Dia da Visibilidade Trans: Projeto PrEP coloca lupa sobre as dificuldades da população Trans

Em uma sociedade que só tem olhos para quem se enquadra no padrão heteronomartivo cisgênero estabelecido, as minorias continuam invisíveis. Especialmente neste período de pandemia, ser “diferente” pode significar até mesmo uma sentença fatal. Mesmo com os avanços conquistados nos últimos anos, no Dia da Visibilidade Trans há pouco a se comemorar. Com pouca inserção em instituições de ensino, no mercado formal de trabalho e acesso aos serviços de saúde, a população Trans continua relegada do seu direito de existir.

Amparo essencial

Nesse cenário de rejeição social e violência contra esse segmento, cuja expectativa de vida é de apenas 35 anos, projetos e inciativas que acolham e possibilitem a construção de oportunidades são essenciais. É para uma dessas ações, a PrEP 15-19, que em seu papel de educadora par, Patrícia Hafarrany atua recrutando participantes.

O projeto avalia o uso da Profilaxia Pré-exposição ao HIV (PrEP) como parte da chamada prevenção combinada entre jovens de 15 a 19 anos, que se identificam como gays, homens que transam com homens, mulheres trans e travestis. Mas, para além do campo da pesquisa, a PrEP 15-19 também se constitui em espaço de acolhimento, escuta e apoio psicossocial para esses jovens.

Em Belo Horizonte, as atividades ocorrem principalmente no Centro de Referência da Juventude (CRJ), em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte. É lá que se encontra boa parte da equipe multidisciplinar e onde os jovens encontram ambiente favorável para discutirem questões como uso de PrEP e outras estratégias de prevenção ao HIV/Aids e outras IST, vivências da sexualidade, mudanças biológicas e psicossociais próprias da adolescência, autoestima e saúde emocional.

Impacto negativo

Especialmente neste período de pandemia, esse acompanhamento psicossocial se torna indispensável para muitos desses jovens, que, sem opção, passaram a conviver por mais tempo no mesmo ambiente com familiares que os rejeitam e desrespeitam sua identidade de gênero, intensificando esse sofrimento mental, como explica Ana Paula Silva, psicóloga da PrEP 15-19 Minas.

Para se ter uma dimensão desse impacto na saúde mental, dados preliminares de inquérito sobre a saúde da população LGBTQI, realizado neste período de pandemia pela Faculdade de Medicina da UFMG em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostram que houve relatos de diagnóstico de depressão em 25% dos participantes do estudo. Na população em geral, esse quadro afeta em torno de 10% dos adultos.

Por isso, a atenção ao acolhimento realizado pelo projeto foi redobrada neste momento. De acordo com Ana Paula, quando surgem sintomas relacionados a saúde mental e demandas referentes a sexualidade, violência, discriminação e violação de direitos ocorridas – surgidas ou intensificadas – durante o período de quarentena/isolamento social, elas são encaminhadas de imediato aos profissionais da equipe psicossocial para acompanhamento e possíveis encaminhamentos, caso necessário.

O projeto PrEP 15-19 é estudo multicêntrico nacional realizado pela UFMG, USP e UFBA e com financiamento da OMS/Unitaid e Ministério da Saúde. A pesquisa avalia o uso da PrEP através do uso diário de dois antirretrovirais associados em um único comprimido (tenofovir+emtricitabina).

Serviços de Saúde

Além da dificuldade de inserção em escolas e rejeição social, muitas vezes, dentro do próprio lar, esses adolescentes têm dificuldade de acessar unidades de saúde por receio de discriminação e preconceito.

Dados do mesmo inquérito de saúde da população LGBTQI revelam que 36% dos participantes do estudo relatam episódios semanais de discriminação neste período de pandemia, sendo que 11% ocorreram dentro de serviços de saúde ou por profissionais de saúde.

Por isso, a especialista reforça a importante de persistir nas reivindicações por políticas públicas inclusivas que legitimem as identidades trans, minimizem as iniquidades e garantam direitos.

Esclarecendo conceitos: A identidade de gênero se refere ao gênero com o qual uma pessoa se identifica e se expressa no mundo. Ela  pode ser compatível ou não o gênero que foi atribuído no nascimento, definido pelo sexo biológico. Importante saber que esse conceito não se relaciona a orientação sexual  – que é a vivência da sexualidade da pessoa (ex: heterossexual, homossexual, bissexual, pansexual ou assexual).

A PrEP

A PrEP é um acréscimo a mais de prevenção ao HIV e não substitui o uso de camisinha, pois não previne contra a transmissão das demais ISTs. Os jovens que se apresentarem para o estudo podem escolher usar ou não a profilaxia pré-exposição.

Independentemente da opção, todos têm acesso à apoio psicossocial, informação adequada, camisinha, lubrificante, aconselhamento, teste para diagnóstico de HIV (feito no local ou com o autoteste) e a outras ISTs, tratamento ou encaminhamento para serviço especializado, além da vacinação contra as hepatites A e B.

Interessados podem entrar em contato pelo o whatsapp do projeto (31) 9 9726-9307 ou instragram @nodeumatch. A assistência virtual Amanda Selfie também pode ajudar! É só chamá-la para conversar pelo site (Prep1519.org), Facebook (@amandaselfie.bot).

Com assessoria de comunicação da PrEP 15-19 Minas.

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