belo Horizonte apontou que a prevalência da caminhada utilitária entre idosos é influenciada por características individuais e sociais do ambiente em que se inserem. O trabalho é da cientista socioambiental e pesquisadora do Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte (OsuBH), Viviane Bicalho Duffles Teixeira, que explica que a caminhada utilitária é o deslocamento a pé que o indivíduo faz no seu dia a dia, com o intuito de realizar atividades diárias como ir ao trabalho, fazer comprar e visitar alguém. 

Segundo a autora, a renda, a idade e a auto avaliação da saúde foram os principais fatores individuais associados à prática da caminhada utilitária entre os idosos. “O estudo demonstra que o indivíduo que tem a menor renda caminha mais, assim como o idoso mais novo tende a caminhar mais que o mais velho. A auto avaliação da saúde também teve muita influência: aqueles com uma percepção mais positiva da sua saúde caminhavam mais”, relata.

Os fatores do ambiente mais associados à prevalência da caminhada utilitária entre idosos apontados no estudo foram a participação social e a mobilidade. “A participação social na comunidade onde residem se mostrou muito importante. No entanto, a sua prática é ainda pouco frequente, precisando ser incentivada”, pontua.

A cientista socioambiental ressalta que o estudo demonstra a necessidade de políticas públicas que vão desde redistribuição de renda até políticas urbanas que guiem o planejamento das cidades. “É preciso pensar as cidades de modo mais amplo, avaliando questões de habitação e de mobilidade, para incentivar a caminhada utilitária”, afirma.

O trabalho foi defendido como dissertação no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG, e orientado pela professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social, Waleska Teixeira Caiaffa.

Benefícios

A pesquisadora aponta que a caminhada utilitária pode ser considerada uma forma de exercício físico e, por isso, trás muitos benefícios para a saúde. “Ao fazer a caminhada utilitária, a pessoa tem todos os benefícios da prática de uma atividade física, que incluem o fortalecimento da musculatura e a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis”, argumenta.

Viviane relata que a temática da caminhada utilitária entre idosos é muito pouco abordada na literatura científica, com lacunas que precisam ser respondidas. “O envelhecimento populacional é uma tendência mundial e temos vivido isto no Brasil também. Por isso, precisamos analisar como o ambiente pode estar influenciando os hábitos de comportamento das pessoas, principalmente, os dos idosos. Essa é uma das nossas principais discussões e tema de investigação dentro do OsuBH”, conta.

A pesquisadora enfatiza a importância de estudos sobre idosos para a população: “Uma pesquisa sobre idosos é também sobre nós que, mesmo jovens, estamos no processo do envelhecimento. O ato de caminhar do idoso é um ato de resistência, porque é o idoso de renda baixa que apesar dos pesares caminha. Eles que estão usufruindo do espaço urbano, que deve ser democrático”, conclui.

Autora do estudo,
Viviane Bicalho Duffles Teixeira. Foto: Carol Morena.


Metodologia

O estudo tem como base de dados o inquérito domiciliar o “Estudo Saúde em Beagá”, realizado entre 2008 e 2009. A coleta de dados foi obtida por pesquisadores do OSUBH que visitaram domicílios escolhidos através de sorteio e entrevistaram os moradores. No inquérito, foram analisados fatores como altura, peso, circunferência de cintura, entre outros. Os participantes responderam, ainda, sobre a frequência das caminhadas utilitárias no dia a dia.

A variável da prática da caminhada utilitária foi, então, investigada através da regressão de Poisson, que busca associar essa prática com fatores individuais, como idade, auto avaliação da saúde, renda e condições de moradia, e sociais do ambiente, como aspectos da mobilidade da vizinhança, qualidade do transporte público, a existência de iluminação pública, oferta de comércio e questões da estética do local, como presença de pichações e lotes vagos.

Serviço
Tema: Caminhada utilitária de idosos urbanos: fatores individuais e do ambiente físico e social
Nível: Mestrado
Autora: Viviane Bicalho Duffles Teixeira
Orientadora: Waleska Teixeira Caiaffa
Co orientadora: Amanda Cristina de Souza Andrade
Programa: Pós-graduação em Saúde Pública
Defesa: 23 de fevereiro de 2018