Estudo relaciona hipoxemia em pacientes com doença falciforme


28 de agosto de 2014


*atualizada Às 11h50 de 1º de setembro de 2014

Distúrbio na concentração de oxigênio no sangue pode ser considerado fator de risco para enfermidades e mortalidade de crianças e adolescentes com a doença

fotoRebecaUm grupo de 71 crianças e adolescentes de Belo Horizonte com a forma grave da doença falciforme participou de uma avaliação da função respiratória nasal e pulmonar para estudo da hematologista Ana Karine Vieira, da Fundação Hemominas.

Os resultados mostraram saturação de oxigênio abaixo do normal (hipoxemia) em 52,9% e dessaturação em 42,95% das crianças e adolescentes avaliadas. A pesquisadora afirma que esses dados são preocupantes e diferentes dos divulgados na literatura internacional. “A hipoxemia no estado basal na doença falciforme vem ganhando importância nos últimos anos, sendo identificada como fator de risco para o acidente vascular cerebral e associada à hipertensão pulmonar”, explica.

O achado de dessaturação durante caminhada em cerca de metade dos pacientes também chamou a atenção. “Isso pode servir de base para orientação quanto à realização de atividade física e encaminhamento para rastreamento da hipertensão pulmonar, que é uma complicação grave da doença falciforme”, disse Karine. Além disso, a hematologista também encontrou elevada prevalência de distúrbios ventilatórios como a asma, por exemplo.

Os dados foram apresentados em sua dissertação de mestrado, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação de Saúde da Criança e Adolescente da Faculdade de Medicina da UFMG. Ana Karine também é tutora do projeto “Doença Falciforme: linha de cuidados na atenção primária à saúde”, do Centro de Educação e Apoio para Hemoglobinopatias (Cehmob-MG)

A médica trabalha com esses pacientes vindos do programa de Triagem Neonatal há 12 anos e sentia necessidade de entender mais sobre os problemas respiratórios que acometem a doença falciforme. “Precisamos conhecer a realidade dos pacientes com doença falciforme no Brasil, pois sabemos que essa doença tem uma grande variabilidade entre as diversas regiões”, ressalta.

Outras descobertas
Para o estudo transversal a hematologista realizou a oximetria de pulso, método que mede a porcentagem de hemoglobina saturada pelo oxigênio, e provas de função respiratória. Um dos testes foi a caminhada de seis minutos. Segundo Ana Karine, este é um método simples que reflete bem a atividade física realizada no cotidiano. “Ele avalia a resposta do indivíduo ao exercício físico e propicia uma análise global dos sistemas cardíaco, respiratório e metabólico”, afirmou.

Outro ponto interessante do estudo foi a descoberta de que usuários do medicamento hidroxiureia tinham cinco vezes mais chances de ter saturação de oxigênio normal. Ou seja, o remédio também auxilia os pacientes com doença falciforme influenciando positivamente sobre a hipoxemia.

Consequências
O reconhecimento dos distúrbios ventilatórios é necessário para uma abordagem precoce do problema. “Sabemos que a asma tem uma influência negativa sobre o curso clínico da doença falciforme, além de aumentar a mortalidade. A identificação de outros distúrbios pode ser um sinal precoce de desenvolvimento da doença pulmonar crônica, complicação temida na doença falciforme”, relata a hematologista.

Ana ressalta que os achados deste estudo reforçam a necessidade de um olhar atento pra a hipoxemia e alterações pulmonares desde a infância dos pacientes com doença falciforme. Mas ainda existe a necessidade de ampliar o estudo com um número maior de avaliados para esclarecer dúvidas ainda existentes. “Ainda há necessidade de se correlacionar os achados da dessaturação durante o teste de caminhada com dados do ecocardiograma e entender melhor a influência da hipoxemia sobre a morbidade da doença falciforme”, conclui.

 

Título: Avaliação da função pulmonar, da saturação basal de oxigênio e pico de fluxo inspiratório em crianças e adolescentes com doença falciforme em Belo Horizonte

Nível: Mestrado

Autora: Ana Karine Vieira

Orientador: Cássio da Cunha Ibiapina

Coorientadora: Cristina Gonçalves Alvim

Programa: Saúde da Criança e do Adolescente

Defesa: 25 de julho de 2014