Casos de febre amarela tendem a diminuir no país

Segundo especialista, após ser notificado o maior surto da doença em dez anos, diminuição do número de casos é uma tendência


09 de março de 2017


Segundo especialista, após ser notificado o maior surto da doença em dez anos, diminuição do número de casos é uma tendência

Os primeiros registros da febre amarela no Brasil datam do século XVII e, desde então, ela se fixou majoritariamente em áreas silvestres do nosso território. Nessas áreas, quem transmite o vírus da doença são os mosquitos Haemagogus e Sabethes, enquanto nos ambientes urbanos, onde o último caso foi registrado em 1942, o vetor é o popular Aedes aegypti. Apesar das campanhas de prevenção, que contribuíram para a erradicação da febre amarela nos centros urbanos, o ano de 2017 começou com os maiores índices da doença nos últimos dez anos.

Até o último dia 6, o boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde (MS) revela que o surto, que teve início em dezembro de 2016, acometeu 371 brasileiros, com 127 óbitos. Minas Gerais lidera no número de casos: até a data citada, foram 288 confirmados e 105 óbitos.

Assim como foi debatido no programa de sexta-feira da série “Febre Amarela”, produzida pelo Saúde com Ciência, a tendência é que o surto atual, que acomete, principalmente, regiões de Minas e Espírito Santo, seja estabilizado. O infectologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Greco, fala sobre as principais causas deste surto:

 

O mês de janeiro deste ano apresentou o maior número de casos da doença: foram 298, sendo 235 em Minas. Já na primeira metade de fevereiro foram confirmados, até o último boletim, 37 casos, sendo 19 no estado. Dirceu Greco reafirma que há uma tendência de estabilização no número de pacientes, com a consequente diminuição da enfermidade:

 

População vacinada: surto controlado. Foto: Carol Morena

Essa possível estabilização e diminuição da quantidade de pessoas infectadas pela febre amarela estão relacionadas à disponibilidade da prevenção vacinal nos postos de saúde e à mobilização da população na busca pela vacina. Como veiculado no programa de quarta, o MS aumentou a distribuição das doses da vacina para ajudar no combate ao surto da doença.

O último boletim também informa que foram enviadas quase 15 milhões de doses aos estados mais afetados. As grandes filas nos postos de saúde comprovam que a procura pela prevenção ainda é alta, se estendendo, inclusive, às regiões do país onde não há registros da febre amarela silvestre:

 

Saneamento básico

O surto de febre amarela também pode servir de alerta para outros problemas sociais que acometem a população brasileira. Apesar da não imunização ser apontada como a principal causa do surto, a questão esbarra nas dificuldades ao acesso à saúde vivenciadas pelas comunidades rurais. Além disso, a falta de saneamento básico favorece a proliferação de mosquitos e a permanência de outras doenças, como a esquistossomose e a diarreia.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/2014), somente 5,45% dos domicílios rurais brasileiros estão ligados à rede de coleta de esgotos. O infectologista chama a atenção para as consequências da falta de saneamento, lembrando os riscos oferecidos por outras doenças:

 

Morte de macacos

Diferentemente de doenças como a dengue e a febre chikungunya, a febre amarela não tem como hospedeiro principal os seres humanos. O vírus da infecção é mais comum em animais silvestres, especialmente os macacos. O contato do homem com as regiões rurais, habitat dessas espécies, é um dos fatores que favorece a manifestação da doença em seres humanos, por isso a morte de macacos na região metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, preocupa as autoridades em saúde.

O virologista e professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Flávio Guimarães, comenta os principais pontos que envolvem o óbito de macacos na Grande BH:

 

Até o momento, foram confirmadas duas mortes de primatas não-humanos pela doença na região metropolitana da capital mineira. O alerta causado pelos óbitos também preocupa os moradores de regiões com grandes populações de macacos. O medo acaba por despertar, ainda, a aversão aos animais. O professor ressalta a importância desses primatas como forma de aviso para os surtos de febre amarela:

 

Como disse Guimarães, eliminar o macaco hospedeiro não vai resolver o problema da febre amarela. A imunização é, portanto, a melhor forma de evitar a infecção. Todos os adultos saudáveis e crianças acima de nove meses devem ser imunizados. No caso dos adultos, é necessária uma dose da vacina por toda a vida. Os pacientes com alguma imunossupressão, os que têm doenças graves e as pessoas acima de 65 anos devem procurar o médico antes de serem vacinados.

Aspas Sonoras

As “Aspas Sonoras”, produção do Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG, ampliam a discussão sobre os temas abordados nas séries de rádio realizadas pelo Saúde com Ciência. As matérias apresentam áudios e textos inéditos do material apurado na produção das séries.

A série Febre Amarela foi ao ar entre os dias 20 e 24 de fevereiro de 2017. Nela, foram tratados assuntos como os principais fatores envolvendo o maior surto da doença nos últimos anos, orientações sobre a vacinação, ação dos vetores e a possibilidade de ressurgimento da infecção nos centros urbanos.