Dia da Ciência encanta público de todas as idades

A PrEP foi um dos temas do evento, realizado neste sábado


08 de julho de 2019 - , ,


Equipe do Espaço do Conhecimento levou um tapete astronômico, no qual os participantes simularam a movimentação dos planetas. Foto: Espaço do Conhecimento UFMG

“Nossa, parece uma lâmpada”.“Imagina se explode tudo?”.“Se soprar, fica maior?”. Essa foi a reação de um grupo curioso de crianças entre cinco e dez anos que assistia atenta a uma apresentação sobre vidros feita por pesquisadores do Departamento de Química da UFMG, uma das cerca de 80 atividades que integraram a programação do Dia da Ciência, celebrado neste sábado, 6 de julho, no Centro de Referência da Juventude, na região central de Belo Horizonte. Durante a atividade, as crianças aprenderam, bem de perto, que, com imaginação e técnica, o vidro pode ser transformado em qualquer coisa, como foi demonstrando o expositor, passo a passo.

O Dia da Ciência foi marcado pela diversidade do público e das atividades. A contadora Vanda Dalfiore levou os filhos Rafael, de cinco anos, e Gabriel, de nove. “Apesar de eu não ser da área, acho importante trazer as crianças para conhecer um pouco mais do universo da ciência. Elas ficaram bem interessadas”. Prova disso é que, enquanto a mãe dava entrevista, Rafael e Gabriel já saem correndo com o pai em busca da próxima atração. Querem ver os robôs, os insetos, e o que mais for possível.

Uma das atrações que mais chamaram a atenção do público foi o espaço destinado à matemática. O Museu da Matemática, o Programa de Educação Tutorial (PET) da Matemática e o projeto Visitas levaram ao Centro de Referência da Juventude jogos, desafios e labirintos que despertaram o interesse de crianças e adultos. 

“Aqui eles podem ver que a matemática não é nenhum bicho de sete cabeças, você pode usar a lógica para se divertir”, explica o estudante Matheus Henrique Mendes Pereira, do sexto período. Matheus conta que participar de um evento como esse é também um aprendizado para ele: “Para nós, que somos estudantes, é uma experiência extracurricular, que nos tira da bolha acadêmica. É muito importante ter contato com esse público externo”.

Ela está em tudo

“Coitado do meu avô, ele tem um sítio assim”, afirmou uma criança ao ver uma maquete cheia de barbeiros e descobrir que eles transmitem doenças. Enquanto isso, outra criança se interessa por um caramujo que está em um aquário de vidro e se assusta quando descobre que o “bichinho” está vivo. Os dois casos podem parecer preocupações inocentes de crianças, mas são um exemplo de como a educação científica é importante e deve começar cedo. 

Afinal, conhecer os transmissores de doenças, como se reproduzem e como contaminam os seres humanos é importante para prevenir doenças como o mal de Chagas e a esquistossomose. Para a mestranda da Fiocruz Amanda Domingues de Araújo, apresentações como essa são uma “questão de educação sanitária”. Por isso, foi com entusiasmo e disposição que ela tirou várias dúvidas do público sobre vermes, doenças e ciclos de transmissão. 

Uma das participantes mais interessadas era a médica Jaisa Santana. Ela fez várias perguntas aos monitores e afirma que o Dia da Ciência contribuiu para sua formação dos pontos de vista pessoal e profissional: “Vi palestras sobre trânsito, política, beleza… Gostei principalmente da parte de parasitas. Nunca tinha visto esses seres ao vivo e não sabia muita coisa sobre o assunto. Aqui aprendi sobre profilaxia, formas de contágio”, disse.

Outro projeto que marcou presença no Dia da Ciência foi o Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (Prep). Uma sala foi instalada no Centro de Referência da Juventude para oferecer informação, exames, atendimento médico e psicossocial para a população jovem com foco na prevenção e controle da Aids. 

O professor da Faculdade de Medicina da UFMG Unaí Tupinambás destaca que o projeto é voltado para um grupo da população que normalmente é invisível para o SUS: “São jovens, de 15 a 19 anos, homossexuais e trans que geralmente não têm acolhida adequada no Sistema Único de Saúde e não frequentam a unidade básica de saúde pelos mais diversos motivos. Nessa parcela da população, a prevalência da doença tem crescido 8% ao ano”, informou.

Ao alcance de todos

“Estou bastante satisfeito. Gostei de ver a diversidade do público, muitas famílias, jovens em grupos de amigos, pessoas de todas as faixas etárias”, avaliou o diretor de Divulgação Científica da UFMG, professor Yurij Castelfranchi. “Ao sair da nossa zona de conforto, dos lugares tradicionais da universidade, a nossa visibilidade muda e nosso alcance aumenta nos diversos grupos sociais. Tivemos aqui oficinas de robótica, blocos de percussão, quadrinhos, poemas… É uma série de atividades que mostra que a ciência tem tudo a ver com a gente”.

Ele afirma, no entanto, que a UFMG ainda irá analisar os dados de um questionário distribuído aos participantes para avaliar melhor a percepção do público sobre o evento. “No ano passado, a satisfação foi altíssima. Todo mundo adorou o Dia da Ciência. Por isso, neste ano, o evento foi ainda maior”, afirma. 

Castelfranchi acrescenta: “É importante destacar que a divulgação científica é também um ato político. Ao mostrar o que a gente faz, ao mostrar o nosso entusiasmo, e o quanto a ciência tem a ver com a sociedade, nós mostramos a relevância da pesquisa neste momento em que as universidades e a escola pública são criticadas. É um mensagem também para mostrar que o recurso da ciência não pode ser cortado”.

O presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, também fez uma avaliação positiva do Dia da Ciência  “A UFMG e as demais instituições mineiras trouxeram muita coisa interessante para o público. Muitos jovens participaram. Cada vez mais, temos que promover eventos como esse. Nosso momento político, econômico e social é muito difícil. Nesse contexto, valorizar a ciência e a universidade pública tem um impacto muito importante para o país e também individualmente, para a carreira dos jovens”, defendeu Moreira.

Ildeu Moreira acrescentou que as universidades e demais instituições de pesquisa precisam do apoio público da população. “Um país  que quer ser soberano tem de apostar na ciência e na tecnologia. A China já teve um PIB do tamanho do Brasil e agora compete com os Estados Unidos pelo primeiro lugar porque apostou em educação e ciência. O Brasil está ficando para trás. Cortar recursos neste momento é um tiro no pé, uma catástrofe anunciada”.

O Dia da Ciência já foi realizado em Salvador, na Bahia, no dia 2 de julho, e tem atividades marcadas para este domingo em outras cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Natal. Em agosto, as entidades científicas e as universidades farão um ato no Congresso Nacional para sensibilizar os parlamentares sobre a importância dos investimentos públicos na pesquisa brasileira.

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(Paula Alkmim / Centro de Comunicação da UFMG)