Estudo relaciona atividade física no lazer com características do ambiente

Pesquisa analisa ainda intervenção comunitária de promoção da saúde.


04 de abril de 2018


A prática de atividade física no lazer e sua relação com o ambiente e a avaliação de uma intervenção comunitária de promoção da saúde, são analisadas em pesquisa

Jayne Ribeiro*

 

Uma pesquisa realizada com 4.048 moradores de dois distritos sanitários de Belo Horizonte apontou que características físicas e sociais do ambiente influenciam na prática de atividade física de lazer. A pesquisa também avaliou o efeito de uma intervenção comunitária, o Programa Academias da Cidade, sobre os níveis de atividade física da população geral residente no entorno de onde a iniciativa estava inserida. O trabalho é da pesquisadora do Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte da Faculdade de Medicina da UFMG (Osubh), Amanda Cristina de Souza Andrade, defendido como tese no programa de Pós Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG.

“Na prática, a adoção de um estilo de vida ativo não depende de uma escolha individual”, relata a pesquisadora. Para ela, não basta o indivíduo querer praticar atividade física, é necessário que tenha meios para fazer a atividade, o que implica na disponibilidade de recursos e infraestrutura do local de moradia. “A disponibilidade de locais para a prática de atividade física, como as condições das calçadas, presença de pista de caminhada, equipamentos públicos de esporte e lazer e itens de segurança próximos à residência contribuem para que as pessoas sejam fisicamente ativas”, exemplifica Amanda.

Amanda Cristina: “Para promover a prática de atividade física, é necessário olhar para o ambiente”. Foto: Reprodução – Danielle Gláucia/ Sou BH

A pesquisadora destaca ainda a importância de programas comunitários de promoção de atividade física. “A presença de um equipamento público é capaz de modificar os níveis de atividade física da população geral e não apenas das pessoas inscritas no programa”, relata. Segundo ela, a instalação desse equipamento modifica o espaço físico e social. “Um exemplo disso é aumento do fluxo de pessoas nestes locais. Por isso, até as pessoas que não estão inscritas no Programa são influenciadas”, argumenta a pesquisadora.

Amanda ressalta que o estudo demonstra uma maior chance de praticar atividade por indivíduos não usuários do programa que residem a menos de 500 metros de um polo do Programa em funcionamento, em comparação a aqueles que moram a distância maior que 500 metros. Além disso, ela afirma que indicadores de mobilidade e segurança contribuem para o aumento dos níveis de atividades físicas de lazer, na população geral. “Para promover a prática de atividade física é necessário olhar para o ambiente, seja o ambiente construído ou social”, conclui a pesquisadora.

Metodologia
Os dados da tese foram obtidos do inquérito domiciliar “Saúde em Beagá” realizado pelo Osubh entre 2008 e 2009, que teve como objetivo avaliar a implementação do Programa Academias da Cidade e caracterizar o perfil dos moradores dos distritos sanitários Oeste e Barreiro, em Belo Horizonte.

Os entrevistados responderam a perguntas sobre características sociodemográficas, de saúde, hábitos e comportamentos e os determinantes sociais da saúde. “A partir dos dados foi possível mensurar o nível de atividade no lazer e os atributos percebidos do ambiente físico e social”, conta a pesquisadora.

Quanto à escolha das regiões de investigação do inquérito, Amanda explica que se baseou na presença do Programa Academias da Cidade. “Quando o estudo foi realizado um polo estava em funcionamento e dois polos com construções previstas. Isso permitiu criar uma linha de base para a avaliação do programa e possibilitou ter grupos de comparação, um grupo exposto ao Programa e dois grupos não expostos à intervenção”, destaca.

No estudo da tese, o ambiente também foi medido pelo método da observação social sistemática (OSS), que consiste na observação direta dos atributos do ambiente por observadores treinados. Foram quantificados a existência e estado de conservação de calçadas, a presença de iluminação pública e aspectos sociais como presença de lixo, pichações e equipamentos de segurança. As mensurações foram realizadas nos segmentos de ruas dos domicílios dos entrevistados do inquérito.

Academias da Cidade
A pesquisadora conta que o Programa é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Saúde em parceria com o Ministério da Saúde, como estratégia de enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis. Desde 2011 passou a ser um modelo de intervenção em nível federal, chamado de Programa Academias da Saúde. “São espaços públicos construídos ou compartilhados, com infraestrutura e profissionais qualificados, nos quais são oferecidas aulas de caminhada, alongamento e ginástica. Os encontros acontecem três vezes por semana, uma hora por dia”, explica.

De acordo com a pesquisadora, o Programa em Belo Horizonte é implementado em locais de vulnerabilidade social, estratégia para atingir a população que não tem acesso. “As pessoas que fazem atividades físicas são homens, jovens e com maior escolaridade, com melhor nível socioeconômico”, argumenta. “O Programa tem como objetivo garantir acesso a mulheres, idosos, pessoas com menor escolaridade e renda”, continua.

Atividade física e medidas subjetivas e objetivas do ambiente em adultos residentes em um centro urbano: Estudos Saúde em Beagá e Observação Social Sistemática
Nível: Doutorado
Autora: Amanda Cristina de Souza Andrade
Orientadora: Waleska Teixeira Caiaffa
Co-orientadora: Sueli Aparecida Mingoti
Programa: Pós-graduação em Saúde Pública
Defesa: 9 de agosto de 2017

Redação: Jayne Ribero – estagiária de jornalismo
Edição: Mariana Pires