Cuidado com os idosos exige a adaptação do mundo

Estudo traça perfil dos idosos vítimas de quedas e acidentes de trânsito no Brasil


09 de junho de 2016


Estudo traça perfil dos idosos vítimas de quedas e acidentes de trânsito no Brasil

Foto: Portal Guardiões de Vida

Foto: Portal Guardiões de Vida

Diminuição da massa corporal, da força, da velocidade e da capacidade de realizar atividades da vida diária é comum com o avanço da idade. Relacionados a essas questões, estão as quedas e acidentes de trânsito. Segundo dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), mais de 25 mil óbitos de idosos aconteceram por causas externas em 2012, sendo 26,3% delas em decorrências de acidentes de trânsito e 30,5% por quedas.

Mas quem são os idosos envolvidos nesses tipos de ocorrências? Visando traçar um perfil dessas vítimas, um estudo foi desenvolvido junto ao programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG. “Para implementarmos políticas públicas eficazes, precisamos conhecer aqueles que estão sujeitos a quedas e  acidentes de trânsito”, justifica a farmacêutica, tecnologista do Ministério da Saúde e autora da pesquisa, Mariana Gonçalves de Freitas.

Seu estudo avaliou 2463 idosos, dos quais 79,8% haviam sofrido quedas e 20,2% foram vítimas de acidentes do trânsito. A base usada foi o inquérito de 2011 do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva), conduzido em serviços de urgência e emergência do SUS, nas capitais do Brasil e no Distrito Federal.

Perfil das vítimas de quedas

Com idade média de 73 anos, em 74,1% dos casos de quedas os idosos caíram em casa, da mobília ou da própria altura. “Situações como ausência de barra no banheiro, presença de tapetes e de degraus na casa são propícias a esses acidentes”, exemplifica Mariana.

A autora afirma que, quando comparados com crianças e adultos, esses eventos são muito mais comuns entre os idosos. Do número total, 62,6% eram mulheres e apenas 12,1% tinha alguma deficiência, sendo as mais comuns a visual e a física.

No caso daqueles entre 60 e 69 anos, quedas em vias públicas também apresentaram proporções elevadas. “Em relação às consequências destes acidentes, as lesões mais comuns foram contusões (26,9%) e fraturas (22%)”, cita Mariana.

Perfil das vítimas de acidentes de trânsito

Nas ocorrências de trânsito, 62,3% dos idosos se envolveram em acidentes como passageiros ou motoristas, o que chamou a atenção da autora. “Inicialmente, esperávamos que os pedestres fossem a maior parcela das vítimas de acidentes de trânsito envolvendo idosos. Mas esses só representam 37,8% do total”, esclarece. Para ela, isso acontece porque os idosos estão cada vez mais ativos. Atualmente, eles representam 4,5% do mercado de trabalho, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A análise de cluster (aglomerado) dos acidentes de trânsito permitiu formar dois grupos. Um era com indivíduos mais jovens e ativos, condutores ou passageiros de veículos. O outro grupo era de indivíduos com idade mais avançada, média de 70,5 anos, que sofreram mais eventos como pedestres e tiveram consequências mais severas. “O atropelamento é a principal causa de morte para idosos em acidentes de trânsito. Isso porque eles têm menos reflexo, agilidade e força, devido à fragilidade associada ao envelhecimento”, lembra a autora.

O papel da Saúde no bem-estar do idoso

Foto: Pixabay

Foto: Pixabay

Para Mariana Freitas, o caminho de cuidado dos idosos começa na adaptação dos ambientes em que eles se encontram. Isso inclui tanto suas casas, para garantia da segurança, quanto as ruas. “No trânsito, por exemplo, os idosos estão vulneráveis por causa de sua dificuldade de locomoção. Assim, o sistema de tráfego precisa se adaptar a eles, como aumentar o tempo de travessia nos semáforos e instalação de canteiros centrais”, diz.

No Brasil, existe a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa que aborda da promoção do envelhecimento ativo e saudável à educação permanente dos profissionais de saúde do SUS para atendimento a essa população. A pesquisadora, porém, relata que é preciso avançar .

“O atendimento em saúde do idoso deve ser integral e contemplar uma avaliação mais profunda do estado de saúde”, acentua. “Isso através da avaliação da capacidade cognitiva e da incapacidade funcional, que podem representar quadros de maior fragilidade e vulnerabilidade aos acidentes”, completa. Além disso, Mariana defende que deve ser investigada a ocorrência de quedas, de modo que possam ser adotadas medidas preventivas precocemente.

Em continuidade, ela explica que quando um idoso cai, pode desenvolver certo receio dessas ocorrências, mantendo-se menos ativo. Isso o expõe a um novo acidente e, então, é preciso adotar medidas de prevenção. “A Saúde em conjuntos com demais setores pode instruir a instalação de barras de proteção nas casas e buscar desenvolver a capacidade cognitiva e da musculatura desse indivíduo”, exemplifica.

Mariana ressalta que seu estudo é o primeiro passo para pensar ações específicas a cada grupo encontrado. “Mesmo que acidentes de trânsito pareçam, por vezes, mais prejudiciais, as quedas também merecem atenção”, aponta. “A proporção de ocorrência de fratura, traumatismo, cortes e luxações foram semelhantes nos dois grupos de acidentes”, conclui.

 

Título: “Idosos atendidos em serviços de urgência e emergência no Brasil: um estudo para vítimas de quedas e de acidentes de trânsito”

Nível: Mestrado

Autora: Mariana Gonçalves de Freitas

Orientadora: Carla Jorge Machado

Coorientadora: Palmira de Fátima Bonolo

Programa: Pós-Graduação em Saúde Pública

Defesa: 19 de maio de 2015