Pesquisa revela impacto da duração do sono na função cognitiva em adultos
Dormir muito ou pouco pode afetar o desempenho da função cognitiva, segundo dados
16 de julho de 2024 - desempenho cognitivo, insônia, sono

Foto: CCS/Faculdade de Medicina da UFMG
A insônia é caracterizada pela dificuldade de iniciar o sono e mantê-lo de forma contínua durante a noite, ou pelo despertar muito antes do horário desejado. A condição pode estar relacionada a diversos fatores, como de aspectos genéticos, transtornos do humor, problemas emocionais, estresse entre outros.
Uma pesquisa realizada pela doutora em Saúde Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Tamiris Amanda Rezende, sob a orientação da professora Sandhi Maria Barreto, revela dados importantes sobre a relação entre distúrbios do sono e o desempenho cognitivo.
Os achados indicaram que tanto a curta duração do sono (menos de seis horas) quanto a longa duração (mais de oito horas) estão associadas a pior desempenho cognitivo em adultos. Essa relação não é linear, mas sim curvilínea, com o melhor desempenho cognitivo observado em participantes que dormiam cerca de sete horas por noite, não havendo diferença significativa em relação ao sexo. Portanto, os participantes que dormiram menos ou mais que sete horas apresentaram um desempenho inferior nas habilidades cognitivas, como memória, fluência verbal, funcionamento executivo, além do funcionamento cognitivo global.
“Este padrão foi consistente tanto para adultos de meia-idade (55-59 anos) quanto para adultos mais velhos (60-79 anos), embora os participantes mais velhos tenham apresentado pontuações cognitivas ligeiramente menores” destaca a pesquisadora.
A relação entre sintomas de insônia e desempenho cognitivo também foi explorada utilizando modelos de regressão linear. Os participantes que relataram dificuldade para iniciar ou manter o sono, ou acordar muito antes do horário programado, apresentaram pior desempenho cognitivo. A insônia impactou significativamente os resultados, independentemente da duração do sono ou da presença de cansaço durante o dia.
De acordo com a pesquisadora, os distúrbios do sono devem ser tratados como fatores potencialmente modificáveis para prevenir o declínio cognitivo e demências a longo prazo. Indicando que intervenções que promovam a qualidade do sono, especialmente a partir da meia-idade, podem melhorar a saúde cognitiva e a qualidade de vida dos indivíduos, trazendo benefícios para a saúde pública.

Atualmente, Tamiris faz parte da equipe de supervisores do ELSA Brasil, o que a motivou a aprofundar seus estudos sobre o tema. Interessada em cognição e envelhecimento, ela considera essa questão extremamente relevante para a sociedade.
“É um assunto de grande relevância não apenas para a comunidade científica, mas também para a população em geral, que convive diariamente com questões relacionadas ao envelhecimento” explica Tamiris.
O Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto – ELSA Brasil – é uma investigação multicêntrica de coorte que abrange servidores públicos de seis instituições públicas de ensino superior e pesquisa nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil.
A pesquisa baseou-se em uma análise transversal dos dados da linha dois do ELSA Brasil, coletados entre 2014 e 2017, com participantes entre 55 e 79 anos. O objetivo foi investigar a relação entre distúrbios do sono (duração do sono, dificuldade de iniciar ou manter o sono, sintomas de insônia) e o desempenho cognitivo em testes específicos.
Elsa Brasil
Participam do Elsa seis centros de pesquisa, do Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil, além da UFMG: as universidades federais da Bahia (UFBA), do Espírito Santo (Ufes) e do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade de São Paulo (USP) e a Fiocruz, no Rio de Janeiro. Criado em 2008, o projeto já teve quatro ondas (fases) de pesquisa.
São cerca de 13 mil voluntários atualmente, todos servidores públicos dos estados participantes. O Elsa-Brasil produz diretrizes para o SUS relacionadas à alimentação, hipertensão, diabetes, doenças renais e da tireoide. A pesquisa explora fatores como local de moradia, ambiente de trabalho e alimentação, combinando marcadores bioquímicos e anatômicos com variáveis psicossociais.
Pesquisa: Duração do sono, insônia e função cognitiva: performance e declínio em quatro anos de seguimento na coorte ELSA-Brasil
Programa: Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública
Autora: Tamiris Amanda Rezende
Orientadora: Sandhi Maria Barreto
Data de defesa: 20 de junho de 2024
Leia também: