Crianças reproduzem violência que presenciam em casa

Estudo propõe treinamento de pais para pôr fim ao problema


15 de outubro de 2015


Estudo propõe treinamento de pais para pôr fim ao problema

A chamada “Lei da palmada”, aprovada no Congresso Nacional em 2014, proíbe pais de aplicar castigos que causem sofrimento físico, humilhações ou ameaças à criança ou ao adolescente. A medida, que visa promover a resolução dos problemas através do diálogo, quer mudar dados como do Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), de 2013, o qual mostra que 80% da violência à criança acontecem em casa.

Também com o objetivo de diminuir práticas de violência entre pais e filhos, a autora de uma dissertação defendida junto ao Programa de Pós – Graduação em Promoção da Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina da UFMG, Sandra das Dores Souza, propõe o Treinamento de Pais. Esse treinamento, que utiliza técnicas de modificação comportamentais, foi realizado numa escola estadual no Barreiro, em Belo Horizonte. A atividade contou com a participação de dez pais de alunos indicados pela instituição. Através de encontros semanais, os pais discutiram e refletiram sobre a maneira como lidavam com o mau comportamento dos filhos e foram estimulados a mudar suas práticas educativas, muito ligadas à imagem pessoal e ao modo como foram criados.

Instrumento de diminuição da violência

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Foto: Reprodução/Internet

Para as crianças, os adultos são modelos de comportamento, principalmente os pais ou responsáveis legais. Quando há o uso da violência na sua educação, elas aprendem e usarão com os filhos, criando um ciclo intergeracional desse comportamento. Segundo estudo da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), por exemplo, 70% dos jovens que praticam bullying nas escolas sofreram algum tipo de castigo físico na infância.

“Para muitos pais, educar sem comportamentos violentos pode se tornar uma tarefa complexa e difícil, principalmente para aqueles que trazem consigo uma experiência de educação violenta e têm que enfrentar problemas de comportamento de seus filhos”, explica Sandra.

De acordo com a pesquisadora, os pais participantes do Treinamento no Barreiro acreditavam que o mau comportamento dos filhos não estava ligado ao modo a como eles eram repreendidos ou educados. Durante as reuniões, as discussões abordaram o comportamento violento na relação entre pais e filhos, o limite entre a rigidez e a negociação das regras, o diálogo e castigos e punições. “Por meio da troca de experiências e conselhos compartilhados entre os participantes, eles ficaram mais conscientes das consequências de suas atitudes”, comenta a psicóloga. Segundo ela, os pais perceberam que deviam melhorar seus comportamentos para, então, serem capazes de mudar o comportamento dos filhos.

Pontos como maior aproximação e convívio também resultaram no melhor comportamento das crianças. “O passo mais comentado pelos participantes foi o que propôs usar algum tempo para brincarem com filhos”, afirma a autora. Alguns adultos relataram que após as atividades passaram a valorizar as qualidades dos jovens. “Quando eles fazem isso, ao invés de somente apontar os erros, as relações melhoram muito”, diz.

Para Sandra, se o programa fosse desenvolvido no Sistema Único de Saúde (SUS) e nas escolas poderia contribuir muito para melhoria das relações em casa e, consequentemente, nas instituições de ensino. “Quando não há violência no lar, a criança não a reproduz”, conclui.

 

Título:  O treinamento de pais pode contribuir para a prevenção da violência?
Nível: Mestrado
Autora: Sandra das Dores Souza
Orientadora: Elza Machado de Melo
Coorientadora: Márcia Cristina Alves
Programa: Promoção da Saúde e Prevenção da Violência
Defesa: 2 de agosto de 2013